BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – Indígenas do Brasil, Chile, Bolívia, Colômbia e Equador se reuniram nesta quarta-feira (20) para debater temas relacionados a ciência e justiça climática na sede do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), em Brasília.
O 1º Encontro Internacional de Pesquisadores Indígenas entre Aldeias e Universidades segue até sexta (22), com a participação de representantes do governo federal, professores, estudantes (de graduação e pós-graduação), cientistas e personalidades, entre elas o cacique Raoni Metuktire, a ativista Txai Suruí e o escritor Ailton Krenak.
Com foco na crise climática, o primeiro momento do evento teve discussões sobre a valorização do papel dos povos originários na proteção dos biomas -contra desmatamento, poluição dos rios e degradação do solo.
“Eu não aceito que os garimpeiros e os madeireiros continuem destruindo as nossas florestas, nossos territórios e nossos rios. Se eles continuarem com o desmatamento e a degradação, podem acontecer coisas muitos ruins para todos nós. O calor excessivo é um exemplo disso”, disse Raoni.
O cacique, em sua fala no evento, enfatizou que as ações humanas são a principal a causa do aquecimento global e lamentou as mortes de indígenas durante conflitos contra garimpeiros, grileiros e madeireiros.
O líder indígena da etnia kayapó recebeu, neste ano, dois títulos de doutor honoris causa, pelas universidades estadual e federal de Mato Grosso. Os reconhecimentos foram dados por sua luta em defesa da amazônia e dos povos originários em diversos fóruns internacionais, como em edições da COP, a conferência do clima da ONU (Organização das Nações Unidas).
Raoni destacou também a usurpação de conhecimentos tradicionais. Ele afirmou que os povos indígenas colaboraram, e ainda colaboram, em estudos da medicina e na confecção de remédios a partir de produtos extraídos da floresta, nos quais não foram dados os devidos créditos.
Arlindo Baré, presidente da Upei (União Plurinacional dos Estudantes Indígenas), entidade organizadora do evento, frisou a importância da representatividade indígena nas universidades, para que conhecimentos tradicionais cheguem à comunidade científica. Isso deve ocorrer, ele defende, sem que seja deixada de lado a relevância da presença dos indígenas nas aldeias, reservas e comunidades.
“Nós, povos indígenas, sempre pautamos a justiça climática, a partir da preservação da natureza. A gente tem esse papel importante. Em relação à área de pesquisa, conseguimos ter dados, informações e índices para dizer também que a ciência concorda com aquilo que a gente já fala há milhares de anos, desde os nossos ancestrais”, afirmou Baré.
Representante da amazônia nas COPs de Glasgow e dos Emirados Árabes Unidos, Txai Suruí ressaltou que os povos indígenas já empregavam ciência, matemática, física e química antes da chegada dos portugueses ao Brasil.
Ela, que é estudante de direito da Universidade Federal de Rondônia e colunista da Folha de S. Paulo, disse que o papel dos universitários indígenas é unir a ciência e o conhecimento milenar.
“A amazônia não é simplesmente a maior floresta com a maior biodiversidade do mundo porque, simplesmente, ela cresceu assim, mas, sim, porque nós estávamos lá, porque a nossa presença estava lá. Quando a gente comia as frutas, a gente plantava as sementes depois, porque sabia que os nossos filhos iriam sentir fome.”
Participaram da mesa de debates também o ministro conselheiro da Bolívia em Brasília, Sebastian Mamani Cuenca, o doutorando Roger Chambi, a antropóloga Luiza Córdoba, da Colômbia, e a socióloga Viviana Alexandra Collaguazo, do Equador.
JORGE ABREU / Folhapress