SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – A prefeitura de Praia Grande (SP) anunciou que emitiu, nesta terça-feira (20), o alvará que autoriza o início das obras de recuperação emergencial das estruturas danificadas de um edifício residencial que precisou ser interditado após três pilares de sustentação apresentarem rupturas estruturais.
As obras em todos os pavimentos danificados deverão iniciar em breve. O edifício Giovannina Sarane Galavoti, localizado na Avenida Jorge Hagge, segue com interdição total.
O alvará só foi emitido após análise técnica de profissionais. De acordo com a prefeitura, documentos protocolados são de responsabilidade da construtora/condomínio. A análise contou com base técnica e elaboração de um engenheiro.
O escoramento emergencial com mais de duas mil escoras metálicas foi finalizado também nesta terça. O trabalho tem como objetivo reduzir o máximo possível da carga estrutural dos pilares que sofreram abalo estrutural.
Moradores foram até os apartamentos para retirar mais itens pessoais. Na última segunda-feira (19), ocorreu uma nova etapa da subida controlada organizada pela Defesa Civil municipal e a equipe do Corpo de Bombeiros.
O edifício está sendo monitorado constantemente, esclareceu a gestão municipal. A maioria das famílias está hospedada na casa de parentes.
O edifício conta com 23 pavimentos, além do subsolo. São 133 apartamentos distribuídos em 19 andares de moradias. Deste total, 80 são moradias fixas. Os demais são imóveis de veraneio. Cerca de 250 pessoas residem permanentemente no local.
O QUE SE SABE
Ruptura por esmagamento. A reportagem conversou com o engenheiro de estruturas e professor da Unisanta, Hildebrando Pereira dos Santos Junior, que esteve no local, para uma vistoria a pedido do condomínio. Segundo o especialista, o que ocorreu no Residencial Giovannina Sarane Galavotti pode ser chamado de ruína por compressão ou ruptura por esmagamento.
Esse tipo de caso ocorre quando os pilares internos do edifício, que ficam mais ao centro da construção, recalcam (afundam no solo). Com isso, as cargas migram para os pilares mais próximos, gerando uma sobrecarga. Como os pilares de periferia, mais próximos das fachadas, não têm como redistribuir esses esforços, ocorre a ruptura.
A engenheira civil e diretora de relações institucionais do Crea-SP (Conselho Regional de Engenheiros e Agrônomos do Estado de São Paulo), Fabiana Albano, já havia alertado que o cisalhamento seria apenas uma hipótese do que ocorreu. E que seria necessário contar com as outras hipóteses, que seriam o esmagamento e a flambagem. No caso de Praia Grande, segundo Santos Junior, aconteceu uma combinação dessas duas.
Para ocorrer o cisalhamento de um pilar é necessário existirem cargas horizontais relativamente altas atuando na estrutura. Esse tipo de ruína é muito comum em vigas, onde a carga principal é perpendicular ao elemento.
“No caso de pilares, a carga atua verticalmente. Como ocorreu uma ruína na ponta [no caso do prédio de Praia Grande], o concreto foi esmagado e as armaduras flambaram”, afirmou Hildebrando Pereira dos Santos Junior, engenheiro de estruturas.
A ruptura estrutural por flambagem é quando uma estrutura se quebra porque se dobrou sob a ação de uma força de compressão. Essa força pode ser causada pelo peso da própria estrutura, pelo vento ou por outras cargas. Imagine uma régua fina e comprida. Se você pressionar a régua no meio, ela vai se dobrar. Isso é um exemplo de ruptura estrutural por flambagem.
Já o cisalhamento é um tipo de deformação que ocorre em um material quando ele é submetido a esforços de corte. Isso acontece quando uma força é aplicada perpendicularmente à superfície do material, como um corte com uma faca. Essa força pode ser causada por vento, terremotos ou até mesmo o peso da própria estrutura.
Quando um material é submetido a esforços de cisalhamento, as camadas da sua superfície deslizam umas sobre as outras, resultando em uma deformação transversal. Isso pode levar ao aparecimento de trincas e à perda de resistência do material. O que não é o caso do edifício em Praia Grande, segundo Santos Junior.
INVESTIGAÇÃO DAS CAUSAS
O que causou o recalque dos pilares centrais ainda precisa ser investigado, avisa o professor, pois podem existir uma série de fatores. Desde a colocação irregular de sapatas sob a construção, até a ausência de estudos sobre a composição do solo e erros durante o projeto ou a obra.
Na opinião da diretora do Crea-SP, entre as possibilidades de falha que podem ocasionar o rompimento dos pilares estão problemas no projeto, com cálculos e projeções imprecisos; problemas na execução da obra, ou seja, se o que foi construído está em conformidade com o projeto; e problemas durante o uso do edifício, ou seja, intervenções e reformas em desconformidade com o projeto executado.
Redação / Folhapress