A crise entre Brasil e Israel ganhou novos capítulos nas últimas horas. O presidente Lula foi declarado persona non grata em Israel e, em resposta, o embaixador Frederico Meyer foi chamado de volta ao Brasil, numa demonstração de descontentamento do governo brasileiro.
O estremecimento das relações se deu após o presidente Lula comparar, em entrevista na África, os ataques de Israel à Faixa de Gaza ao holocausto promovido por nazistas e que matou 6 milhões de judeus.
Para o professor visitante da Universidade de Relações Exteriores da China, Marcus Vinicius de Freitas, não há comparação entre o holocausto e o que está ocorrendo em Gaza. “ Holocausto é quando nos referimos à situação particularmente atrelada ao que ocorreu na segunda guerra com o povo judeu. Genocídio são práticas e políticas de Estado no sentido de perseguir e extinguir determinado grupo de pessoas ou populações”, diz o professor.
Segundo ele, para determinar se está ocorrendo um genocídio em Gaza é preciso ter uma investigação sobre o assunto. O professor diz que a Corte Internacional de Justiça deve levar 3 ou 4 anos para apurar toda situação.
Marcus Vinicius de Freitas afirma ainda que o presidente Lula foi infeliz ao fazer essa comparação. Ele entende que “muitas vezes usamos palavras que soam fáceis para as pessoas compreenderem, mas que acabam distorcidas. O presidente Lula se equivocou ao usar o termo genocídio porque é necessário apurar se existe essa prática”.
O especialista avalia que as palavras de Lula podem dar ao governo de Benjamin Netanyahu um sentimento de perseguição e que também é levado à sociedade israelense. Por outro lado, ele diz que isso reverbera positivamente entre os países árabes.
A relação Brasil-Israel não deve ser extinta com essa crise, de acordo com o professor Marcus. Pode até ocorrer um “esfriamento”, mas não um rompimento. “O Brasil tem uma participação histórica no processo de reconhecimento do Estado de Israel”.
Apesar disso, o especialista diz que Lula errou porque não se deve trazer a questão do holocausto e nazismo ao tratar desses assuntos. Por outro lado, ele lembra que o apoio internacional à Israel após os ataques do Hamas tem diminuído e muito por causa da resposta desproporcional dos israelenses.