SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quatro pessoas foram mortas em suposto confronto com policiais militares na noite desta terça-feira (27), aumentando para 38 o número de mortos na Baixada Santista durante a Operação Verão, iniciada após a morte do soldado da Rota Samuel Wesley Cosmo, 35, no dia 2.
Segundo a PM, os agentes faziam operação contra o tráfico de drogas no Jardim Rio Branco, em São Vicente, quando foram surpreendidos por pessoas armadas em área de mata. Houve confronto e cinco suspeitos, de acordo com a polícia, foram atingidos. Quatro deles morreram, um foi socorrido e está internado.
Com o grupo, ainda de acordo com a PM, foram apreendidas dois revólveres calibre 38 e uma pistola .40, além de porções de drogas.
Na segunda-feira (26) um homem foi morto também em suposto confronto com policiais militares no morro José Menino, em Santos.
Segundo a SSP (Secretaria da Segurança Pública), PMs faziam incursões no morro, quando três suspeitos atiraram contra a equipe. Os policiais revidaram e um homem acabou atingido.
Em nota, a pasta afirma que foi acionado socorro e o ferido foi levado à Santa Casa da cidade, onde morreu. Os demais fugiram.
Junto com o suspeito de participar do grupo que teria atirado nos policiais, foi localizado um revólver calibre 38 com uma cápsula deflagrada e quatro intactas, além de uma quantidade de entorpecente não informada, afirmou a SSP.
“As armas do suspeito e dos policiais foram encaminhadas para perícia e o caso foi registrado na Central de Polícia Judiciária de Santos”, diz a nota da pasta.
A quantidade de óbitos torna a Operação Verão 2024 a segunda ação mais letal da história de São Paulo, atrás apenas do massacre do Carandiru, quando 111 homens foram mortos durante a invasão da Casa de Detenção, em 2 de outubro de 1992.
O número de mortes desde o dia 3 de fevereiro já é superior ao de 40 dias de Operação Escudo, realizada na mesma região entre 28 de julho a 5 de setembro, quando 28 pessoas foram mortas após o assassinato do também soldado da Rota Patrick Bastos Reis, 30. O PM foi baleado em uma via na periferia de Guarujá na noite de 27 de julho. Assim como Cosmo, Reis também estava em serviço ao ser atingido.
RELATÓRIO APONTA VIOLAÇÃO DE DIREITOS HUMANOS EM OPERAÇÃO
Parentes de um jovem cego, de 24 anos, afirmaram que ele é um dos mortos pela polícia na Baixada. O caso ocorreu no último dia 7 e faz parte de um relatório produzido pela Ouvidoria da Polícia de São Paulo sobre violações de direitos humanos durante a Operação Verão
Mesmo com nomes diferentes (Verão e Escudo), as investidas dos policiais são semelhantes: ocorrem principalmente nas periferias das cidades de Santos, São Vicente e Guarujá e contam com a presença de praças e oficiais lotados na capital, por exemplo, da Rota e do 3º Batalhão de Choque, com sede na Vila Maria (zona norte).
O tipo de material apreendido e apresentado pelos policiais também são comuns às duas operações armas, drogas e rádios comunicadores.
“Assim como na Operação Escudo, a atual [Verão] é repleta de denúncias de abuso e violência policial. Infelizmente, os relatos de familiares das vítimas e testemunhas apontam para práticas de execuções sumárias, destruição de câmeras de vigilância das ruas, não utilização de câmeras corporais por policiais de batalhões que deveriam usá-la. Sob o argumento de combater o crime organizado, a SSP tem dado margem para que maus policiais pratiquem todo o tipo de arbitrariedade”, afirma a diretora-executiva do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Samira Bueno.
Na segunda-feira, o secretário da Segurança Pública, Guilherme Derrite, afirmou que a operação vai continuar, apesar de críticas.
“As pessoas nunca foram lá e não conhecem a realidade”, afirmou o secretário, em entrevista à rede Jovem Pan.
Em nota, a SSP disse que as forças de segurança do estado são instituições legalistas que atuam no estrito cumprimento do seu dever constitucional. As corregedorias estão à disposição para formalizar e apurar toda e qualquer denúncia contra agentes públicos, reafirmando o compromisso com a legalidade, os direitos humanos e a transparência.
Conforme a gestão Tarcísio de Freitas (Republicanos), 797 pessoas foram presas desde o início da operação, incluindo 301 procurados pela Justiça, além de mais de meia tonelada de drogas e 86 armas ilegais, incluindo fuzis de uso restrito, foram recolhidos.
Entre os mortos, segundo o governo, está o “líder de uma facção criminosa envolvida com o tráfico internacional de drogas, lavagem de dinheiro, tribunal do crime e atentado contra agentes públicos”.
“Todos os casos de mortes em confronto são rigorosamente investigados pela Polícia Civil e Militar, com acompanhamento do Ministério Público e Poder Judiciário”, afirma a secretaria.
ROGÉRIO PAGNAN E FÁBIO PESCARINI / Folhapress