SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O dólar engatou alta na manhã desta quarta-feira (10) e operava no patamar dos R$ 5,07 após a divulgação de dados de inflação nos Estados Unidos, que vieram acima do esperado, num momento em que as autoridades do Fed (Federal Reserve, banco central americano) dão sinais de que devem manter os juros altos por mais tempo no país.
O CPI (Índice de Preços ao Consumidor, na sigla em inglês) americano subiu 3,5% em março, acima das projeções de 3,4%, e acelerou pelo segundo mês consecutivo, apontando resiliência da alta de preços no país. Em fevereiro, o índice ficou em 3,2%.
O Departamento de Trabalho dos EUA também afirmou que o núcleo da inflação, que exclui variações de alimentos e energia, permaneceu em 3,8%. Economistas esperavam uma taxa de 3,7%.
Os novos dados desencadearam um novo salto nos rendimentos dos títulos do Tesouro dos EUA e pesaram contra a Bolsa brasileira. Os índices de ações dos EUA também operavam em queda express
Às 12h56, o dólar subia 1,41%, cotado a R$ 5,076, enquanto o Ibovespa recuava 1,30%, aos 128.190 pontos. Na máxima do dia, a moeda americana chegou a atingir os R$ 5,081.
O economista-chefe do C6 Bank, Felipe Salles, destaca que a inflação de serviços no país segue sendo pressionada pelo mercado de trabalho aquecido, o que representa um obstáculo para a convergência para a meta de 2% do Fed.
“A inflação dá sinais de estar se estabilizando em um patamar elevado, mesmo com juros no maior nível dos últimos 20 anos. Esse cenário não é condizente com o início do ciclo de cortes de juros no primeiro semestre”, afirma Salles.
O C6 projeta que devem ocorrer apenas dois cortes de juros nos Estados Unidos neste ano a última sinalização do banco central americano foi de três cortes. A hipótese de que o ciclo de afrouxamento seja adiado para 2025 não é descartada pelo C6.
Após a divulgação dos dados, operadores adiaram novamente suas apostas sobre os juros americanos. Agora, a maior parte do mercado acredita que a primeira redução deve ocorrer apenas em setembro.
“O cenário reforça que a conclusão do processo de desinflação segue sendo um grande desafio para a economia americana. A leitura de hoje anda na direção contrária da necessidade de confiança extra no processo de convergência para a meta de inflação que vem sendo declarado pelos membros do Fomc [comitê de política monetária] desde o início do ano”, afirma Danilo Igliori, economista-chefe da Nomad.
Já Greg Wilensky, chefe de renda fixa dos EUA na Janus Henderson, diz que o movimento massivo no rendimento dos títulos parece uma reação exagerada ao aumento da inflação. Ele diz, ainda, que a possibilidade de corte nas taxas em junho não deve ser excluída.
No Brasil, a inflação oficial, medida pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo), desacelerou a 0,16% em março, após marcar 0,83% em fevereiro, apontou nesta quarta o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
O novo resultado ficou abaixo da mediana das projeções do mercado financeiro. Analistas consultados pela agência Bloomberg esperavam variação de 0,25% em março.
“O IPCA de março trouxe boas perspectivas para a inflação e deve ser bem recebida pelos formuladores de política monetária brasileiros”, dizem analistas do Bank of America.
Na segunda (9), o dólar havia fechado o dia cotado a R$ 5,005, enquanto investidores aguardavam os dados de inflação divulgados nesta manhã. Uma nova alta do minério de ferro no exterior também fortaleceu o real.
Na Bolsa brasileira, o dia foi de alta, e o Ibovespa encostou nos 130 mil pontos apoiado principalmente por um alívio nos rendimentos dos títulos americanos e pelo setor financeiro.
A Vale, que começou o dia subindo, passou a cair após um rebaixamento de recomendação de compra feito pelo Bank of America, descolando-se da alta do minério e limitando os ganhos do principal índice da Bolsa. Já a Petrobras teve mais um dia instável, mas garantiu desempenho positivo no fim do pregão.
Com isso, o Ibovespa subiu 0,80%, aos 129.890 pontos.
MARCELO AZEVEDO / Folhapress