SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após vereadores trocarem de partido para concorrer à reeleição no pleito de outubro, a Câmara Municipal de São Paulo tem uma nova configuração, com maioria do MDB, partido do prefeito Ricardo Nunes, e sem nenhum representante do PSDB, que antes detinha a maior bancada, com oito, e agora vive uma crise.
A legislação eleitoral estabelece uma janela de um mês para que os vereadores mudem de legenda à vontade, prazo que se encerrou no sábado (6). Fora desse período, os eleitos que trocam de legenda arriscam perder seus mandatos para os suplentes, a não ser em algumas exceções previstas na lei.
Nunes, que já angariou o apoio de ao menos outros 10 partidos na corrida para a reeleição, segue com ampla maioria na Casa –37 de 55 vereadores (67%). Além disso, o presidente da Câmara, Milton Leite (União Brasil), é aliado do prefeito e pleiteia, inclusive, ser candidato a vice em sua chapa.
Os vereadores que eram do PSDB declaram apoio a Nunes, mas a executiva municipal do partido votou para rejeitar a aliança com o prefeito, o que agravou o imbróglio na sigla. Com isso, a bancada tucana migrou para MDB, PSD, PL e União Brasil.
O MDB passou de 6 vereadores para 11, incorporando 4 dos ex-tucanos. Outro que ingressou no MDB foi o vereador Sidney Cruz do Solidariedade, partido que também ficou zerado no Legislativo paulistano. Por outro lado, o MDB perdeu a vereadora Janaina Lima para o PP.
Presidente do MDB na capital e secretário da gestão Nunes, Enrico Misasi afirma que o plano de desenvolvimento do partido foi “capaz de unir diferentes lideranças e visões políticas”. Para ele, além da reeleição do prefeito, o MDB poderá garantir “forte representatividade no Poder Legislativo local, não apenas em quantidade, mas sobretudo na qualidade”.
Se Nunes tem a maior bancada da Casa, seu principal rival na eleição, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL), tem o apoio da segunda maior, a do PT, com 9 vereadores –antes eram 8. A troca foi de Adriano Santos, que estava no PSB.
O PSOL, por sua vez, passou de 6 para 5. A vereadora Jussara Basso deixou o PSOL e entrou no PSB.
A oposição de esquerda, portanto, soma 14 vereadores.
Presidente do PT na capital, Laércio Ribeiro diz que o crescimento do PT é “orgânico e programático”. “O mesmo não se pode dizer dos partidos que têm se movimentado no entorno do atual governo chefiado por Nunes, sendo nitidamente mudanças fisiológicas”, completa.
Em terceiro está a União Brasil, que se manteve com sete na bancada. O deputado federal Kim Kataguiri (União Brasil-SP) é pré-candidato à prefeitura, mas Milton Leite deve barrar a candidatura para formar coligação com Nunes.
O PSD, do secretário estadual Gilberto Kassab, e o PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, siglas que estão em expansão em São Paulo, dobraram para seis vereadores cada, também absorvendo o espólio tucano.
Se filiaram ao PL os dois secretários estaduais que deixaram o governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) para tentarem a reeleição como vereadores, Sonaira Fernandes, que comandava a pasta de Políticas para a Mulher e estava no Republicanos, e Gilberto Nascimento Jr, que comandava o Desenvolvimento Social e estava sem partido. Bolsonarista, Sonaira é cotada para a vice de Nunes.
No PSD, ingressaram o vereador Thammy Miranda, que deixou o PL, e o ex-secretário municipal Carlos Bezzerra Jr., que retomou o mandato e saiu do PSDB.
Em seguida, estão siglas menores –Republicanos (3), Podemos (2), PP (2) e PSB (2). Novo e PV têm um vereador cada.
O PSB lançou a deputada federal Tabata Amaral para a Prefeitura de São Paulo, enquanto o Novo tem a economista Marina Helena como candidata. Com 8% e 7% no Datafolha, respectivamente, elas ocupam o segundo escalão, sendo que Boulos (30%) e Nunes (29%) empatam na liderança.
A nova composição da Câmara reflete a instabilidade e o declínio do PSDB em São Paulo desde o último ciclo eleitoral, depois da morte do então prefeito Bruno Covas (PSDB) em maio de 2021.
Os vereadores antes tucanos deixaram a sigla com receio de não se reelegerem ante a desorganização no partido, que passou por trocas sucessivas de comando, e a diminuição do eleitorado simpático ao PSDB. Em 2022, a legenda perdeu o Governo de São Paulo e encolheu na Câmara dos Deputados.
Além disso, o PSDB está dividido na eleição municipal. Os oito vereadores ex-tucanos apoiam Nunes, assim como a bancada de deputados estaduais e boa parte da militância, que veem no prefeito a continuação de Covas. Pesa o fato de que o tucanato está abrigado na máquina municipal.
A cúpula do PSDB, no entanto, rejeita formar coligação com Nunes. Alinhado com a direção nacional do partido, o presidente municipal, o ex-senador José Aníbal, conduz negociações que podem levar a uma aliança com Tabata, o mais provável, ou ao lançamento de um candidato próprio.
Na semana passada, o PSDB filiou o apresentador José Luiz Datena, que pode ocupar a vice de Tabata ou pode concorrer à prefeitura.
O vereador João Jorge, que trocou o PSDB pelo MDB, diz que a indefinição da sua antiga sigla pesou para a debandada. “Isso incomoda muito o vereador. Quem é o candidato a prefeito [do PSDB]?”, questiona, acrescentando que toda a bancada apoia Nunes, mas o partido não teve essa posição.
“O PSDB está sem rumo, sem projeto. Há um desgaste do partido perante a sociedade. E não havia uma chapa de vereadores sendo montada, com as trocas no comando não havia quem montasse”, completa.
Ao Painel Aníbal e o presidente nacional do PSDB, Marconi Perillo, minimizaram a perda de todos os vereadores e atribuíram as migrações ao fisiologismo.
CAROLINA LINHARES / Folhapress