Portuguesa quer virar SAF para voltar a exercer papel de relevância no futebol

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Apesar de ter sido eliminada pelo Santos na fase de quartas de final do Campeonato Paulista de 2024, a Portuguesa tem motivos para comemorar. A tradicional agremiação lusitana alcançou sua melhor campanha no torneio estadual nos últimos 13 anos, que lhe garantiu presença na Série D do Campeonato Brasileiro em 2025.

Após o apito final, torcedores rubro-verdes presentes na Vila Belmiro sorriram mesmo com a derrota, enxergando o prenúncio de um renascimento da tradicional agremiação, que amargou a segunda divisão estadual entre 2016 e 2022 e não tem divisão nacional para 2024.

Uma das equipes que mais tiveram jogadores convocados para a seleção brasileira ao longo da história (33, entre eles Djalma Santos, Félix, Enéas e Ricardo Oliveira), tricampeã paulista (1935, 1936 e 1973) e vice-campeã do Brasileiro em 1996, a Portuguesa quer voltar a exercer um papel de maior relevância no cenário do futebol brasileiro.

Para isso, planeja concluir até o fim do ano as negociações para implementar o modelo de SAF (Sociedade Anônima do Futebol), vendendo a estrutura do futebol profissional para um grupo de investidores, nos moldes do que já foi feito nos últimos anos por uma série de clubes da Série A, como Botafogo, Vasco e Cruzeiro.

“A SAF é muito importante para um time em uma situação crítica como a Portuguesa. Não tem saída, você só arruma a estrutura com dinheiro”, disse Antonio Carlos Castanheira, presidente do clube, em entrevista à Folha de S.Paulo no Canindé.

As dívidas da Portuguesa somam hoje cerca de meio bilhão de reais, com custos mensais da ordem de R$ 120 mil para a manutenção da operação. Para conseguir quitar o débito e ainda investir na formação de um elenco competitivo para as disputas do próximo ano, Castanheira vê como única alternativa buscar um grupo de investidores com poderio financeiro para assumir o futebol do clube.

“Times como a Portuguesa, que têm um passivo grande, precisam se reestruturar para voltar a ser protagonistas como já foram. É preciso investimento, e a SAF realmente é a saída”, afirmou o dirigente.

As conversas estão em andamento há cerca de um ano e meio, e o clube já tem adotado as medidas necessárias para se transformar em uma sociedade anônima. Uma das principais é segregar o futebol do clube social, financeira e operacionalmente.

“Já executo esse modelo na prática. Não tem mais nada aqui no Canindé”, disse Castanheira, acrescentando que toda a operação do futebol foi transferida para o centro de treinamento do clube, localizado na rodovia Ayrton Senna. “Espero que, no máximo até o final do ano, a gente esteja com a SAF aberta e funcionando, para que façamos um Paulista [em 2025] de outra forma, sem aperto financeiro.”

O presidente preferiu não divulgar o nome do investidor interessado, mas afirmou tratar-se de um grupo ligado ao futebol, com um “fundo importante por trás”.

Os investidores estão no momento terminando a fase de diligências das contas da agremiação. O presidente diz que, quando assumiu, em dezembro de 2019, encontrou 286 ações trabalhistas pendentes. Foram quitadas 202 desde então, mas há ainda ações civis e tributárias que precisarão ser equacionadas por quem assumir a instituição centenária fundada em 1920.

Além das tratativas naturalmente demoradas envolvendo um negócio desse tipo, por uma opção da gestão do clube, as conversas foram postergadas à espera de um momento mais favorável.

Em 2020, quando o clube disputava a segunda divisão estadual e não tinha calendário em competições de abrangência nacional, o valor de mercado que lhe era atribuído era de aproximadamente R$ 90 milhões. Agora, com a manutenção na elite do Paulista pelo terceiro ano seguido e com a participação garantida na Série D nacional, o valor subiu para R$ 190 milhões, uma alta de mais de 100%. “As conquistas dentro do campo deram credibilidade”, declarou Castanheira.

Quando ele assumiu a presidência da Portuguesa, o clube tinha as contas bloqueadas e o estádio do Canindé estava prestes a ser leiloado. Não havia dinheiro para pagar as contas de luz e água.

O dirigente diz ter implementado um processo de reestruturação financeira. Fechou uma série de acordos para iniciar a quitação dos débitos e criou um núcleo de marketing para atração de patrocinadores e receita.

Graças ao apoio financeiro, na edição deste ano do Paulista, contando com jogadores experientes no plantel, como Henrique Dourado e Giovanni Augusto, sob o comando do técnico Pintado, a Portuguesa teve folha salarial de cerca de R$ 1,2 milhão mensais, a maior da atual gestão.

Ainda assim, a classificação só foi obtida por causa do exótico regulamento da competição, que permitiu à formação rubro-verde avançar com apenas 10 pontos em 12 jogos –dois pontos a mais do que o rebaixado Santo André.

Para a próxima edição estadual e a disputa da Série D, a expectativa é que a folha, com o apoio da SAF, seja sensivelmente maior, com um elenco capaz de colocar o time novamente na fase de mata-mata do Paulista e de conquistar o acesso à Série C do Brasileiro.

A última vez que a Portuguesa disputou a primeira divisão do Brasileiro foi em 2013. Naquele ano, acabou rebaixada ao ser punida com a retirada de quatro pontos pela escalação irregular do meia Heverton. A decisão favoreceu o Fluminense, que era o primeiro na zona de rebaixamento e escapou.

A partir daí, a equipe embicou em uma trajetória descendente. Em 2014, foi rebaixada para a Série C; em 2016, para a Série D. Em 2017, foi eliminada ainda na primeira fase na quarta divisão do Brasileiro. Em 2018, ficou sem calendário nacional pela primeira vez desde 1979.

Segundo Castanheira, o que mais contribuiu para a derrocada da agremiação lusitana na década passada foi a falta de pessoas qualificadas para tocar o time de maneira responsável. Para o atual mandatário, eram torcedores abnegados, mas sem preparo e tempo para se dedicar como deveriam à equipe. “Não adianta culpar a federação, o caso Heverton, o juiz. O que aconteceu foi pura incompetência das pessoas que estiveram à frente da Portuguesa.”

Castanheira está no seu segundo mandato, que se encerra em 2025 –o estatuto do clube não permite um terceiro mandato. “O que está rodeando a Portuguesa em termos de pessoas não é bom, infelizmente. A torcida tem que ficar atenta.”

LUCAS BOMBANA / Folhapress

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