SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A guerra Israel-Hamas, que completou seis meses último domingo (7), tem galvanizado a comunidade árabe do Brasil, em especial os palestinos. Essa coletividade se reúne em São Paulo em 17 de maio para o 11º congresso da Fepal (Federação Árabe Palestina do Brasil), entidade que os representa. Vão eleger seu presidente para o mandato de quatro anos.
O encontro estava previsto para novembro passado, mas foi adiado pelo conflito em Gaza, que concentrou todos os esforços da comunidade. O tema do evento é justamente o papel da diáspora no Brasil pela criação de um Estado palestino.
Mesmo antes da guerra, os palestinos já viviam um movimento de reorganização no país, diz Ualid Rabah, presidente da Fepal e filho de palestinos, nascido no interior do Paraná. Nestes seis meses, a entidade tem buscado participar do debate público, seja nas redes sociais ou na mídia tradicional, ocupando um espaço perdido havia tempo.
A Fepal surgiu em 1979. Era parte de um movimento mais amplo da OLP (Organização para a Libertação da Palestina), que buscava articular a diáspora na América Latina em torno da luta pelo Estado próprio. “Houve uma desmobilização em virtude da esperança [que se criou em torno] de Oslo”, afirma Rabah, referindo-se ao acordo firmado em 1993 entre palestinos e israelenses.
Havia naquele momento a possibilidade, que parecia real, de que o conflito fosse solucionado em breve. O assassinato do primeiro-ministro israelense Yitzhak Rabin em 1995, no entanto, enterrou a ideia.
No início dos anos 2010, a comunidade começou a se rearticular, diz o líder da Fepal. Sua gestão, iniciada em 2019, foi pautada por esse objetivo. “Os palestinos precisam ser donos de sua própria causa. Nunca mais deveria se falar da questão palestina sem ouvir a Fepal, como se faz com a Conib [Confederação Israelita do Brasil]”, afirma o palestino, em alusão ao nível de organização das entidades judaicas no país.
Como parte desse processo, a Fepal passou a defender até uma mudança de vocabulário. Em vez de dizer “palestinos-brasileiros”, a federação prefere “brasileiros-palestinos”, para evidenciar o pertencimento ao país.
Em sua estratégia de comunicação, a Fepal tem descrito os atentados do Hamas como “autodefesa”. Também critica a imprensa pelo que descreve como um “incitamento midiático” da guerra, que chama de “genocídio televisionado”. O uso do termo “genocídio” levou a críticas, assim como ocorre quando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) o emprega de forma reiterada.
O movimento palestino tem buscado também estabelecer pontes acadêmicas. Rabah cita o exemplo de Maiara Nafe, uma descendente que participa hoje da diretoria da UNE (União Nacional dos Estudantes). Há ainda grupos de discussão em aplicativos como o WhatsApp para debater as notícias de Gaza.
Quando se fala em imigração árabe, o enfoque costuma ser nos sírios e libaneses, a maioria dos que chegaram ao Brasil no início do século 20. Os palestinos, porém, fizeram parte desse fenômeno, ainda que pouco se fale sobre seus pioneiros.
Não se sabe ao certo quantos palestinos vieram para cá. As estimativas variam de 60 mil a 200 mil pessoas, incluindo imigrantes e descendentes. Há importantes comunidades em outros países da América Latina, como Chile e El Salvador –o presidente salvadorenho, Nayib Bukele, é de origem palestina. Historiadores têm sugerido, nos últimos anos, que a diáspora nas Américas foi fundamental para a construção de uma identidade palestina durante o século 20.
DIOGO BERCITO / Folhapress