LISBOA, PORTUGAL (FOLHAPRESS) – A maior parte da população do norte da Faixa de Gaza tem sido forçada a sobreviver com uma média de 245 calorias por dia, enquanto convivem no conflito bélico entre Hamas e Israel, que completa seis meses no próximo domingo (7). O montante é inferior a 12% das necessidades médias diárias de uma pessoa estipulado em 2.100 calorias.
Os dados foram divulgados em relatório global da ONG Oxfam, publicados pelo site da instituição na quarta-feira (3). O estudo baseia-se nos últimos dados disponíveis utilizados na recente análise da Classificação Integrada da Fase de Segurança Alimentar (IPC) para a Faixa de Gaza.
Como comparação, a análise diz que as 245 calorias representam “menos do que uma lata de feijão”. “Antes da guerra, tínhamos corpos fortes e boa saúde. Agora, olhando para os meus filhos e para mim, perdemos muito peso porque não comemos nenhum alimento adequado, estamos tentando comer tudo o que encontramos”, disse uma mãe, não identificada pela ONG, impedida pelo conflito de deixar o norte de Gaza.
A quantidade recomendada de 2.100 calorias por pessoa é calculada com base em dados demográficos, considerando variações por idade e sexo. Segundo o estudo, o governo israelense sabe “exatamente quantas calorias diárias são necessárias para prevenir a desnutrição”.
“Israel está fazendo escolhas deliberadas para matar civis de fome. Imagine como é não apenas tentar sobreviver com 245 calorias todos os dias, mas também ter que observar seus filhos ou parentes idosos fazerem o mesmo”, afirma Amitabh Behar, diretor-executivo da Oxfam Internacional.
Em geral, Israel nega que esteja dificultando a distribuição de ajuda alimentar em Gaza, onde a fome se alastra devido aos bloqueios impostos pelas operações militares. Tel Aviv alega que o problema é causado pela suposta incapacidade logística dos grupos de ajuda internacional.
O relatório do IPC aponta que quase toda a população em Gaza enfrenta situação de fome extrema. “São 1,1 milhão de pessoas enfrentando uma insegurança alimentar catastrófica. É assustador que as crianças já morram de fome e subnutrição, muitas vezes agravadas por doenças”, alerta a ONG.
O desespero da população local é demonstrado diariamente por causa da fome. No último sábado (30), cinco palestinos morreram durante uma distribuição de alimentos no norte da Faixa de Gaza, segundo o Crescente Vermelho, equivalente à Cruz Vermelha no mundo islâmico.
De acordo com a organização, três das cinco pessoas morreram por disparos. Outras 30 ficaram feridas em um tumulto enquanto a comida era distribuída. O Exército de Israel afirmou que não tinha informações sobre o ocorrido.
Na semana passada, a Corte Internacional de Justiça (CIJ), mais conhecida como Corte de Haia, ordenou de forma unânime que Israel tome todas as medidas necessárias para garantir o fornecimento de alimentos básicos à população na Faixa de Gaza.
Com o cenário se agravando, a comunidade internacional vem buscando alternativas à entrega de suprimentos por terra. No início de março, assim, os Estados Unidos seguiram uma estratégia que já vinha sendo usada pela França e pela Jordânia e realizaram pela primeira vez a distribuição de ajuda humanitária por via aérea, lançando 38 mil refeições sobre a faixa de terra em paraquedas.
No último dia 26, ao menos 12 palestinos morreram afogados ao tentarem buscar pacotes de ajuda humanitária lançados por aviões em um local na costa da Faixa de Gaza, informaram as autoridades de saúde do território, ligadas ao Hamas.
Vídeos obtidos pela agência de notícias Reuters mostram uma multidão correndo em direção à praia em Beit Lahia, no norte do território palestino, ao avistarem caixotes com suprimentos sob paraquedas se aproximando do oceano. No início de março, pacotes com ajuda humanitária atingiram civis e mataram pelo menos cinco pessoas.
O chefe da UNRWA, a agência da ONU para refugiados palestinos, disse no mês passado que parte da assistência enviada à Faixa de Gaza tem sido interceptada pela população em grave crise humanitária.
“As pessoas estão parando os caminhões, pegando os alimentos e comendo-os imediatamente. Isso mostra como estão desesperadas e famintas”, disse Philippe Lazzarini no Fórum Global de Refugiados em Genebra, na Suíça.
Redação / Folhapress