SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Em quase dois anos de guerra, que serão completados no sábado (24), a Rússia lançou uma média de 17 ataques aéreos com mísseis e drones por dia contra a Ucrânia.
A conta foi apresentada nesta quinta (22) pelo porta-voz da Força Aérea de Kiev, Iurii Ihnat. Ele somou 12.630 ataques, cerca de 8.000 deles feitos com mísseis e os restantes, com drones. A Rússia não divulga nenhuma estatística sobre o emprego de seus armamentos.
Ihnat disse que foram derrubados 77% dos drones, a maioria modelos iranianos Shahed-136, que a Rússia passou a usar em maior escala em 2023. Os russos adotaram também táticas variadas para aumentar a eficácia de suas ações lançando ondas dos aparelhos, mais baratos e fáceis de abater por serem lentos, saturando as defesas e aí entrando com mísseis supersônicos ou até hipersônicos.
Significativamente, Ihnat não disse nada acerca da proporção de mísseis derrubados. Os dados são também bem mais elásticos do que os que se conhecia até aqui: um estudo usando números parciais do Ministério da Defesa ucraniano divulgados de outubro de 2022 a setembro de 2023 contava ao todo só 3.967 ataques aéreos, com 82% de abates.
Isso pode significar várias coisas, de ocultação de dados a exagero deles, visando dramatizar a difícil posição ucraniana, que tem demandado mais baterias antiaéreas ocidentais enquanto incrementa sua produção local de drones.
A Alemanha forneceu duas baterias americanas Patriot, a mais avançada no serviço da Otan (aliança militar ocidental), mas uma foi destruída. Berlim promete enviar até mais duas delas, e também forneceu sistemas Iris-T, menos capazes. Os EUA entregaram uma bateria Patriot e 12 Nasams, de origem conjunta americano-norueguesa.
Outros países doaram números desconhecidos de outros sistemas, mas a campanha de inverno da Rússia tem se mostrado devastadora para os civis e a infraestrutura energética que Moscou diz ser seu alvo. Nesta madrugada de quinta, ao menos 10 drones foram lançados contra cidades ucranianas, com 8 abates clamados por Kiev.
Além disso, por ora a guerra se desenrola principalmente em solo, onde a vantagem de artilharia russa tem feito diferença, ainda que isso não signifique que Putin está perto de algo que seja a vitória final sobre Volodimir Zelenski. Depois de conquistar Avdiivka, cidade estratégica a norte da capital homônima da província de Donetsk, agora suas forças anunciaram a tomada de Pobeda.
É um vilarejo estrategicamente insignificante, mas que se encontrava na linha de frente estabelecida desde que separatistas pró-Rússia iniciaram uma guerra civil com apoio de Moscou, em 2014, após a anexação da Crimeia por Putin. Avdiivka estava na mesma situação.
Na véspera, o presidente russo havia dito ao ministro da Defesa, Serguei Choigu, que era preciso capitalizar a vitória no leste, e talvez isso esteja ocorrendo. Ou seja apenas peça de propaganda eleitoral, já que Putin irá se reeleger no mês que vem, mas precisa de um comparecimento expressivo às urnas em nome da legitimidade do regime.
Nesta quinta, o ex-presidente Dmitri Medvedev, por sua vez, encarnou o papel que assumiu desde o início da guerra, o de radical militarista. Ele, que é o número 2 no Conselho de Segurança Nacional, afirmou a jornalistas que os russos têm de tomar Odessa, principal porto ucraniano, e talvez voltar a bater às portas de Kiev.
“Por que deveríamos parar? Eu não sei. Será Kiev? Sim, provavelmente deverá ser Kiev. Se não agora, então depois de algum tempo, talvez em outra fase de desenvolvimento deste conflito”, afirmou. A Rússia fracassou em cercar e tomar a capital ucraniana no começo da guerra.
Hoje, apesar de o pêndulo do conflito estar em favor de Putin, as linhas em geral estão estabilizadas, com a Rússia dominando 20% da Ucrânia, contando aí a Crimeia, tomada após a derrubada de um governo pró-Kremlin em Kiev.
No Ocidente, as análises se dividem entre acreditar que Putin estaria satisfeito com esse ganho territorial e a garantia de uma Ucrânia de alguma forma neutra e os que acham que o russo quer mesmo tomar todo o vizinho e, talvez, ir além depois.
Com o impasse acerca do pacote de R$ 300 bilhões de ajuda militar a Kiev no Congresso americano, Zelenski tira suas boas notícias na Europa. Após o anúncio de um envio de R$ 3,3 bilhões em armas suecas, a Dinamarca divulgou que enviará R$ 1,2 bilhão para apoiar o esforço ucraniano.
IGOR GIELOW / Folhapress