SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – “As brasileiras não são as mais bonitas?”, é o que pergunta Maria, mãe de Rudy, que tenta arrumar uma namorada brasileira para o filho, criado em Newark, Nova Jersey. Ele, por sua vez, responde em inglês que não está interessado. É nessa troca de idiomas, começando uma frase em português e terminando em inglês, que se passa “Música”.
Rudy Mancuso interpreta ele mesmo no filme, que conta uma história baseada na sua própria vida como filho de uma imigrante brasileira nos Estados Unidos, vivida por Maria Mancuso, sua mãe. O escritor e diretor, que ficou conhecido pelos vídeos no antigo Vine (rede social que deu origem ao TikTok), queria representar fielmente a vida de um americano que tem um pezinho no Brasil, e escolheu a parceira perfeita para isso.
Camila Mendes, estrela de “Riverdale” e “As Justiceiras” (Netflix), virou queridinha no Brasil após revelar que é filha de imigrantes e fala ótimo português, apesar de ter interpretado somente papéis de garotas latinas em Hollywood. Desta vez, ela interpreta Isabella, jovem brasileira que se apaixona pelo protagonista. Na vida real, os atores se identificaram tanto que viraram também um casal, ainda durante as gravações, e falaram com o F5 sobre as suas experiências.
Rudy que nasceu nos EUA, mas diz amar o Brasil gostaria de ver seu país mais representado no cinema, então teve a ideia de fazer um filme que abarcasse características dos dois países. “Nós não podemos falar sobre ser completamente nascidos e criados no Brasil, então a mãe do personagem principal é a representação disso, e nós somos a primeira geração de brasileiros-americanos da família. Eu espero que todos possam sentir como é se identificar com duas culturas”, diz Camila.
A atriz diz que apresentar aspectos básicos brasileiros não conhecidos pelos americanos, como sons, comidas e música, é um grande retorno que o filme pode trazer, já que eles se transformam em grandes traços culturais, aos olhos dos outros. Rudy completa que isso pode acontece com pessoas de diferentes culturas: “Filhos de imigrantes vão se identificar”.
SINESTESIA
Na trama, Rudy é um artista de rua, que se vê perdido com uma condição rara chamada sinestesia, fenômeno neurológico que provoca a percepção de vários sentidos de uma só vez. No seu caso, ele escuta música em qualquer barulho ambiente. Por sorte, estas músicas são também sua paixão.
“Acho que, para mim, o que faz a cultura brasileira ser única é a música. A musicalidade e a linguagem, a musicalidade e o movimento. É bem difícil de descrever em palavras, mas o ritmo brasileiro é tão único, é tão específico. A bossa nova, o samba, forró, a batucada”. “É isso que eu gostaria que os outros conhecessem”, diz ele, misturando as duas línguas.
CAMILA NO BRASIL
Atendendo aos pedidos dos fãs brasileiros, Camila diz que quer fazer mais produções que mostrem seu lado tupiniquim, mas confessa que não se sente 100% segura para isso.
“É legal vestir a nossa cultura brasileira com orgulho, porque não somos muitos em Hollywood. Mas, ao mesmo tempo, nós não somos os verdadeiros nascidos e criados no Brasil. Então, enquanto eu quero, sim, fazer papéis brasileiros, para mim seria difícil interpretar uma nativa, porque eu precisaria ser muito confiante”. “Há muitas brasileiras que fariam melhor que eu”, admite.
Mas, superando os desafios, os dois dizem que a mistura de culturas pode continuar em próximas produções. “Acho que esse filme é a oportunidade perfeita para nos reconectar com as nossas raízes brasileiras. Na minha opinião, é só o começo”, diz Rudy.
“Música” foi exibido no Festival SXSW, nos Estados Unidos, em 13 de março, e chegará à plataforma Prime Video na próxima quinta-feira, 4 de abril.
LUÍSA MONTE / Folhapress