SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Único alvo da Operação Fim da Linha que não foi preso nesta terça-feira (9), Silvio Luiz Ferreira, 46, já foi flagrado com mais de meia tonelada de maconha numa garagem de uma cooperativa de ônibus, há 12 anos. Ele é apontado em uma denúncia do Ministério Público de São Paulo como “notória liderança” da facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) e está desaparecido há dez anos.
A Fim da Linha mirou dirigentes de duas empresas de ônibus que atuam no transporte municipal de São Paulo, a Transwolff e a Upbus. Segundo a Promotoria, as empresas estariam lavando dinheiro proveniente do tráfico de drogas, roubos e outros crimes. Procuradas na manhã desta terça, as empresas não responderam.
Ferreira, que usa Cebola como um de seus codinomes, tem uma ligação conhecida há anos com a empresa Upbus. A apreensão de maconha, em 2012, ocorreu num endereço da cooperativa Paulistana G2, na Vila Jacuí, na zona leste da capital. A mesma associação, na mesma garagem, daria origem à Qualibus, que mudou de nome para Upbus.
No flagrante, Cebola teria admitido que a droga e o dinheiro encontrados pela polícia eram seus. Relatórios do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado) do Ministério Público registram que a companheira de Cebola era acionista da Upbus em 2020.
Documentos apresentados por promotores à Justiça também mostram que o investigado usa emails e endereços de funcionários das empresas de ônibus para “camuflar” sua identidade, “valendo-se de dados falsos em nome de terceiros, até mesmo nos endereços eletrônicos e no icloud de cadastro do seu iPhone”, diz um relatório.
No entanto, o principal motivo para que Cebola seja um alvo tão procurado é seu papel na “sintonia do progresso”, setor do PCC responsável pelo comércio de drogas. Segundo o Gaeco, ele era encarregado da compra de produtos utilizados para a preparação da cocaína.
Os investigadores concluíram que ele tinha papel preponderante na fabricação de drogas após analisar mensagens de um celular apreendido com outro investigado Robson Sampaio de LIma, vulgo “Tubarão”. O Gaeco afirma que informações do núcleo de inteligência da SAP (Secretaria de Administração Penitenciária) confirmam essa suspeita.
“Silvio estava subordinado ao corréu Marcos Roberto [de Almeida, o Tuta], que ocupava a função de sintonia final da rua, sendo certo que exercia controle sobre todos os setores da organização criminosa relacionados às atividades de tráfico de drogas”, diz uma petição da Promotoria.
Os promotores dizem que conversas em telefones apreendidos mostram “sua intensa atuação na sintonia final do progresso, diretamente na preparação das drogas e sua posterior distribuição para a organização criminosa”, e que Cebola “chega a discutir, inclusive, a ‘receita’ para o preparo do entorpecente e o lucro que essa mudança pode representar para o PCC”.
Os diálogos mencionam, ainda segundo o Gaeco, dinheiro enviado ao suspeito para pagamento de funcionários que trabalhavam em laboratórios de drogas, frete referente ao transporte de cocaína, compra de caminhão, material para embalagem da droga, ampolas, entre outras despesas.
Após do flagrante em 2012, Cebola chegou a ser levado para a Penitenciária I2 de Presidente Venceslau, no interior paulista. Ele ficou preso até 31 de março de 2014, quando foi beneficiado por alvará de soltura expedido pela Justiça. Foi condenado a 14 anos de prisão em outubro do mesmo ano, mas nunca mais foi localizado.
“Ostentando a situação de foragido, que perdura por anos, Silvio utiliza várias manobras para a ocultação de sua verdadeira identidade, o que contribui para mantê-lo distante do cárcere, mas não impede o desfrute da liberdade em elevado padrão patrimonial”, diz relatório do Gaeco.
TULIO KRUSE / Folhapress