BOSTON E NOVA YORK, EUA (FOLHAPRESS) – Um terremoto de magnitude 4,8 atingiu o norte da Costa Leste americana nesta sexta-feira (5) às 11h23 (horário de Brasília), de acordo com o Serviço Geológico dos EUA (USGS, sigla em inglês). Tremores foram sentidos em grandes cidades como Nova York, Boston, Filadélfia e Washington, surpreendendo moradores de uma região que raramente experimenta atividade sísmica notável.
O epicentro do terremoto foi na cidade de Tewksbury, no estado de Nova Jersey, a cerca de 65 km a oeste de Nova York. Segundo o USGS, foi o maior abalo sentido desde 1950 em um raio de 250 km. Moradores dos estados de New Hampshire, Vermont, Connecticut, Rhode Island, Massachusetts, Nova York, Nova Jersey, Maryland, Delaware, Pensilvânia e Virgínia experimentaram os tremores.
Até agora, não houve registro de vítimas ou danos estruturais. O prefeito de Nova York, Eric Adams, recomendou que os habitantes da cidade se protejam caso sintam tremores secundários, mas que, fora isso, o dia deveria ser levado normalmente.
Em comunicado feito pela Casa Branca, o presidente Joe Biden disse ter conversado sobre o terremoto com o governador de Nova Jersey, Phil Murphy, e prometeu assistência do governo “se necessário”.
Desacostumados com tremores mais fortes, a população da área demorou a entender o que estava acontecendo não ajudou o fato de mensagens de alerta no celular terem demorado mais de 20 minutos para chegarem, o que vem gerando reclamações. Brasileiros ouvidos pela Folha de S.Paulo relatam ter pensado inicialmente ser um problema no edifício em que estavam, um caminhão passando na rua ou até a máquina de secar.
“A primeira coisa que me veio à cabeça foi que tinha acontecido algo na estrutura do prédio e que ele ia cair”, conta Giuliene Caleffo, 33, que mora a cerca de 20 quilômetros do epicentro.
Ela conta que foi a janela e viu árvores na rua balançando, e em seguida começou a receber mensagens de amigos que moram na região relatando também terem sentido tremores. “Aí vimos que era um terremoto mesmo. Colocamos tênis e saímos do apartamento”, diz ela, que estava com o marido no momento.
O casal mora na região da falha geológica de Ramapo, origem do abalo desta sexta e de outras atividades sísmicas na região. “Eu já vivi muito terremoto no Japão, acordava com a casa tremendo, virada de lado e dormia de novo. Mas o de hoje foi muito forte”, diz Giuliene.
Falhas geológicas são uma espécie de cisão entre duas formações rochosas. A de Ramapo atravessa o norte dos Montes Apalaches em Nova York, Nova Jersey e Pensilvânia.
“Eu estava em uma videochamada e vi que o chão começou a tremer. Fiquei meio em pânico, olhando para a rua esperando ver um caminhão passar”, diz Roberta Caisser, 32, que mora em um apartamento térreo em Manhattan.
Ela diz que se deu conta do que estava acontecendo apenas quando uma outra pessoa que estava na videochamada perguntou: “isso é um terremoto?”.
Juliana Klabunde, 38, achou primeiro que poderia ser a máquina de secar, depois o boiler, e finalmente um caminhão muito grande passando na rua ou em uma ponte próxima de onde mora. “Mas nada disso deveria levar o tempo que levou, foram uns 30 segundos, tudo chacoalhando, o gato desesperado”, afirma.
Lívia Daoud, 37, também fazia uma videochamada de casa quando sentiu o tremor. Inicialmente, ela achou que poderia ser um problema no prédio. “Eu cheguei a pensar: ‘será mesmo que é um terremoto? Existe isso aqui em Nova York?'”, conta.
Lívia afirma que a sensação foi horrível, e que não sabia o que era melhor a ser feito na situação: se sair de casa, ou ficar e se proteger debaixo da porta.
“Passei a maior parte da minha vida em Nova York e não lembro de nada como isso”, diz Anna Oakes, jornalista americana de 29 anos. Ela relatou à Folha de S.Paulo que achou, num primeiro momento, que se tratava de um tremor causado pelo metrô algo comum na cidade. Mas percebeu que nunca havia sentido isso do quinto andar do prédio onde mora, no Brooklyn, e que o abalo foi ficando mais forte e mais longo.
“Então ficamos perto da porta, que é o que se deve fazer durante terremotos.” Oakes e outros moradores da cidade relataram à reportagem que receberam alertas de emergência quase 40 minutos depois do terremoto a demora provocou críticas nas redes sociais. O comunicado recomendou aos nova-iorquinos permanecerem em casa e ligarem para o número 911 caso estivessem machucados.
Ana Luiza de A. Cláudio, que é pesquisadora em cultura visual da América Latina na Universidade de Columbia e curadora, estava comendo e ouvindo podcast em casa quando começou a perceber o tremor. “Tive que pausar por que estava tudo tremendo. Achei que fosse algo do edifício”, diz ela. “A geladeira e os armários começaram a tremer, caíram coisas de café da manhã, uma fruta e uma colher, da bancada.”
Durante uma transmissão ao vivo de uma partida de jogo online, o streamer conhecido como Oceane, registrou o terremoto. No vídeo, ele reage ao tremor: “Mano, tá tendo um terremoto em NY, p*rra!”
Charita Walcott, uma moradora de 38 anos do bairro do Bronx, em Nova York, disse que o terremoto pareceu “um estrondo violento que durou cerca de 30 segundos ou mais”. “Era como estar em uma roda de tambores, aquela vibração”, disse ela.
Nas redes sociais, o Empire State Building, famoso edifício de Nova York, brincou com o ocorrido. “Eu estou bem”, publicou no X.
Após o abalo, os aeroportos da área metropolitana de Nova York começaram a realizar inspeções nas pistas. Os voos foram suspensos, mas retomados às 13h30 (horário do Brasília), de acordo com a Administração Federal de Aviação (FAA). Atrasos residuais eram esperados.
Inicialmente, a agência de notícias Reuters divulgou que o terremoto registrou 5,5 de magnitude no tremor e depois alterou a análise para 4,7. Posteriormente, o Centro de Pesquisas Geológicas dos EUA confirmou que o terremoto teve 4,8 de magnitude.
Na última quarta-feira (3), a ilha de Taiwan foi atingida pelo maior terremoto em 25 anos. O tremor de magnitude 7,4 deixou 12 mortos e mais de mil feridos. Nesta sexta, equipes de resgate tentavam retirar 400 hóspedes e funcionários de um hotel de luxo, e buscavam 18 pessoas que seguiam desaparecidas.
FERNANDA PERRIN E CAROLINA MORAES / Folhapress