SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Extraordinário intérprete de Chopin e Debussy, o italiano Maurizio Pollini, um dos maiores pianistas de sua geração, morreu neste sábado (23), aos 82 anos. A notícia foi confirmada pelo Teatro alla Scala, de Milão, cidade onde o artista morava e se apresentava com frequência. A causa da morte não foi divulgada.
Com sólida carreira internacional e gravado pela Deutsche Grammophon, Pollini deu ao mundo uma combinação de rigor técnico e beleza, avivada pela clareza com que atacava as teclas de seu piano. Dele, extraía o frescor de um som limpo, alicerçado em suas engenhosas articulações.
Não à toa, sua interpretação da obra de Debussy soa especial. A despeito do excessivo uso de pedais, que formam paisagens nebulosas, vaporosas, o pianista surgia ali como senhor de si: o elo entre o som e seu criador impressionista.
É o que ocorre, por exemplo, em sua gravação de 1998 do primeiro livro dos “Prelúdios”, de Debussy, em especial nas peças “Les Sons et Les Parfuns”, “Des Pas Sur La Neige” e “La Fille Aux Cheveux de Lin”. O segundo livro seria registrado 20 anos depois.
Mas nenhum outro compositor recebeu tanta atenção de Pollini quanto Chopin. A discografia é imensa a paixão do pianista, também. Em 2004, ele ofereceu uma das melhores interpretações já ouvidas dos “Noturnos”, concebidos pelo compositor polonês. O disco, que reúne a obra mais popular de Chopin, pode ser uma porta de entrada para os novos fãs do instrumentista italiano.
Afinal, nos tempos contemporâneos da música de concerto, Pollini também se tornou sensação no Spotify. De todo modo, sua adesão ao romantismo não o impediu a de construir um repertório assaz extenso, dialogando até com a arte de Schoenberg.
Ele mantinha, inclusive, uma relação curiosa com Bach, recusando a tocar suas peças. Segundo Pollini, Bach compusera sua obra para ser tocada em cravos.
Pollini é milanês e, dentro de casa, era estimulado a se interessar por música. Seu pai era arquiteto e músico amador. Por isso, o menino começou a tocar piano aos cinco anos, dando seu primeiro recital seis anos depois. Em 1960, ele venceu sendo o mais jovem participante o Concurso Internacional de Piano Chopin, em Varsóvia, na Polônia. O júri incluia nada menos que Nadia Boulanger e Arthur Rubinstein.
Em seguida, estudou com Arturo Benedetti Michelangeli e se engajou em movimentos políticos de esquerda. Mais recentemente, foi um crítico ferrenho de Silvio Berlusconi, ex-primeiro-ministro da Itália, morto no ano passado. Nos anos 1960, Pollini tocava gratuitamente em fábricas ou dava recitais para a elite americana nova-iorquina no Carnegie Hall.
Duas décadas depois, ele ganhou o Grammy na categoria melhor interpretação de música clássica, pelo disco “Bartók: Concertos para piano nº 1 e nº 2”, com a Orquestra Sinfônica de Chicago. Em 1993, Pierre Boulez tentou definir Pollini em uma frase para a reportagem do The New York Times: “Ele não fala quase nada, mas pensa bastante”, disse o maestro e compositor.
Maurizio Pollini deixa o filho, o também pianista Daniele Pollini, fruto do casamento com Marilisa Marzotto.
GUSTAVO ZEITEL / Folhapress