SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apesar de ter começado o dia em tom positivo, o mercado brasileiro virou nesta quinta-feira (21). A Bolsa, que abriu em alta, firmou queda moderada, e o dólar subiu para a casa dos R$ 4,97. Pela manhã, a moeda chegou a ser negociada a R$ 4,950 na mínima do dia.
Como pano de fundo, o mercado está divide entre as últimas decisões sobre juros nos Estados Unidos e no Brasil.
Na quarta (20), o Fed (Federal Reserve, o banco central americano) seguiu o esperado e manteve a taxa de juros americana inalterada na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano, mas indicou que deve realizar pelo menos três cortes de juros ainda neste ano.
A reação do mercado foi positiva: após o anúncio da decisão, as Bolsas globais aceleraram alta, e o dólar caiu mais de 1% ante o real. A avaliação foi de que, mesmo com indicadores recentes mostrando força da inflação e da economia americana, o plano de redução de juros do Fed não deve ser alterado.
Já no Brasil, o Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central decidiu reduzir a taxa básica de juros em mais 0,50 ponto percentual, após o fechamento do mercado, passando a Selic de 11,25% para 10,75% ao ano.
O colegiado, no entanto, alterou o trecho do comunicado que sinaliza seus próximos passos. Agora, o Copom prevê outra redução de 0,50 ponto apenas na próxima reunião, abandonando o plural dos comunicados anteriores, que sinalizavam cortes da mesma magnitude “nas próximas reuniões”.
Com a alteração, o comitê ganha mais liberdade para mudar o ritmo do afrouxamento monetário neste ano, abrindo caminho para possíveis cortes menores a partir de junho. O tom mais duro limitou o otimismo do mercado local.
Nesse cenário, o Ibovespa caiu 0,74%, aos 128.158 pontos, enquanto o dólar subiu 0,10%, cotado a R$ 4,979.
“O fato de citarem que esperam mais um corte de juros na ‘próxima reunião’ no singular, não no plural, deixa um clima de incerteza do que pode acontecer nas próximas reuniões. Mas pode ser apenas uma forma de comunicar para que o governo mantenha os objetivos fiscais, e há espaço para cortes de mesma magnitude”, afirma Vinicius Moura, economista e sócio da Matriz Capital.
Já Ricardo Jorge, especialista em renda fixa e sócio da Quantzed, diz ter considerado o comunicado “hawkish”, ou seja, mais duro e voltado para aperto monetário.
“O comitê cita as preocupações com relação ao cenário externo e obviamente a influência que isso pode trazer aqui para dentro. Cita as preocupações com relação às dificuldades, às incertezas locais, e ainda retira o plural. Mas o Banco Central foi bem nesse comunicado. Essa é a linha que deve ser seguida”, diz Jorge.
Para os analistas da Genial Investimentos, o comunicado veio mais duro do que o esperado pelo mercado. Eles destacam, no entanto, que o comitê sinalizou que o cenário-base não se alterou substancialmente, dando a entender que o atual plano de voo ainda pode ser executado.
NO IBOVESPA, PETROBRAS FOI PRINCIPAL BAIXA DO DIA; JUROS FUTUROS PESAM
A queda da Bolsa nesta quinta foi causada principalmente pelas ações da Petrobras, que recuaram quase 3% e foram as mais negociadas no exterior. A companhia foi impactada pela queda do petróleo no exterior, mas temores sobre possível interferência política em suas decisões seguem no radar.
Seguiram a petroleira no ranking de mais negociada as ações do Itaú, da Vale e da Vivara, que também registraram queda.
Pesou sobre os ativos domésticos, ainda, a alta nas curvas de juros futuros do Brasil, que sofrem ajustes após a decisão do Copom. Os contratos com vencimento em janeiro de 2025 subiram de 9,91% para 9,93%, enquanto os para 2027 foram de 10,04% para 10,10%.
Redação / Folhapress