Mourão diz que governo Bolsonaro teve fim melancólico: ‘Tínhamos que ter reconhecido a derrota’

SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – O senador e ex-vice-presidente da República Hamilton Mourão (Republicanos-RS) disse que o fim do governo Bolsonaro foi melancólico e que a derrota nas urnas deveria ter sido admitida.

Em entrevista ao UOL News nesta segunda-feira (11), ele disse também que o tenente-coronel Mauro Cid é a parte mais fraca no processo contra o ex-presidente e defendeu o general Freire Gomes.

“Acho que o governo teve coisas muito boas e, no final, teve esse fim que considero melancólico. Não fiquei satisfeito com o final do nosso governo”, disse.

“Tínhamos que ter reconhecido a derrota. Perdemos por pouco, mas perdemos. Tinha que ter dado uma resposta clara: perdemos agora, mas vamos melhorar para voltar mais forte em 2026. Acho que isso é do jogo democrático.”

‘Golpe pra mim não tem minuta’

Mourão diz acreditar que não se dá golpe de Estado com a elaboração de uma minuta, como apontaram as investigações da Polícia Federal sobre atos golpistas do governo Bolsonaro.

“Tentativa de golpe é como Hugo Chávez fez em 1992, na Venezuela, quando mobilizou a tropa dele, atacou o palácio presidencial e atacou a residência do presidente da República. Isso é tentativa de golpe. O resto é só discussão”, afirmou.

“Golpe, para mim, não tem minuta […] Se o presidente iria me apresentar, ou não, julgo que esse assunto, como nunca foi discutido, não tenho como chegar e dizer que ia olhar e ler. Não tratamos disso.”

Freire Gomes tentou manter Exército unido, diz Mourão

O senador defendeu o ex-comandante do Exército Marco Antônio Freire Gomes, que, segundo ele, foi bem-sucedido ao manter a união do Exército.

Freire Gomes e o ex-comandante da Aeronáutica, Carlos Baptista Júnior, relataram à Polícia Federal os detalhes sobre as articulações golpistas conduzidas por Jair Bolsonaro e confirmaram a participação em uma reunião convocada pelo ex-presidente para discutir uma minuta de um decreto golpista.

“Freire Gomes assume o comando do Exército em 2022, já no tumulto da comissão junto do TSE, e ele procurou manter o Exército unido em um momento de ‘disse me disse’. Acho que ele foi bem-sucedido nisso.”

O senador também disse que não concordava com as funções de Mauro Cid no governo e que ele é a parte mais fraca no processo sobre a tentativa de golpe de Estado para manter Bolsonaro no poder.

“Cid é a parte mais fraca neste processo. É um oficial jovem, brilhante, que conheço desde criança […] Tinha uma carreira extraordinária e estava pronto para ir para os Estados Unidos fazer um curso, quando Bolsonaro o chamou para ser ajudante de ordem”, afirmou.

“Ele teve uma série de funções que lhe foram dadas, que não concordava por ele ser um oficial da ativa participando de atividades políticas”, disse. “Não vejo questão de [Mauro Cid] entregar [Bolsonaro]. Ele é a parte mais fraca […] A carreira dele acabou, para a qual ele se preparou.”

‘Bolsonaro não me chamava nem pro cafezinho’

Mourão também voltou a falar que ele e Bolsonaro não se conversavam mais após as eleições.

Em edição do UOL Entrevista de fevereiro de 2023, Mourão havia dito que conversou com Bolsonaro pela última vez em dezembro de 2022, pelo WhatsApp.

“A partir do momento que o ex-presidente Bolsonaro escolheu Braga Netto para ser seu candidato a vice, antes de eu pensar a me candidatar ao senado, ele me colocou de lado. Ele não me chamava nem pro cafezinho. Fiquei tocando minhas atribuições restritas de vice-presidente e, em fevereiro, tomei a decisão de me candidatar ao Senado”, disse.

“Naqueles dois meses, pós-resultado eleitoral, sabia que tinha algumas reuniões ocorrendo lá no Palácio da Alvorada. Ninguém comentou nada comigo e eu não tinha acesso a nada.”

“Fui lá duas vezes para falar com o presidente: no dia da derrota da eleição, ele não me recebeu porque não queria receber ninguém, e após retornarmos da cerimônia de aspirantes da Aman (Academia Militar das Agulhas Negras) eu fui conversar com ele e pedi que fizesse um discurso à nação reconhecendo que tinha perdido a eleição, criticando o que ele quisesse criticar, que passasse a faixa ao presidente Lula e que pedisse que as pessoas que estavam na frente dos quartéis que retornassem para suas casas.”

Lula está dando um bom passo para pacificação, diz Mourão

Na visão de Mourão, Lula acerta em não celebrar atos dos 60 anos do golpe militar. O presidente cancelou atos que marcariam a data.

“O presidente está tomando uma atitude correta e, com o passar do tempo, precisamos entender que somos fruto de todo esse passado histórico, com seus acertos e erros”, disse.

“Vai ao encontro de pacificar o país […] Dessa forma, o presidente Lula está dando um bom passo.”

Redação / Folhapress

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