Exposição aproxima o aço de Amilcar de Castro das peças em cerâmica de Kimi Nii

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ela trabalhou com cerâmica, e ele, com aço. Apesar de diferentes, os dois materiais são mais próximos do que aparentam, a julgar pela exposição de Kimi Nii e Amilcar de Castro em cartaz até 13 de abril na galeria Millan, em São Paulo.

Para estabelecer conexões formais entre os dois artistas, Antonio Gonçalves Filho, o organizador da mostra, colocou lado a lado peças de cerâmica da nipo-brasileira feitas entre 1989 e 2023 e esculturas do mineiro produzidas 1980 a 1996. Enquanto as dele têm rigor matemático, as dela são mais fluidas.

A primeira característica a prender a atenção é como a argila pode remeter visualmente ao ferro. Uma das peças de Nii em forma de triângulo tem um acabamento de óxido na cerâmica que engana o espectador desavisado, dado que a obra lembra muito uma das pequenas esculturas de Casto posicionadas ao redor.

Afora o material, Nii deixa quadrados vazados em algumas de suas peças, assim como Castro fazia em suas esculturas. O organizador destaca ainda outra semelhança —ambos os artistas mantêm uma forte ligação com a natureza graças às matérias-primas que utilizam, o ferro e a argila.

“Não tem como você falar isso é cultura, aquilo é natureza. É uma falsa dicotomia. Para mim são as mesmas coisas”, diz Filho.

Ele acrescenta que a ceramista, mais do que Castro, tem uma grande influência das formas orgânicas, à medida em que ela replica ranhuras de árvores nas peças em formato de tubo dispostas no chão da galeria ou emula um bambu na grande obra exposta no final da primeira sala.

Nascida em 1947, em Hiroshima, Nii mudou para o Brasil ainda criança e, mais tarde, se formou em desenho industrial. Ela conta que ter estudado design ajuda na execução das peças abstratas de cerâmica, porque ela consegue projetar já com as medidas antes de levar a argila moldada ao forno para a queima.

Ainda assim, ela só consegue prever mais ou menos o resultado final, porque as formas geométricas são difíceis de executar em cerâmica. “Durante a execução, a peça pode deformar. Mas comecei a tirar proveito da deformação”, diz, em conversa por telefone. Algumas de suas obras têm rasgos causados pela queima, o que é encarado como parte do processo, não como erro.

Nii afirma sentir afinidade com a maneira de pensar de Castro. “A simplicidade com que o Amilcar resolve, simplesmente com uma chapa, um corte e uma dobra, é demais.”

Se há uma diferença entre os artistas é que Castro lidava mais com os vazios e Nii, com os encaixes. Operando com o corte e a dobra de chapas de aço corten, o mineiro deixava vazados em suas esculturas, vazados estes que formam outras figuras, seja a olho nu ou com a incidência de luz sobre a peça.

Já a artista acopla peças de cerâmica esmaltada em esculturas maciças, evidenciando as formas pelas diferenças de cor entre uma parte e outra, procedimento que Castro não adotava, dado que suas obras são de aço puro, sem tratamento.

CORTE, DOBRA, ENCAIXE: AMILCAR DE CASTRO E KIMI NII

– Quando Até 13 de abril. Seg. a sex., das 10h às 19h; sáb., das 11h às 15h

– Onde Galeria Millan – r. Fradique Coutiinho, 1430

– Preço Grátis

JOÃO PERASSOLO / Folhapress

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