Marxismo nos EUA ameaça pessoas bem-sucedidas e não contrato gente burra, diz bilionário no BTG

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “Eu e meus sócios, alguns deles que vieram de lugares realmente oprimidos, como o Irã pós-revolução, estamos em risco”, disse o investidor americano Bill Ackman em evento do BTG nesta terça-feira (6).

Ele está preocupado com “ideologias marxistas assumindo posições de dominância nos Estados Unidos”. O investidor se formou em Harvard, é um grande doador da universidade e crítico do posicionamento de anti-Israel de estudantes.

Judeu, ele culpa as políticas afirmativas, chamadas nos Estados Unidos de iniciativas DEI (diversidade, equidade e inclusão), pela militância de universitários americanos, vista por alguns como antissemitismo, e por outros como liberdade de expressão.

Nos últimos anos, ele destinou à instituição de ensino cerca de US$ 50 milhões —o que corresponderia a entre 1% e 2% da fortuna de Ackman, avaliada entre US$ 2,5 bilhões (R$ 12,4 bilhões) e US$ 4,5 bilhões (R$ 22,4 bilhões).

Ackman não ameaçou interromper suas doações a Harvard. Disse, porém, ter conhecimento de contribuições de até US$ 1 bilhão (R$ 4,9 bilhões) retidas em função de atos de antissemitismo desde o começo da guerra.

Ele, que ficou bilionário apostando contra grandes empresas, furou a bolha do mercado financeiro após pressionar pela renúncia de Claudine Gay, primeira reitora negra da história de Harvard.

“Começou a se disseminar nas universidades uma noção de que se alguém é negro, mulher ou LGBT, essa pessoa é automaticamente oprimida”, disse Ackman. Isso, segundo ele, ocasionaria noções muito rígidas de certo e errado, nocivas à liberdade de expressão e típicas de concepções socialistas de mundo.

“Como o Estado de Israel é bem-sucedido, se torna opressor, por essa lógica”, diz o investidor.

As declarações foram dadas em resposta ao presidente do banco BTG, André Esteves, que questionou o que motiva “a verdadeira cruzada de Ackman em favor da liberdade de expressão e contra o antissemitismo”.

“Como podem culpar as vítimas de terrorismo por serem opressores?”, questionou Ackman, ao responder a Esteves, em referência aos ataques do Hamas, de 7 de outubro.

O banqueiro brasileiro parabenizou Ackman pela coragem de se posicionar.

Dono do fundo multimercados Pershing Square Holdings, que administra cerca de US$ 18 bilhões (R$ 89,4 bilhões) em investimentos, Ackman ficou conhecido ao redor do globo pela atuação do que se chama no exterior de ativista investidor —alguém que aposta contra grandes empresas que também acusa na esfera pública.

A holding de Ackman é uma espécie de butique, em que todos são sócios. O time tem 40 pessoas com oito especialistas de investimento.

Na conversa com Esteves, o investidor americano afirmou que trabalha apenas com “pessoas de boa índole”, que também têm de ser competentes. “Não contratamos gente burra.”

Segundo o último relatório divulgado pela Pershing Square Holdings relativo ao primeiro semestre de 2023, Portfólio da empresa de Ackman inclui participações na holding dona do Google, Alphabet (2,9% em junho de 2023), da gigante da música Universal (2,1%) e na cadeia de restaurantes Chipotle Mexican Grill (7%).

Os maiores retornos da empresa entre janeiro de 2023 e agosto foram com a Alphabet (43,9%) e com a Chipotle Mexican Gril (33,2%).

“Todos os gestores de carteira querem se tornar um Bill Ackman”, disse Esteves, que afirmou ter conhecido o investidor americano em Nova York em 2023.

No começo dos anos 2010, Ackman ganhou projeção ao acusar a fabricante de suplementos alimentares Herbalife de promover um esquema de pirâmide.

Na ocasião, ele também investiu contra a empresa na bolsa e ganhou dinheiro a curto prazo depois de lucrar com a queda de ações após denúncias de suposto esquema de pirâmide —nunca comprovadas.

Depois, porém, perdeu dinheiro quando o outro bilionário Carl Icahn dobrou a aposta na integridade do negócio que continua de pé, com seus chás e shakes dietéticos.

A atuação de Ackman, no geral, é lembrada por compras na baixa de ações de grandes empresas.

Nas entrevistas mais recentes, Ackman tem apostado contra a economia americana, o que reiterou na visita a São Paulo.

O investidor avalia que as taxas de juros mantidas entre 5,25% e 5,5% pelo Federal Reserve (Fed, o banco central americano) já causam graves danos a economia dos Estados Unidos. Sinal disso seriam as recentes demissões em grandes empresas de tecnologia.

O gestor de fundo também criticou os “gastos descontrolados” das últimas gestões americanas de Joe Biden e Donald Trump, atualmente os favoritos a concorrer pela presidência em novembro deste ano.

“Eles não se preocupam com os impactos da irresponsabilidade fiscal porque não estarão vivos para ver as consequências”, disse. Trump tem 77 anos, e Biden, 81.

Para Ackman, o chefe-executivo do banco JPMorgan Chase Jamie Dimon seria um bom presidente e teria os recursos para financiar a própria campanha. “Os riscos de uma campanha presidencial, entretanto, são muito altos, tem de ser muito patriota”, ponderou.

PEDRO S. TEIXEIRA / Folhapress

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