SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A USP e a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) assinaram, nesta quarta-feira (27), no campus de São Paulo da universidade, três acordos envolvendo uma nova parceria com CNRS (Centre National de la Recherche Scientifique), o órgão francês estatal para pesquisa.
“É uma oportunidade imensa”, diz à Folha Carlos Gilberto Carlotti, reitor da USP, sobre a parceria. “É um novo passo da internacionalização da USP.”
Um dos acordos diz respeito a instrumentos de financiamento da Fapesp para apoio a pesquisas no IRC CNRS-USP Transitions (International Research Center for Worlds in Transitions do CNRS), e que será instalado na USP. O CNRS é um órgão público de pesquisa científica, com um orçamento de cerca de 4 bilhões ao ano (R$ 21,6 bilhões).
Outro acordo diz respeito à instalação de um Laboratório Internacional de Pesquisa para pesquisas imunológicas na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP, no interior paulista. Trata-se também de um braço do IRC.
Por fim, o terceiro acordo tira o escritório da CNRS do Rio de Janeiro e o traz para São Paulo, na USP.
Antoine Petit, presidente-diretor do CNRS, conta que, ano passado, recebeu uma chave de Carlotti para o espaço da USP. “Mas era um espaço vazio”, brinca Petit, em entrevista para a Folha. “Mas agora você vê, é um bom espaço para organizar reuniões, e nós já organizamos reuniões científicas. Decidimos mudar nosso escritório do Rio para cá, para a USP. Esse escritório será responsável por toda a América do Sul.”
Dessa forma, apesar da formalização ocorrida neste momento, a parceria entre USP e CNRS começou no ano passado, segundo os envolvidos, e já há, inclusive, projetos em andamento.
Nicolas Riteau foi o primeiro pesquisador francês a chegar ao Brasil como parte da parceria. Na USP de Ribeirão, ele faz pesquisa na área de imunologia, olhando mais especificamente para fibrose pulmonar.
“Eu estou muito feliz de voltar e assinar essa carta de intenção para criar esse centro”, diz Petit, que comenta que, “sem querer entrar na questão política, as coisas estão mais fáceis agora [do ponto de vista de cooperação e relação entre Brasil e França] do que em anos anteriores”.
Além da área imunológica, o IRC também desenvolverá pesquisas nas áreas de humanidades, oceanos, descarbonização, biodiversidade, computação de alto desempenho e tecnologias quânticas.
Outras parcerias com existência de centros IRC, tal qual o IRC CNRS-USP Transitions, já existem com as universidades do Arizona e de Chicago, nos Estados Unidos, com o Imperial College London, no Reino Unido, e com a Universidade de Tóquio, no Japão e provavelmente mais uma unidade será aberta no Canadá, em breve.
Apesar de haver áreas de interesse, Petit afirma que deve haver limitações e que as portas estarão abertas para pesquisadores das duas instituições que tenham ideias.
Em linhas gerais, a USP será responsável pela infraestrutura e pela recepção dos pesquisadores; o CNRS enviará os cientistas; e a Fapesp dará suporte aos projetos.
“Nós consideraremos os pesquisadores franceses que estiverem trabalhando aqui como se fossem do estado de São Paulo”, afirma à Folha Marco Antonio Zago, presidente da Fapesp. “Então eles poderão receber suporte da Fapesp para projetos independentes e a Fapesp dará suporte para o projeto e para coisas adicionais, como reuniões e seminários. Isso dará vida ao projeto.”
Os recursos financeiros exatos envolvidos na parceria ainda não são claros, por se tratar do primeiro ano do projeto, segundo Zago. “No próximo ano vai ser mais fácil de calcular”, diz.
Petit, na mesma linha, afirma ser difícil estimar neste momento, mas arrisca uma cifra de cerca de 3 milhões (R$ 16,2 milhões) para um período de cinco anos.
O valor investido pela CNRS será, no mínimo, equiparado pelo lado da Fapesp, segundo Zago. Os representantes das instituições lembram ainda da possibilidade de mais aportes internacionais para pesquisas.
Vahan Agopyan, secretário de Ciência, Tecnologia e Inovação do estado de São Paulo, também se mostrou satisfeito com a atração da CNRS para São Paulo. “Estamos felizes em provar que temos esse ambiente para pesquisa e desenvolvimento”, disse à Folha. “Nossa maior tarefa é conseguir traduzir o excelente trabalho de pesquisa em inovação.”
MACRON NO BRASIL
“Infelizmente, Emmanuel Macron não vai visitar o centro”, diz Petit, referindo ao fato de o presidente francês ter passado, nesta quarta-feira (27), por São Paulo. “Nós oferecemos, mas a agenda dele é muito complicada. Mas ele sabe que o centro existe.”
O presidente-diretor do CNRS e os representantes das outras instituições também lembrou do interesse do centro em biodiversidade, ainda mais lembrando das terras francesas no meio amazônia, com a Guiana Francesa.
Inclusive, Macron esteve na área e também visitou a amazônia brasileira junto com o presidente brasileiro Lula.
PHILLIPPE WATANABE / Folhapress