BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – A confiança no BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) é menor no Sudeste e maior no Centro-Oeste, mostra pesquisa Datafolha. Obras financiadas no exterior seguem alvo de críticas.
De acordo com o levantamento encomendado pela instituição, 73% dos entrevistados afirmam confiar no banco. O índice chega a 89% no Centro-Oeste, ante 67% no Sudeste.
A pesquisa para mensurar a imagem do banco foi feita entre 30 de novembro e 15 de dezembro de 2023. Foram ouvidas 2.020 pessoas. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
De acordo com a instituição, a confiança no Centro-Oeste é atribuída às atividades ligadas ao agronegócio.
O setor é o segundo que mais recebeu recursos do banco de janeiro a setembro de 2023, com R$ 18,2 bilhões -atrás apenas de infraestrutura (R$ 29 bilhões).
O BNDES realiza anualmente levantamento para avaliar a imagem perante a população. A confiança vem crescendo. Não houve sondagens em 2016, durante a crise do governo Dilma Rousseff (PT), e 2021, na pandemia da Covid-19.
Em 2017, na gestão Michel Temer (MDB), 42% dos brasileiros diziam confiar no banco. Em 2022, último ano do governo Jair Bolsonaro (PL), o índice chegou a 66%.
Embora os números tenham evoluído, o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, diz que a nova alta se deve à “reconstrução” pelo governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) do banco, que, segundo ele, foi atacado na gestão Bolsonaro. O ex-presidente afirmava que a instituição era uma “caixa-preta”.
Essas acusações de caixa-preta, que não tinham nenhum fundamento, nós respondemos hoje com o projeto aquário, quer dizer, a instituição mais transparente. E a transparência é muito importante na administração pública porque permite à imprensa, aos cidadãos, aos interessados, acompanharem, checarem, perguntarem”, diz Mercadante.
Ele cita a retomada do papel na formulação de políticas de desenvolvimento como ponto a ser considerado na melhora da avaliação do banco.
“Essa pesquisa é altamente positiva porque todos os indicadores analisados historicamente tiveram uma melhora sensível em aspectos relevantes. Eu acho que se deve ao trabalho que foi feito ao resgate e fortalecimento do BNDES”, afirma.
Em janeiro, o governo anunciou a sua nova política industrial, batizada de Nova Indústria Brasil. Estão previstos até 2026 R$ 300 bilhões para o setor industrial. A maior parte virá de financiamentos do BNDES.
A visão de um BNDES mais forte, no entanto, recebe críticas de economistas com visão liberal. Há quem afirme que a proposta recicla ideias antigas de gestões petistas.
“O argumento que a gente já está ouvindo é que os valores dos subsídios [do banco] são baixos, mas políticas equivocadas começaram de pouquinho, e depois engordaram”, afirmou o pesquisador associado do Insper e colunista da Folha Marcos Mendes, em reportagem sobre esse “novo papel” do banco.
“É nítido que já estão inchando o BNDES, e há risco de a gente entrar no ‘recordar é viver’ de políticas públicas que deram errado”, disse a economista Cristina Schmidt, consultora e professora da FGV (Fundação Getulio Vargas), na mesma reportagem.
A pesquisa Datafolha mostra que, espontaneamente, sem a apresentação de alternativas, 95% dos entrevistados apresentaram aspectos positivos relacionados ao BNDES.
Foram citados o desenvolvimento empresarial, desenvolvimento e financiamento para aumentar e melhorar a infraestrutura do país, e a contribuição para a geração de emprego.
Entre os pontos negativos, citados por 58% dos entrevistados, aparecem o fato de o BNDES ter financiado obras de empresas brasileiras que atuam no exterior, o que ocorreu durante as gestões petistas passadas em países como Cuba e Venezuela. Chamada exportação de serviços, o item foi citado por 15%.
Esse tipo de crédito está suspenso desde 2016, quando grandes construtoras do país beneficiadas pela linha passaram a ser investigadas na Operação Lava Jato.
Apesar das críticas, o governo Lula 3 pretende retomar essas ações. O Executivo encaminhou em novembro do ano passado um projeto de lei para autorizar o BNDES a retomar os financiamentos de empresas brasileiras no exterior.
Mercadante afirma que houve no passado uma crítica “desequilibrada” a essa atividade do BNDES.
No entanto, acrescenta que o novo projeto de lei foi elaborado seguindo orientações do TCU (Tribunal de Contas da União) e na linha de práticas internacionais.
“O que é a coisa da fake news, do processo que enfrentamos hoje sobretudo nas redes sociais. A carteira de exportação de serviços do banco nunca foi mais de 2% e nunca financiou empresas no exterior ou países. Nós financiamos empresas brasileiras que vendem produtos ou que exportam serviços”, afirma.
Mercadante acrescenta que o FGE (Fundo Garantir da Exportação) nunca recebeu recursos públicos, sendo autofinanciado pela própria exportação. Afirma que os problemas no passado foram “pontuais”.
Outros pontos negativos mencionados são supostas práticas de corrupção e o fato de o BNDES ser controlado pelo governo e sofrer influência política.
A pesquisa Datafolha também questiona dos entrevistados a sua percepção sobre o conceito de desenvolvimento sustentável, uma das principais frentes e apostas do banco.
Os dados, no entanto, mostram que diminuiu em relação ao ano passado o percentual de pessoas que considera esse tema muito relevante, passando de 72% para 64%. Subiu de 24% para 32% o percentual daqueles que consideram apenas relevante.
Não houve variação no índice dos que acham o tema pouco relevante (3%) e nada relevante (1%).
RENATO MACHADO / Folhapress