SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Incêndios florestais no Chile já causaram a morte de ao menos 122 pessoas, informou o Ministério do Interior do país nesta segunda-feira (5). Antes, no domingo, o presidente Gabriel Boric, que já havia decretado estado de emergência devido à situação, disse que o número de vítimas continuaria a “crescer significativamente”.
“Estamos diante de uma tragédia de grande magnitude”, afirmou o líder em pronunciamento transmitido pela TV. “É a maior tragédia que tivemos desde o terremoto de 2010”, acrescentou, referindo-se ao sismo de magnitude 8,8 seguido de um tsunami que, ocorrido em fevereiro daquele ano, deixou mais de 500 mortos.
Segundo relatório da Corporação Nacional Florestal (Conaf), os incêndios consumiram 290,3 quilômetros quadrados até a manhã desta segunda, o que representa 19% da área do município de São Paulo. A região (equivalente a estado) de Valparaíso era a mais atingida, com 35% dos focos ativos.
O fogo assola o entorno das turísticas Valparaíso e Viña del Mar, no centro do país, desde a sexta-feira (2), assim como áreas no sul do território. Nos últimos três anos, o país sul-americano tem passado por catástrofes semelhantes durante o verão. Ao mesmo tempo, os incêndios desta semana já são considerados o fenômeno mais letal a acometer a nação na última década.
Há centenas de desaparecidos, e a cifra de óbitos aumenta enquanto os bombeiros se esforçam para controlar as chamas. Além das perdas humanas, estima-se que entre 3.000 e 6.000 residências tenham sido afetadas.
Não há registro de brasileiros entre as vítimas até o momento. O Consulado do Brasil em Santiago não recebeu, por ora, solicitações de assistência.
“Aqui não restou uma única casa”, lamentou a aposentada Lilián Rojas, 67. Ela vivia perto do Jardim Botânico de Viña del Mar, que desapareceu completamente, segundo ela contou à agência AFP entre os escombros e cinzas do bairro.
Rojas afirmou que as chamas engoliram casas em questão de minutos na sexta. Após ver um foco distante de fumaça, ela foi brevemente para o quarto assistir à televisão e, quando saiu para olhar a rua, as pessoas já estavam correndo, contou ela.
A ajudante de cozinha Rosana Avendaño, 63, estava fora de casa quando o fogo começou a devastar El Olivar, outro bairro de Viña del Mar, onde ela mora com o marido e o animal de estimação.
“Foi terrível porque eu não conseguia chegar [em casa]. O fogo veio, perdemos tudo. Meu marido estava deitado e começou a sentir o calor do incêndio que se aproximava e saiu correndo”, relatou.
Em toda a região, conhecida por suas praias turísticas e produção vitivinícola, participam da contenção do fogo e do resgate da população 17 brigadas de bombeiros e 1.300 soldados e voluntários civis.
Desde a última quarta-feira (31), as temperaturas se aproximam dos 40°C na zona central do Chile, onde fica a capital, Santiago. O Ministério dos Transportes decidiu na sexta (2) bloquear totalmente o trânsito devido à visibilidade reduzida pela fumaça na Rota 68, que vai de Santiago a Valparaíso.
O maior incêndio ocorre na Reserva Lago Peñuelas, próxima à principal rodovia que dá acesso à região, segundo a Conaf. O segundo incêndio mais amplo ocorre em La Aguada, na região de O’Higgins, também no centro do país.
Considerando toda a temporada do verão, 521 quilômetros quadrados (34% do município de São Paulo) tinham sido queimados no Chile até a manhã desta segunda. O número ainda está distante do registrado no ano passado, quando cerca de 4.000 quilômetros quadrados foram destruídos, mas as chamas se espalham de forma mais rápida neste ano.
Em dezembro de 2022, Valparaíso sofreu com fortes incêndios florestais, que costumam ser intencionais, segundo relatórios oficiais. O fogo também se espalha rapidamente devido a construções em áreas não autorizadas.
A prefeita de Viña del Mar, Macarena Ripamonti, disse ter ficado surpresa com a magnitude dos incêndios deste ano. “Estamos diante de uma catástrofe sem precedentes, uma situação dessa envergadura nunca tinha acontecido na região”, observou.
Uma onda de calor tem assolado a América do Sul, onde o El Niño é agravado pelo aquecimento global provocado pela atividade humana, segundo especialistas. Os alertas de alta temperatura estão em vigor também nesta semana em áreas da Argentina, Uruguai, Paraguai e Brasil.
Redação / Folhapress