RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Neste domingo (11), começam, na Sapucaí, os desfiles das escolas de samba do grupo especial do Rio de Janeiro. A primeira noite será aberta a partir das 22h e, das 6 escolas que irão desfilar, 3 terão enredos baseados em obras literárias. A mitologia yanomami, lendas portuguesas e o carnaval de Maceió também terão espaço na avenida.
Acompanhe tudo sobre o Carnaval pelo Brasil Primeira da programação, a Porto da Pedra vai apresentar o enredo “Lunário Perpétuo: A Profética do Saber Popular”, do carnavalesco Mauro Quintaes.
A escola de São Gonçalo, região metropolitana do Rio, está de volta ao grupo especial após 12 anos. O desfile contará a história do almanaque que prometia decifrar desde a previsão do tempo até o comportamento dos insetos.
Escrito na Espanha no século 14, o almanaque foi o livro mais lido por dois séculos anos no Brasil, de acordo com Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), autor do “Dicionário do Folclore Brasileiro” (1954).
“Então, por 200 anos, o Lunário Perpétuo educou, orientou, alfabetizou, direcionou os agricultores do Nordeste brasileiro. O nosso enredo começa lá na Europa medieval e toma esse corpo de brasilidade a partir da chegada do Lunário ao Brasil”, disse Quintaes.
O Tigre de São Gonçalo, como é conhecida a escola, vai para a avenida com 22 alas, 6 alegorias e 1 tripé. Ao todo, serão 2.800 componentes. A rainha de bateria é a modelo Tati Minerato.
HISTÓRIA DE MACEIÓ
A Beija-Flor de Nilópolis, que tem 14 títulos, será a segunda a desfilar. Sua última vitória foi em 2018. Para acabar com o jejum, a azul-e-branco aposta no enredo “Um Delírio de Carnaval na Maceió de Rás Gonguila”.
Segundo a pesquisa para o enredo, Benedito dos Santos nasceu em Maceió, no início do século 20, e passou a se chamar, mais tarde, Rás Gonguila, dizendo ser descendente direto do último imperador da Etiópia. Ele fundou o bloco Cavaleiro dos Montes.
A escola promete resgatar a estética suntuosa que lhe rendeu o bicampeonato em 2007 e 2008 (com “Áfricas” e “Macapaba”), o tricampeonato de 2003, 2004 e 2005, além do título de 2015 (sobre a Guiné Equatorial). Serão 32 alas e 6 alegorias. Neguinho da Beija-Flor, 74, é o intérprete do samba.
YANOMAMIS E TUPINAMBÁS
O Salgueiro, terceira escola a entrar na Sapucaí neste domingo, após ficar em sétimo lugar no ano passado, tenta alcançar o título com um tema atual: o povo yanomami, que enfrentou nos últimos anos uma grave crise de saúde em seu território, na amazônia.
A escola contará o enredo “Hutukara”, desenvolvido pelo carnavalesco Edson Pereira. Será abordada a mitologia yanomami, em defesa dos povos originários e da floresta amazônica.
A vermelho-e-branco desfilará com 6 alegorias, 1 tripé, 1 elemento cenográfico na comissão de frente, e terá 26 alas. A rainha de bateria é a atriz Viviane Araújo.
Em seguida, a Acadêmicos do Grande Rio retorna com o talento da dupla de carnavalescos Gabriel Haddad e Leonardo Bora. Os dois estrearam na escola em 2020 e abocanharam, na ocasião, o vice-campeonato; em 2022, foram os vencedores.
A escola está com o enredo “Nosso Destino É Ser Onça”, inspirado no livro “Meu Destino É Ser Onça” (Ed. Record, 2009), de Alberto Mussa, que aborda a criação do mundo pelo mito tupinambá.
Os carnavalescos propõem uma reflexão sobre a simbologia da onça na cultura brasileira. Com a atriz Paolla Oliveira como rainha de bateria, serão cerca de 3.200 componentes, com 5 carros alegóricos e 3 tripés ao longo do desfile.
PORTUGAL E CIGANA ESMERALDA
Com o experiente carnavalesco Alexandre Louzada, que tem seis títulos no carnaval do Rio e outro em São Paulo, a Unidos da Tijuca será a penúltima escola a desfilar. A melhor colocação nos últimos anos foi em 2016, quando ganhou o vice-campeonato. Desde então, não desfila entre as campeãs.
Para a vitória, a aposta é o enredo “O Conto de Fados”, com a proposta de uma viagem a Portugal por meio de fábulas e lendas. Serão 5 alegorias, 1 tripé e 28 alas. A cantora Lexa vem como rainha de bateria.
A atual campeã, Imperatriz Leopoldinense, segue com o carnavalesco Leandro Vieira, que, nos últimos quatro carnavais, comemorou títulos. Ele fez história na Mangueira, produzindo seis carnavais, e vai para o seu terceiro desfile na Imperatriz (contando 2020, no grupo de acesso).
No ano passado, venceu narrando o pós-morte de Lampião, baseado em uma história de cordel. Agora, Vieira aposta no enredo “Com a Sorte Virada para a Lua, Segundo o Testamento da Cigana Esmeralda”, também apoiado em um cordel, de Leandro Gomes de Barros (1865-1918), considerado como o primeiro escritor brasileiro desse gênero literário, com cerca de 240 obras.
BRUNA FANTTI / Folhapress