Abel Ferrara mistura Patti Smith com Ucrânia em filme muito incompreensível

BERLIM, ALEMANHA (FOLHAPRESS) – O nome do diretor Abel Ferrara estará para sempre ligado a filmes policiais neuróticos como “Rei de Nova York” (1990), com Christopher Walken, ou o espetacular “Vício Frenético” (1992), com Harvey Keitel -infelizmente refilmado em 2009 por Werner Herozg, com Nicholas Cage.

Então, quando aparece na programação do 74º festival de cinema de Berlim um documentário assinado por ele, com a participação da mãe do punk Patti Smith, parece que teremos pela frente uma obra fundamental.

Ledo engano. “Turn in the Wound”, talvez traduzível como entregue à ferida, é um filme preguiçoso, mal editado, condescendente e, o que é pior, chato demais.

O que acontece na tela é uma costura de imagens não conectadas, mas que o cinéfilo de carteirinha, politizado e literato, talvez considere maravilhoso.

Por exemplo, Patti Smith aparece num palco declamando poemas de Antonin Artaud, René Daumal e Arthur Rimbaud, enquanto, no fundo, vemos formas coloridas.

Na crítica da revista Variety, aquilo se transforma nisso: “O dispositivo de enquadramento de Ferrara apresenta Smith, à frente de projeções de imagens abstratas como paisagens mutáveis, proporcionando uma performance apaixonada de palavras faladas em tom pesado e inebriante”. Gosto não se discute.

Alternando os poemas, Ferrara e sua equipe foram à Ucrânia ouvir histórias da invasão. Levam duas pequenas câmeras e uma assistente que vai traduzindo ao vivo enquanto ouvimos os locais. Ouvem-se mulheres, homens, um padre. Algumas imagens de arquivo.

Nada de novo. Na própria Berlinale do ano passado, houve uma inundação de filmes sobre a invasão da Ucrânia, desde olhares capturadas por dois cineastas poloneses, em “W Ukrainie”, ou ambiciosos documentários realizados por estrelas de cinema, como “Superpower”, de Sean Penn.

Aliás, o festival teve na cerimônia de abertura de 2023, a participação ao vivo, de forma virtual, do presidente ucraniano Volodimir Zelenski, que também, é lógico, aparece no filme de Ferrara.

Outra crítica estrangeira, da especializada Screen Daily, resume muito bem “Turn in the Wound”: “Ferrara fez um filme que não transformará a compreensão de ninguém sobre o conflito, embora possa conectar-se emocional e esteticamente com aqueles que não ficarem irritados com esse exercício cinematográfico”. O aviso chega um pouco tarde demais.

IVAN FINOTTI / Folhapress

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