SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Depois da enchente histórica que atingiu o Acre em fevereiro, extrativistas da reserva Chico Mendes sofrem os impactos do incidente até agora, principalmente pela falta de alimentos e perda de produções, de acordo com o comitê que representa os trabalhadores.
Diante disto, organizações sem fins lucrativos mobilizam uma campanha de doações, que busca ajudar cerca de 700 famílias afetadas em Xapuri -município onde fica a Casa de Chico Mendes, tombada em 2011 e hoje sob responsabilidade do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
Ângela Mendes, filha de Chico Mendes e presidente do comitê que leva o nome do pai, destaca que promove a campanha, junto a outras organizações, por notar que algumas populações, como os extrativistas, são as mais vulneráveis perante as consequências das mudanças climáticas.
“A gente viu a necessidade de organizar essa campanha olhando para as dificuldades e para a realidade dos extremos climáticos que está atingindo todo mundo, sobretudo as populações que estão nos lugares mais invisibilizados, à margem de políticas públicas”, afirmou.
Ângela disse que segue o legado do seringueiro, morto em 1988, em manter a floresta de pé e proteger as populações tradicionais. Para a ativista, a ajuda humanitária oferecida pelos governos federal e estadual e a prefeitura não são suficientes para minimizar os prejuízos causados aos trabalhadores rurais.
“O que o poder público faz nesse caso é destinar cestas básicas, mas isso é insuficiente. É preciso olhar através de políticas públicas de isenção, protelar os créditos, porque principalmente na situação de quem tinha produção e perdeu, pensando na sobrevivência, vai precisar de um apoio a médio e longo prazo até restabelecer essa produção”, declarou.
O comitê informou que mais de 200 famílias ficaram desalojadas após a enchente. Ângela também pede atendimentos voltados a saúde mental dos extrativistas, que a cada ano sofrem com as perdas que vão de suas produções até as suas casas.
“A enchente desse ano foi a mais intensa do que de 2023. E em menos de um ano, a gente tem essa recorrência de novo, por isso que eu acho que é muito urgente trazer esse debate de olhar para essa realidade considerando aspectos econômicos, ambientais e sociais, com foco na recuperação das pessoas e inclusive para essa questão da saúde mental”, continuou.
A cheia do rio em 2024 levou 19 dos 22 municípios do Acre a entrarem em estado de emergência. Entre os mais afetados estão Brasileia, Assis Brasil, Marechal Thaumaturgo, Santa Rosa do Purus e Jordão – sendo as duas últimas com 80% e 70% das populações totais compostas por povos indígenas, respectivamente, que ficaram isolados. Três pessoas morreram por afogamento em decorrência da enchente e, ao todo, mais de 120 pessoas foram prejudicadas.
Outra questão enfatizada pelo Comitê Chico Mendes é o desmatamento na reserva, o que agrava mais a crise climática.
Em nota, o ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) disse que, além do alto nível que subiu as águas, os locais que mais sofreram com a enchente foram aqueles em que a mata ciliar está degradada.
As áreas perdidas de produção, segundo o ICMBio, passam de 1.000 hectares onde estão inseridas principalmente as culturas de macaxeira, arroz, feijão e banana. O instituto afirmou que serão disponibilizadas 1.440 cestas básicas a 720 famílias residentes da reserva.
Sobre as ações contra o desmatamento na unidade, o ICMBio citou que o Prodes (Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite) indica, que em 2023, houve uma redução de 54%.
O instituto informou que a Reserva Chico Mentes é prioritária no PPCDAm (Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal) e serão implementadas, além do comando e controle, o aumento das ações de fiscalização, recuperação de áreas degradadas e incentivo às cadeias da bioeconomia.
O governo estadual informou que enviou cestas básicas, unidades de água mineral de 2 litros e kits de limpeza para a população de Xapuri, totalizando 6 mil pessoas beneficiadas. O Executivo destacou, ainda, que fez a limpeza da cidade, com a retirada de entulhos que ficaram espalhados.
A prefeitura de Xapuri informou que atende as populações das áreas urbanas e rurais que foram prejudicadas. O município disse que montou abrigos em escolas públicas, ginásios e hotéis, com a oferta de alimentação e assistência social. Foi realizado também a operação “Volta pra casa” para as famílias, que puderam retornar aos seus lares, e 22 famílias ainda recebem o aluguel social e poderão ser incluídas na lista de casas populares, que serão entregues pela prefeitura.
Para fazer doações para as famílias afetadas, o Comitê Chico Mendes disponibiliza a chave pix 42.027.188/0001-01(CNPJ).
Redação / Folhapress