Após polêmica com Bolsonaro e ministro de Lula, Agrishow faz abertura antecipada e sem público

RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – Principal feira agrícola do país, a Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação) antecipou a cerimônia de abertura deste ano, que será restrita, sem a presença dos visitantes.

A alteração, inédita no evento que chega à sua 29ª edição, ocorre após a solenidade do ano passado ter sido cancelada devido a uma polêmica envolvendo o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O anúncio foi feito nesta quarta-feira (3) em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), que sediará o maior evento do setor entre os dias 29 de abril e 3 de maio.

Antes marcada para o início da manhã do primeiro dia, sempre uma segunda-feira, a abertura oficial neste ano será no dia 28, domingo, exclusivamente para expositores, autoridades e jornalistas. Para o público, os portões abrirão às 8h do dia 29.

No ano passado, o ministro Carlos Fávaro (Agricultura) disse ter se sentido “desconvidado” ao receber a sugestão do então presidente da Agrishow, Francisco Matturro, de não comparecer à abertura, que contaria com a presença de Bolsonaro.

O ato gerou uma forte crise com o governo Lula, que avaliou suspender o patrocínio do Banco do Brasil à feira e cancelou as agendas de executivos do banco durante a Agrishow.

A abertura acabou cancelada a menos de dois dias de sua realização, mas Bolsonaro esteve em Ribeirão, participou de um evento no auditório do IAC (Instituto Agronômico de Campinas), do Governo de São Paulo, comandado por seu aliado Tarcísio de Freitas (Republicanos), e discursou a ruralistas –no mesmo horário em que ocorreria a abertura oficial, caso tivesse sido mantida. Criticou o governo Lula principalmente em relação às demarcações de terras indígenas.

No último dia da Agrishow do ano passado, a organização anunciou que João Carlos Marchesan, primeiro vice-presidente do conselho de administração da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), substituiria Matturro nas edições deste ano e de 2025. A feira afirmou que a saída fazia parte de um processo de rodízio instituído em 2007.

“Tomamos essa iniciativa de fazer o evento no domingo porque os expositores reclamavam que não tinham oportunidade de conversar com as autoridades, de receber as autoridades, de estar presente no dia, porque quando abre a feira todo mundo está dentro do seu estande, atendendo e recebendo os seus clientes agricultores e assim por diante. E também a gente percebia e tinha essa noção clara que tumultuava muito a feira qualquer autoridade que vinha na feira na segunda-feira”, afirmou Marchesan.

Pesou também na decisão, segundo relatos feitos por expositores, a pressão exercida nos últimos anos por eles em relação à perda de quase meio dia de feira com a cerimônia inaugural, já que visitantes se aglomeravam no local para acompanhar o evento, assim como executivos das fabricantes.

Prefeito de Ribeirão, Duarte Nogueira (PSDB) disse que a inédita alteração tem como objetivo “evitar o transtorno daquela muvuca toda que é criada com as autoridades”. “Aquele processo todo durante a abertura, dentro de um dia bastante concorrido, que é a segunda-feira”, afirmou.

Em 2023, partiu dos grandes expositores e membros das entidades organizadoras o pedido para cancelar a abertura, já que não havia clima dado o imbróglio envolvendo o atual governo e o ex-presidente.

A Agrishow afirma que, do governo federal, foram convidados para a abertura o presidente Lula, o vice-presidente, Geraldo Alckmin (PSB), e ministros, além do governador paulista.

“Todos os políticos, quer seja no âmbito estadual, quer seja no âmbito federal, todas as autoridades pertinentes que são dos setores foram convidadas, começando pelo senhor presidente da República, o vice-presidente da República, o ministro da Agricultura, o ministro do Desenvolvimento Agrário”, afirmou Marchesan.

Bolsonaro, entretanto, é aguardado por um grupo de ruralistas da região, assim como já ocorreu nos últimos anos. Caso confirme a visita e o protocolo seja mantido, no entanto, ele não participará da cerimônia de abertura.

EMPATE COM SABOR DE VITÓRIA

A expectativa é a de que a feira empate com os negócios gerados em 2023, o que é visto como positivo dado os problemas climáticos enfrentados no setor e à baixa cotação de algumas commodities.

A Abimaq projeta queda de 15% nas vendas de máquinas no ano, em comparação com o ano passado, segundo Pedro Estevão, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da entidade.

“Nós estamos em um período conjunturalmente não tão bom. Nós tivemos uma seca muito severa este ano. E as commodities têm um ciclo de alta e de baixa, nós estamos num ciclo de baixa. Então significa que nós temos um período um pouco mais restritivo”, afirmou.

Ele, porém, disse que a visão da indústria não é de olhar um ano apenas, mas a década, e a perspectiva já para o ano que vem é melhor.

Em 2023, a feira agrícola gerou R$ 13,29 bilhões em intenções de negócios (R$ 13,71 bilhões, atualizados pela inflação) e bateu também o recorde de visitantes em sua história, iniciada em 1994.

A Agrishow é organizada por Abimaq, Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), Faesp (Federação da Agricultura e da Pecuária de SP) e SRB (Sociedade Rural Brasileira).

NEGÓCIOS

O principal evento do setor será realizado num ano em que, em que pese a projeção de queda nas vendas feitas pela indústria, grandes feiras já realizadas anunciaram crescimento nos negócios.

A Expodireto Cotrijal, em Não-Me-Toque (RS), anunciou ter gerado R$ 7,92 bilhões em negócios encaminhados, faturamento recorde no evento, que está em sua 23ª edição.

O volume representa 8,49% de crescimento em relação aos R$ 7,3 bilhões (atualizados pela inflação) comercializados na edição do ano passado. Em valores nominais, a alta foi de 12,48%, em comparação com os R$ 7,04 bilhões de 2023.

Antes, a Show Rural Coopavel, em Cascavel (PR), gerou R$ 6,1 bilhões em intenções de negócios, ante os R$ 5 bilhões da edição anterior (R$ 5,23 bilhões, corrigidos pela inflação). Em cinco dias, 391 mil pessoas passaram pela feira.

Apesar disso, a indústria de máquinas está cautelosa: além da Abimaq, a Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) projeta vendas menores, com 54,3 mil unidades de tratores e colheitadeiras em 2024, patamar abaixo do registrado nos dois últimos anos.

Depois de um recorde histórico em 2022, com 70.262 tratores e colheitadeiras comercializados, 2023 registrou 60.981 unidades, redução de 13,2%.

MARCELO TOLEDO / Folhapress

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