SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O vaivém no comando da Vivara, a disputa por talentos na IA e o que importa no mercado.
*O VAIVÉM NA VIVARA*
A Vivara, maior rede de joalherias da América Latina, dominou os assuntos do mercado financeiro nos últimos dias.
Tudo por conta de uma turbulenta troca no comando da companhia, com o fundador assumindo e deixando o cargo de CEO em um período de dez dias.
Entenda: no dia 15, a companhia divulgou ao mercado uma inesperada mudança de presidente. O fundador da marca, Nelson Kaufman, reassumiu o posto no lugar de seu sobrinho, Paulo Kruglensky.
↳ Kruglensky, que ficou no cargo por três anos e era visto no mercado como um dos responsáveis pelo recente bom desempenho operacional da Vivara, renunciou ao posto, conforme divulgado pela empresa.
↳ Kaufman disse que estava reassumindo o comando da companhia após 13 anos para focar a internacionalização da marca.
Os analistas que acompanham o papel não gostaram do que ouviram, e a reação foi imediata: as ações caíram 14% no dia 18, primeiro pregão após as mudanças.
Durante a semana, vieram o balanço do quarto trimestre e o anúncio de renúncia de duas conselheiras, que não ajudaram.
O BTG Pactual, que recomenda compra para as ações de Vivara, disse em relatório que a troca levantou questões sobre a governança e a estratégia de crescimento da empresa.
Na sexta, as ações terminaram em uma queda de cerca de 20% em relação ao fim da semana anterior, antes de a turbulência atingir a companhia.
Agora, a Vivara parece correr atrás do prejuízo. Antes da abertura do pregão de ontem (25), anunciou que Kaufman estava deixando o posto de CEO para ficar como presidente do conselho. Em seu lugar, entrou Otavio Lyra, atual diretor financeiro da companhia.
As ações terminaram o dia em alta de 1,9%, a R$ 25,56, com o mercado ainda tentando entender os impactos das últimas movimentações na companhia, que é uma das queridinhas dos analistas no setor de varejo.
Não foi só a Vivara. Outras duas companhias anunciaram troca de CEO nesta segunda:
A Boeing disse que Dave Calhoun deixará o cargo até o final do ano, em meio à crise de qualidade enfrentada pela fabricante de aviões.
A Infracommerce disse que seu fundador deixará o cargo e terá uma função ligada ao conselho. Para o lugar de CEO, entra Ivan Murias, ex-Valid.
*GUERRA POR TALENTOS NA IA*
A competição entre big techs e startups pelo avanço nas ferramentas de IA (inteligência artificial) passa por um capítulo importante: a disputa por talentos.
Engenheiros juniores são cobiçados pelas empresas, que oferecem salários anuais de até sete dígitos (US$ 1 milhão) pela sua contratação.
Os mais experientes podem ganhar até US$ 10 milhões, reporta o Financial Times.
Um exemplo claro de como o assunto é uma prioridade no mercado foi o último movimento feito pela Microsoft, a maior empresa do mundo em valor de mercado.
A companhia comandada por Satya Nadella contratou os chefes da Inflection AI, uma startup que desenvolveu um chatbot que não tem tanto sucesso com o público, mas cujos idealizadores são bastante respeitados no mercado por seu conhecimento. São eles:
Mustafa Suleyman, CEO da Inflection que agora irá comandar a divisão de IA da Microsoft voltada ao consumidor.
Karén Simonyan, cientista-chefe da startup que é considerado um dos principais pesquisadores da tecnologia do mundo.
↳ Eles formarão sua equipe na big tech com boa parte dos funcionários da Inflection. Na prática, a Microsoft comprou o capital intelectual da startup sem fazer uma oferta de aquisição, algo que certamente chamaria a atenção dos reguladores.
Segundo a Inflection, tanto a empresa quanto seus investidores se beneficiarão de um novo acordo de licenciamento com a Microsoft. Os acionistas também serão integralmente reembolsados e receberão mais do que seu capital investido de volta, diz a empresa.
Outras big techs também têm investido em startups como uma forma de estar inseridas na atual onda de IA sem virar alvo de reguladores.
Além da Microsoft, empresas como Google, Nvidia e Amazon oferecem infraestrutura (nuvem, poder de computação, chips) em troca da participação acionária nas companhias.
*O “SUPER TRUNFO” DAS FONTES DE ENERGIA*
Uma fonte de energia não poluente como carvão e gás, sem depender de sol, vento ou chuva como as solares, eólicas e hidrelétricas, mais segura que a gerada por fissão nuclear, e fácil de transportar, ao contrário do hidrogênio verde.
Essa é a promessa da energia nuclear de fusão, uma espécie de “super trunfo” das fontes energéticas, mas cujo processo de desenvolvimento ainda deve demorar bastante, de acordo com uma série de especialistas.
Uma empresa contraria esse senso comum. É a americana Helion Energy, que marcou o início da produção para até 2028. Seu principal investidor e conselheiro? Sam Altman, CEO da OpenAI, a dona do ChatGPT.
A fusão nuclear é um dos três projetos (ou “estigmas”, como chamou o colunista Ronaldo Lemos), do executivo. Os outros dois são a inteligência artificial e a identidade digital.
Não é promessa, é compromisso: a meta de 2028 é vista por muitos como inalcançável, mas pelo menos não parece ser da boca para fora.
↳ Se até lá a Helion não conseguir entregar energia a partir de fusão nuclear, terá que pagar uma multa, segundo o contrato assinado com a empresa de Bill Gates, que investe no projeto.
Entenda: a fusão nuclear gera energia juntando átomos leves. Ela usa deutério e trítio, que são tipos de hidrogênio, um dos elementos mais abundantes na Terra. O principal resíduo que essas reações produzem é o hélio, um gás não radioativo.
É aí que aparece sua principal vantagem sobre a energia produzida por fissão (que divide os átomos) nuclear, que usa urânio e produz resíduos radioativos apesar de hoje essa fonte ser bem mais segura em relação ao século passado, marcado por acidentes.
Tudo muito bom, mas Os obstáculos para a fusão nuclear são quase tão grandes quanto seus prometidos benefícios.
Pelo processo envolver a colisão de dois átomos em velocidades altíssimas é isso que libera a energia, ele exige temperaturas acima de 100 milhões de graus Celsius para superar a repulsão elétrica.
Um cientista do MIT (Massachusetts Institute of Technology) ouvido pela Folha trata a atual década como de criação de bases para uma usina de energia de fusão, com a construção em 2030 e a comercialização em 2040.
*POR QUE O CACAU DISPARA*
Em meio à escassez na oferta, os preços do cacau subiram tanto nos últimos meses que chegaram a superar as cotações do cobre, metal importante para a transição energética.
Em números:
50% foi a alta dos contratos futuros de cacau neste mês, com os preços mais do que dobrando neste ano.
US$ 9.649 (R$ 48.112) foi a cotação da tonelada da commodity nesta segunda; há um ano, era de US$ 2.974 (R$ 14.829)
O que explica: o principal fator é a quebra de safra na África Ocidental, onde a maior parte do cacau do mundo é cultivada. Os produtores da região sofreram com o mau tempo e as doenças nas plantações.
As embarcações do produto na Costa do Marfim, país que é o maior produtor global do fruto, caíram 26,6% na atual safra, que começou em outubro, em relação ao mesmo período do ano passado, de acordo com a Reuters.
Gosta de um chocolatinho depois do almoço? Prepare o bolso: caso a oferta se mantenha instável, esses preços devem afetar inclusive a Páscoa do ano que vem, segundo os agentes do setor.
ARTUR BÚRIGO / Folhapress