Morre Sebastián Piñera, ex-presidente do Chile, em acidente de helicóptero

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Presidente do Chile por dois mandatos (2010-2014 e 2018-2022), Sebastián Piñera morreu nesta terça-feira (6), aos 74 anos, em um acidente de helicóptero na comuna de Lago Ranco, região de Los Ríos, no centro-sul do Chile.

Quatro pessoas viajavam na aeronave, que caiu minutos depois da decolagem. O presidente foi a única vítima fatal, já que os outros três passageiros conseguiram sair do veículo e chegar até a margem do lago. Foram ao local bombeiros, a polícia, o Serviço de Atendimento Médico de Urgências e as Forças Armadas. A aeronave estaria submersa a 40 metros de profundidade, de acordo com o jornal La Tercera.

O ex-presidente voltava de um almoço da casa do empresário José Cox, onde, segundo o jornal, estão os sobreviventes. “Agradecemos as enormes expressões de carinho e preocupação que recebemos durante essas horas amargas”, afirmou o escritório do empresário ao confirmar sua morte.

Após o acidente, que foi registrado perto das 15h, a procuradoria regional de Los Ríos confirmou a abertura de uma investigação para investigar as circunstâncias da queda do veículo. Ainda não se sabe por que Piñera não saiu da aeronave como os outros passageiros —alguns relatos na imprensa dizem que o ex-presidente não teria conseguido soltar o cinto e teria ficado preso na aeronave, enquanto outros mencionam um possível infarto.

Durante a tarde, a ministra de Interior e Segurança Pública, Carolina Tohá, confirmou a morte e afirmou que o atual presidente, Gabriel Boric, “determinou que se realize, como corresponde, um funeral de Estado e que se declare luto nacional”.

“Queremos expressar nossa comoção por essa tragédia, enviar o nosso abraço solidário à família do ex-presidente e a todos que são próximos a ele, mas também a todas as chilenas e chilenos”, afirmou ela. “Ele nos governou e será lembrado pela maneira como dedicou a sua vida ao serviço público.”

Piñera assumiu o governo chileno pela primeira vez em 11 de março de 2010, poucos dias depois de um terremoto que matou mais de 500 pessoas e foi o mais intenso do país desde 1960. Agora, morre em meio a outra tragédia, a pior desde o tremor de 14 anos atrás: os incêndios que assolam a região de Valparaíso e já deixaram mais de 130 vítimas.

Empresário bilionário, Piñera foi eleito pela última vez tanto com o apoio da extrema direita (como o pinochetista José Antonio Kast) como de desiludidos da centro-esquerda e teve como principal desafio encontrar um caminho ao centro para promover a conciliação entre ambos grupos.

No primeiro mandato, representou a coalizão de centro-direita Aliança pelo Chile. O pleito marcou o fim de um ciclo de 20 anos de poder da Concertação —coalizão de centro-esquerda que governou o país desde o fim da ditadura do general Augusto Pinochet (1973-1990). A vitória de Piñera à época representou o primeiro triunfo da direita em uma eleição presidencial no país desde 1958.

Nessa primeira passagem pela Presidência, o Chile passou por um rápido crescimento econômico e uma queda acentuada no desemprego. Naquele momento, muitos dos parceiros comerciais e países vizinhos enfrentavam um crescimento acentuadamente mais lento.

Já a sua segunda presidência foi marcada por protestos violentos contra a desigualdade que levaram a acusações de violações dos direitos humanos e terminaram com a promessa do governo de redigir uma nova constituição —contexto que abriu as portas para o esquerdista Gabriel Boric, atual presidente do Chile, chegar ao poder.

Piñera fez fortuna nos anos 80 como pioneiro dos cartões de crédito no Chile. Votou contra a ditadura no plebiscito de 1988 e foi eleito o senador mais jovem do país em 1990.

Criticado pela esquerda por ter o apoio de setores que sustentaram a ditadura militar, Piñera se moveu ao centro na eleição de 2010, acenando com propostas liberais como a união civil homossexual e a entrega gratuita da pílula do dia seguinte. Em seu primeiro mandato, referiu-se aos apoiadores da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990) como “cúmplices passivos”.

Antes de ocupar a Presidência, o nome de Piñera passou a aparecer mais no noticiário brasileiro por sua ligação com a empresa aérea chilena LAN, da qual era o principal acionista. Em 2010, a LAN se fundiu com a brasileira TAM, formando a Latam.

A mesma tragédia ocorrida com Piñera matou o fundador da TAM, Rolim Adolfo Amaro, conhecido como comandante Rolim. Em 8 de julho de 2001, o helicóptero em que estava Rolim, 58, caiu perto de Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia na fronteira com o Brasil.

O presidente Lula (PT) lamentou nas redes sociais a morte do político. “Surpreso e triste com a morte de Sebastián Piñera, ex-presidente do Chile. Convivemos, trabalhamos pelo fortalecimento da relação dos nossos países e sempre tivemos um bom diálogo, quando ambos éramos presidentes, e também quando não éramos. Muito triste seu falecimento de forma tão abrupta. Meus sentimentos aos seus familiares e amigos de Piñera por essa perda”, afirmou Lula no X.

A Presidência da Argentina também emitiu um comunicado oficial. “O gabinete do presidente lamenta o trágico falecimento de Sebastián Piñera”, afirmou em nota. “Em nome do Estado argentino, enviamos condolências a seus familiares, amigos e a todo o povo chileno.”

A Câmara dos Deputados da Argentina chegou a fazer um minuto de silêncio enquanto discutia o pacote de reformas liberais de Milei chamado de “lei ônibus” no plenário, depois que um dos parlamentares anunciou a morte de Piñera ao microfone.

O uruguaio Luis Lacalle Pou disse conhecê-lo há vários anos. “Sempre teve uma atitude positiva em relação ao Uruguai e pessoalmente. Como prova, basta nomear seu apoio com a logística oferecida para a chegada das vacinas durante a pandemia. Aos chilenos e à sua família, meus pêsames. Descanse em paz”, escreveu.

Redação / Folhapress

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