Dirceu faz festa de 78 anos com Alckmin, centrão e presidente da Petrobras

BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Há anos afastado dos holofotes, o ex-ministro José Dirceu deu uma demonstração de reabilitação política e do prestígio que mantém nos bastidores ao reunir, na noite desta quarta-feira (12) em Brasília, políticos de diferentes matizes para a celebração de seus 78 anos —a serem completados neste sábado (16).

Do petista Fernando Haddad (Fazenda) ao ministro do centrão Juscelino Filho (Comunicações), da União Brasil, dez ministros passaram pelo salão abarrotado de convidados.

O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e o diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, também compareceram à festa, realizada numa casa no Lago Sul, bairro nobre de Brasília. O anfitrião, o advogado Marcos Meira, custeou a festa com a colaboração de um grupo de advogados.

Dirceu foi condenado em 2012 pelo mensalão a 7 anos e 11 meses de reclusão, mais multa, e foi preso em 15 de novembro de 2013. No final de 2014, foi autorizado a cumprir o restante da pena em sua própria residência. A pena do ex-ministro no mensalão foi extinta em outubro de 2016. Ele também chegou a ficar preso no âmbito da Lava Jato.

A festa do homem que no governo Lula 1 (2003-2006) teve status de superministro até cair em desgraça pelo escândalo do mensalão propiciou um cordial debate entre o ex-presidente do PT, Rui Falcão, e o ministro da Defesa, José Múcio Monteiro.

O assunto era a decisão do presidente Lula (PT) de desencorajar atos oficiais em memória dos 60 anos do golpe de 1964.

Falcão opõe-se à orientação de Lula e Múcio a defende, sob o argumento que eventos críticos aos militares têm potencial de reabrir feridas recém-cicatrizadas com a caserna.

Depois da conversa, os dois concordaram em se reunir futuramente. Ao se aproximar do grupo, sem ter conhecimento do tema em pauta, o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), elogiou Múcio e o chamou de “homem da paz”.

Alvo de críticas de uma ala do PT, o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), chegou por volta das 23h30, pouco antes do ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha (PT). Lira tem feito diversas críticas nos bastidores a Padilha, responsável pela articulação política do Palácio do Planalto.

Quando estava de saída, mesmo próximo a Padilha, Lira saiu sem se despedir do ministro.

Haddad ficou parte da festa em uma mesa no canto da sala, ao lado da esposa, Ana Estela, e de integrantes do Ministério da Fazenda. O ministro optou por deixar a festa por uma porta lateral, evitando percorrer o salão num momento em que Prates (Petrobras) era cercado por jornalistas.

A Petrobras enfrenta turbulência desde a quinta (7), quando a companhia anunciou que não faria o pagamento de dividendos extraordinários aos acionistas. Como resultado, as ações caíram com o receio de que o governo petista esteja intervindo na empresa.

Dirceu defendeu o desempenho de Haddad à frente da economia.

Quatro pré-candidatos à presidência da Câmara prestigiaram a festa, mas só Elmar Nascimento (União-BA) permaneceu até a madrugada.

A festa foi regada a vinho e uísque, e a música ficou por conta de uma banda de rock. À mesa montada nos jardins, havia costela, peixe e lombo, além de saladas. De sobremesa, sorvete.

Antes de cortar o bolo, Dirceu fez um breve discurso. Disse que seus 60 anos de luta pelo Brasil são simbolizados pelo terceiro mandato de Lula. “Nada mais importante que o terceiro governo do Lula ser sucedido pelo quarto governo do Lula. E, depois, por um outro governo”, disse o ex-ministro.

Dirceu mencionou ainda a ampla aliança que dá sustentação ao governo. Mas falou em solidão e perguntou: “Quem são nossos aliados na elite do Brasil, no empresariado do Brasil?”

Dirceu afirmou também que o tempo é curto para as mudanças de que o país precisa.

“Nós temos dez anos para fazer a mudança. Nas condições que nós estamos vivendo. Vocês sabem quais são as condições. Não chegamos no governo com maioria do Parlamento. Nós não chegamos no governo com maioria do país. Nós chegamos no governo pelas circunstâncias históricas do bolsonarismo, o que possibilitou a criação de uma frente ampla que levou à vitória do Lula”, disse.

Recuperando-se de uma pneumonia, Dirceu recebeu, de pé na porta da casa, os cerca de 200 convidados que compareceram à comemoração.

Ao longo da noite, Dirceu foi questionado sobre a hipótese de concorrer à Câmara de Deputados nas próximas eleições. Em resposta, repetiu que sua prioridade é ajudar Lula e que ninguém sabe o que vai acontecer até 2026.

Ao fim de seu discurso —pouco antes de cortar o bolo sob aplausos e palavras de ordem entoadas por petistas— Dirceu disse que espera estar vivo para ver um outro Brasil. “Espero viver como minha mãe até os 97 anos. Portanto tenho mais 19 anos para viver”.

CATIA SEABRA / Folhapress

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