Geólogo afirma que ainda há risco de novos deslizamentos de terra em São Sebastião

Após um ano da tragédia que atingiu São Sebastião, o município ainda segue sob risco de novos deslizamentos de terra, segundo o IPT (Instituto de Pesquisas Tecnológicas)

1 ano da tragédia de São Sebastião: assista reportagem especial

O geólogo do instituto, Marcelo Fischer Gramani, afirmou que os escorregamentos de terra podem voltar a acontecer, não só em São Sebastião, como em outras áreas de risco de outros municípios do Litoral Norte. “Essas chuvas que assistimos e medimos no ano passado elas são bastante extremas. Então uma chuva como essa, pegando uma área de relevo bastante acidentado e moradias próximas, a chance de uma nova tragédia é muito grande”, afirmou.

De acordo com o IPT, os deslizamentos que aconteceram em São Sebastião, em 19 de fevereiro de 2023, são chamados “naturais”, quando há movimentação do solo e de pedras que descem as encostas, mas sem interferência humana.

“Tem o morro inclinado com uma certa espessura de solo, quando vem a chuva, ela começa a infiltrar no solo e ele fica com o peso bem maior. Como o solo já está com a superfície inclinada e muito alta, isso desce, mesmo com uma vegetação exuberante e de grande porte, como a da Serra do Mar. As chuvas ultrapassaram o que chamamos de normalidade, foi um evento extremo, e aí é muita água descendo e encharcando esse solo, ele estava pendurado, e então, desceu”, explicou o geólogo.

Naquele dia, mais de 600 milímetros de chuva caíram em São Sebastião. O maior volume já registrado em uma única precipitação no país. A tragédia deixou 64 pessoas mortas e 2.400 moradores desalojados ou desabrigados.

Prevenção na Vila Sahy

A Vila Sahy, bairro da Costa Sul do município, foi considerado o epicentro da tragédia, pois foi o local mais atingido pela chuva histórica daquele dia, somando o maior número de mortes e desabrigados.

No ano passado, a Procuradoria Geral do Estado (PGE) havia pedido à demolição de mais de 890 casas em situação de risco na Vila Sahy. No entanto, em janeiro deste ano, o Governo de São Paulo retirou a ação judicial que solicitava a autorização para demolir as residências do local.

Assim como o Governo de SP, o geólogo do IPT acredita que as medidas de prevenção feitas nos últimos meses, trazem uma garantia de que, em caso de chuvas abundantes que possam oferecer risco de deslizamentos, será possível proteger as vidas dos moradores, desde que os protocolos de segurança repassados à população em treinamento já realizados sejam seguidos. 

“Eu acredito muito nisso, que é capacitar as pessoas, de certa forma conviver e mitigar esse risco. Uma população bem treinada ela vai conseguir se autoproteger em uma situação crítica. A população sabendo o que fazer, já é um passo a mais para garantir a segurança”, disse Marcelo.

De acordo com o IPT, a chance de novos deslizamentos acontecerem em São Sebastião é “um pouco menor”, já que ações estão sendo feitas para reduzir os riscos, como obras de contenção, trabalhos de revegetação nas cicatrizes dos escorregamentos, além de capacitação da população em situações de emergência e a instalação de sirene na Vila Sahy.

Mapeamento das áreas de risco

O Instituto de Pesquisas Tecnológicas fez um levantamento das áreas de risco em São Sebastião, em 2018. A listra mostra que 22 bairros do município apresentavam histórico de problemas relacionados a escorregamentos e quedas de blocos de rocha. Veja os locais listados como área de risco pelo IPT:

1. Baleia Verde

2. Barequeçaba

3. Barra do Sahy

4. Barra do Una

5. Boiçucanga

6. Boracéia

7. Cambury

8. Canto do Mar

9. Centro

10. Enseada

11. Itatinga

12. Jaraguá

13. Juquehy

14. Maresias

15. Morro do Abrigo

16. Olaria

17. Paúba

18. Santiago

19. São Francisco

20. Topolândia

21. Toque Toque Pequeno

22. Varadouro

Na entrevista, Marcelo Gramani contou que o IPT já iniciou a reavaliação das áreas de risco em São Sebastião, em função da tragédia de 2023. O levantamento vai avaliar as questões das obras, a instalação das sirenes, o treinamento da população, o investimento em equipes da Defesa Civil e o monitoramento das chuvas e encostas. O novo mapeamento das áreas de risco deve ficar pronto de 10 a 12 meses.

“Temos um longo caminho ainda, para identificar essas áreas, realocar as pessoas, repensar as cidades, porque de fato desde que as cidades foram construídas e planejadas, elas nunca pensaram nesses fenômenos naturais, principalmente ligadas a questão dos movimentos de massa”, disse.

IPT

O Instituo de Pesquisas Tecnológicas atua em duas frentes de trabalho em São Sebastião: prevenção e emergência. No âmbito da prevenção, são realizados mapeamentos de áreas de risco para analisar os problemas e indicar algumas soluções para reduzir as possibilidades de acidentes, como escorregamentos. Além disso, o IPT treina e capacita as pessoas, principalmente técnicos da Prefeitura.

Já em caso de emergência, as equipes do instituto apoiam o Estado e o Município em situações como a tragédia de 2023, na orientação do retorno ou não da população as áreas afetadas, o monitoramento dos riscos e o que os órgãos devem fazer para solucionar os problemas causados pela chuva.

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