SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O Brasil reduziu, em 2023, cerca de 36% da perda de floresta primária na comparação com 2022. O país atingiu, com isso, o nível mais baixo de desmatamento desde 2015, indica estudo divulgado nesta quinta-feira (4).
Os dados foram produzidos pela Global Forest Watch, plataforma da ONG WRI (World Resources Institute), em parceria com o Laboratório de Análise e Descoberta Global de Terras (Glad, na sigla em inglês), da Universidade de Maryland.
Mikaela Weisse, diretora do projeto Global Forest Watch, destaca que as florestas tropicais primárias representam os ecossistemas mais importantes para evitar a emissão de carbono e a perda de biodiversidade. “São as ferramentas mais efetivas para combater as mudanças climáticas”, resume.
As florestas tropicais primárias se caracterizam pela grande quantidade anual de chuvas, temperaturas médias elevadas, solo pobre em nutrientes e riqueza em biodiversidade. No Brasil, o maior exemplo é a floresta amazônica.
Weisse atribui a redução do desmate no Brasil em 2023 ao papel do governo federal. Neste primeiro ano de gestão, Lula (PT) e seus ministérios reforçaram o combate ao crime ambiental e reconheceram novos territórios indígenas. Apesar disso, o cerrado e o pantanal (maior planície alagada do mundo) tiveram perdas drásticas de vegetação.
“O declínio foi mais forte no bioma da amazônia, com 39% menos perda de florestas primárias em 2023 do que no ano anterior, mas, infelizmente, nem todos os biomas brasileiros viram a mesma tendência”, diz a diretora.
“No cerrado, que é o epicentro da produção agrícola no Brasil, houve um aumento de 6% na perda de cobertura arbórea entre 2022 e 2023, e o bioma do pantanal também viu um pico na perda florestal devido a incêndios no ano passado”, ressalta.
Em escala mundial, o Brasil representou 43% da perda total de florestas tropicais em 2022, índice que caiu para 30% em 2023.
Outro país que se destacou no estudo do WRI pelas mudanças de políticas na proteção das florestas foi a Colômbia, com 49% na redução de perda de floresta tropical primária em 2023, sob a liderança do presidente Gustavo Petro.
Entretanto, o mundo permanece distante de alcançar suas metas de zerar o desmatamento até 2030, conforme a Declaração dos Líderes de Glasgow. Os trópicos perderam 3,7 milhões de hectares de floresta primária, uma área quase do tamanho do Butão, equivalente a dez campos de futebol por minuto.
As reduções do Brasil e da Colômbia foram contrabalançadas por aumentos em Bolívia, Laos, Nicarágua e outros países. Saltos extraordinários em perdas de florestas ocorreram fora dos trópicos também, como no caso do Canadá, que teve recordes de incêndios.
No geral, os trópicos perderam 9% menos floresta tropical primária em 2023 do que no ano anterior. Porém, a taxa permaneceu estável se comparada aos anos de 2019 e 2021. Nas últimas duas décadas, o mundo perdeu de 3 milhões a 4 milhões de hectares de floresta tropical a cada ano, segundo o WRI.
Só a República Democrática do Congo perdeu mais de 500 mil de hectares de floresta tropical primária em 2023. A bacia do Congo, localizada na África Central, ocupando seis países, permanece, contudo, como um sumidouro de carbono, o que significa que a floresta absorve mais gás do que emite.
Para Teodyl Nkuintchua, líder de estratégia e engajamento da bacia do Congo no WRI, embora a taxa da República Democrática do Congo tenha crescido apenas 3% em 2023, o pequeno aumento contínuo, ao longo de muitos anos, se acumula e gera preocupação.
“As florestas tropicais são a espinha dorsal dos meios de subsistência dos povos originários e das comunidades locais em toda a África, e isso é especialmente verdadeiro na bacia do Congo”, diz Nkuintchua.
Na Bolívia, a perda aumentou em 27%, atingindo batendo recorde pelo terceiro ano consecutivo. O país teve a terceira maior perda de florestas primárias entre os países tropicais, apesar de ter menos da metade da área florestal da República Democrática do Congo ou da Indonésia.
A perda relacionada ao fogo representou 51% do total da Bolívia em 2023, à medida que o clima quente recorde levou incêndios provocados por humanos a se espalharem pelas florestas. A produção agrícola, especialmente a soja, também é um dos principais impulsionadores do desmate no país andino.
A Indonésia aumentou em 27% a sua perda em 2023, ano de El Niño, embora a taxa permaneça historicamente baixa em comparação com a dos meados da década de 2010. O fenômeno climático levou a preocupações quanto a uma nova temporada de incêndios, como em 2015, mas os impactos foram menos severos do que os inicialmente previstos.
Além disso, Laos e Nicarágua viram um aumento na perda de florestas primárias nos últimos anos, incluindo 2023. Os dois países têm taxas excepcionalmente altas em relação ao seu tamanho, perdendo 1,9% e 4,2%, respectivamente, de suas florestas primárias. Os saltos nesses países são, em grande parte, resultado da expansão agrícola.
JORGE ABREU / Folhapress