Condutor do Porsche aparentava ‘embriaguez e tinha voz pastosa’, diz testemunha

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Duas testemunhas do acidente com o Porsche, que culminou na morte do motorista por aplicativo Ornaldo da Silva Viana, 52, na madrugada do domingo (31), em São Paulo, depuseram na tarde de terça-feira (2). Uma delas afirmou que o empresário Fernando Sastre de Andrade Filho, 24, apresentava sinais de embriaguez, cambaleava e tinha fala pastosa.

“Perguntou o nome do condutor da Porsche e o mesmo não conseguiu responder, bem como aparentava sinais de embriaguez, cambaleando, voz pastosa e não sabia dizer o que estava acontecendo”, descreve o relatório do depoimento.

A testemunha foi ouvida no 30º DP (Tatuapé) pelo delegado Nelson Vinicius Alves.

A testemunha estava no carro com duas pessoas e disse no depoimento que viu o Porsche ultrapassando o outro veículo em alta velocidade, na avenida Salim Farah Maluf, no Tatuapé, zona leste. Eles comentaram “ele vai bater”, e segundos depois viram o acidente e pararam para prestar socorro.

Segundo o relato, os três foram em direção ao Renault Sandero, mas um outro rapaz já ajudava o motorista e tinha ligado para o resgate.

A testemunha contou que ligou para a Polícia Militar e foi em direção ao Porsche. Um de seus amigos tentava tirar o empresário e o passageiro do Porsche de dentro do veículo de luxo. Eles aparentavam estar atordoados e perdidos, segundo o depoimento.

O telefone de Sastre tocou e esse amigo atendeu. A pessoa na chamada se identificou como mãe do empresário e foi informada sobre o acidente.

Na sequência, a testemunha disse que chegarem duas garotas em outro veículo, e que uma se apresentou como namorada do empresário. As garotas, segundo o depoimento, queriam levar os dois ocupantes para um hospital, mas foram impedidas por ela e por outras pessoas, que disseram que eles só sairiam de lá depois que o motorista do Sandero fosse atendido.

Ainda de acordo com a testemunha, antes da chegada do resgate, apareceu uma mulher “bastante alterada e nervosa, gritando”, que ela depois soube ser a mãe do motorista do Porsche.

“Em nenhum momento os ocupantes do veículo Porsche, ou as garotas que chegaram para dar apoio aos mesmos ou a a mulher que veio a saber ser a genitora do condutor do Porsche, prestaram qualquer tipo de atenção ou socorro para a vítima do Renault/Sandero”, narra o relatório policial sobre o depoimento da testemunha.

Em nota divulgada na noite de segunda (1º), os advogados de Sastre negam que seu cliente tenha fugido do local do acidente. De acordo com a defesa, quando o empresário deixou o local, acompanhado da mãe, as vítimas já estavam sendo socorridas —um passageiro do Porsche, de 22 anos, ficou ferido no acidente.

ENTENDA O CASO

De acordo com informações do boletim de ocorrência, o Porsche dirigido pelo empresário Fernando Sastre de Andrade Filho bateu na traseira do Sandero conduzido por Ornaldo da Silva Viana. Ele foi levado por bombeiros ao Hospital Municipal do Tatuapé, mas não resistiu aos múltiplos traumatismos e morreu. Imagens do acidente mostram o forte impacto da batida.

O empresário foi liberado pela Polícia Militar para ser levado ao Hospital São Luiz Ibirapuera, devido a um ferimento na boca, mas não foi encontrado no local por policiais que o procuraram na unidade para ouvi-lo e fazer o teste do bafômetro. A informação recebida pela PM foi que Fernando não havia dado entrada em nenhum hospital da rede São Luiz. Além disso, ele e a mãe não atenderam as ligações dos policiais.

A SSP (Secretaria da Segurança Pública) afirmou, em nota, que a PM apura a dinâmica da ocorrência para identificar eventual erro de procedimento.

Os advogados de Sastre afirmam que havia receio de linchamento, pois “naquele momento ele passou a sofrer linchamento virtual” e por isso houve a decisão de “resguardo”. A nota da defesa diz ainda que o empresário estava em choque com o acidente e a morte do motorista do outro veículo.

“Todas as circunstâncias do acidente serão devidamente apuradas no curso da investigação, com a mais ampla colaboração de Fernando”, afirma a defesa, em nota.

FRANCISCO LIMA NETO / Folhapress

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