MADRI, ESPANHA (FOLHAPRESS) – O governo de Madri inaugurou neste domingo (10) um novo espaço em Atocha, a principal estação de trem da cidade, para lembrar os 20 anos dos atentados de 11 de março de 2004, que se completam nesta segunda.
Conhecidos na Espanha por 11M, os atentados foram uma série de dez explosões em quatro trens da rede de Madri que mataram 192 pessoas e feriram cerca de 2.000. Foi o pior ataque jihadista da história do país e da Europa, superando, por exemplo, o de Londres em 2005, quando morreram 52 e 770 ficaram feridos.
As dez bombas explodiram entre 7h36 e 7h40, hora de pico dos trens, e três artefatos falharam, oferecendo pistas à polícia. O 193º morto em decorrência dos atentados foi um policial, ao invadir o apartamento da célula terrorista, três semanas depois.
Três anos depois, um monumento cilíndrico de vidro, com 11m de altura e 9,5 de diâmetro, foi inaugurado em Atocha, a principal estação da cidade. A homenagem foi desmontada há seis meses devido a obras de expansão no metrô.
O novo espaço, com 2.000 metros quadrados, fica no mesmo local do cilindro e apresenta paredes pintadas em azul escuro, cor escolhida pelas associações das vítimas. Estão gravados os nomes dos mortos e foram instalados 193 pontos de iluminação no teto, que representam cada uma das pessoas que perderam a vida.
Podem ser lidas frases como “Estávamos todos naquele trem” ou “Você nunca irá embora completamente” em diversas línguas, inclusive em português, pois há um brasileiro entre os mortos: Sérgio dos Santos Silva, um paranaense de 28 anos que trabalhava ilegalmente como operário em Madri.
Os ataques ocorreram três dias antes das eleições gerais de 2004, o que fez com que políticos fossem à TV acusando o ETA, o grupo separatista basco que, entre 1958 e 2018, foi responsável por ataques terroristas que mataram mais de 800 pessoas.
Os dois principais partidos políticos espanhóis, Partido Popular (PP) e Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE), acusaram-se mutuamente de ocultar ou distorcer informações por razões eleitorais. Ao final, os ataques conseguiram reverter o resultado das eleições, que pareciam estar ganhas pelo PP, então governando o país, e acabaram vencidas pelo PSOE.
Em 3 de abril, a polícia localizou o prédio onde se refugiavam os autores do atentado, em Leganés, ao sul de Madrid. Quando a polícia invadiu o apartamento, os terroristas detonaram um explosivo, matando sete deles, além do policial. A explosão demoliu parte da fachada do prédio.
Duas semanas depois, Osama bin Laden dizia, numa gravação televisionada, que os atentados aprovados dois anos antes pela liderança da Al-Qaeda haviam sido retaliação contra a Espanha pelas suas ações antiterroristas em 2001, o país prendeu 20 membros da organização e pelo apoio nas intervenções dos Estados Unidos no Iraque.
Das 116 pessoas inicialmente acusadas, 29 foram parar no banco dos réus e 21 foram condenados pelo Tribunal Nacional, embora o Supremo Tribunal tenha depois reduzido o número para 18, entre autoria do massacre e colaboração indireta. Outros quatro foram julgados em Marrocos e condenados.
Hoje, depois de algumas libertações nos últimos anos devido ao cumprimento das suas sentenças, apenas três condenados estão na prisão na Espanha e um em Marrocos.
Os três na Espanha cumprem penas que variam entre 35 mil e 42 mil anos, resultado da soma por cada morto e ferido. Mas, assim como no Brasil há um máximo de 30 anos para se estar na prisão, a Espanha limita a 40 o número de anos para condenados por terrorismo. Eles deverão ser soltos, portanto, em 2044.
Entre os condenados, houve um menor de 16 anos que cumpriu seis anos em um centro de detenção. Trata-se do espanhol Gabriel Montoya Vidal, punido por ter ajudado a fornecer explosivos para os terroristas.
Vidal é tema de uma minissérie em seis capítulos lançada pelo Disney/Star+ na semana passada na Espanha, chamada “Nos Vemos en Otra Vida”. Baseada em livro do jornalista Manuel Jabois, a história trata da vida do garoto antes, durante e depois dos atentados.
Já a Netflix tem um documentário sobre os ataques, chamado “11M – Terror em Madrid”. Com 92 minutos, foi lançado há dois anos.
IVAN FINOTTI / Folhapress