RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – “Certeza é uma coisa muito duvidosa”, comenta Andrea Beltrão, 60, que diz ainda não saber muito bem o que tem aprendido com sua mais nova personagem na TV, a matriarca sertaneja Zefa Leonel. “Eu estou só fazendo, naquela lida de: faz, decora, faz, levanta, vai, vamos”, descreve.
“Em novela, a gente só começa a entender de verdade o que está fazendo quando começa a ver no ar, quando começa a receber o retorno”, explica. “Como é uma obra aberta, você pode mudar um caminho ou outro, melhorar uma coisa aqui e ali. Então, ainda não sei. E acho ótimo não saber. Não quero ter nenhum tipo de certeza, não.”
A partir desta segunda-feira (15), ela começa a avaliar melhor os próximos passos com a estreia de “No Rancho Fundo”, na faixa das 18h na Globo. Trata-se de um retorno ao horário depois de 25 anos –a última novela das seis que ela havia feito foi “Era Uma Vez”, de 1998–, após um hiato de 20 anos nos folhetins (entre a malfadada “As Filhas da Mãe”, de 2001, e “Um Lugar ao Sol”, de 2021).
Desta vez, a personagem passa longe da sofisticação de Rebeca, que lhe rendeu ótimas críticas no trabalho anterior. Zefa é uma mulher simples, que vive no distrito de Lasca Fogo, na zona rural de Lapão da Beirada, uma fictícia cidade nordestina (o estado não foi especificado pelo autor Mario Teixeira). Ela muda de vida depois que encontra uma pedra preciosa em uma mina abandonada.
“Eu fiquei surpresa quando me convidaram”, admite. “Mas também foi curioso porque, ao mesmo tempo, eu tava fazendo outra pernambucana no teatro, em uma peça dirigida pela Yara de Novaes chamada ‘Lady Tempestade’, que é sobre a advogada Mércia Albuquerque, uma advogada que defendeu mais de mil presos políticos na época da ditadura. Então eu já estava muito mergulhada nesse universo dessas mulheres muito fortes, muito valentes.”
A atriz credita ao acaso o fato de continuar conquistando esse tipo de papel depois de mais de 40 anos de carreira. “Eu acho que tenho uma coisa com as mulheres interessantes”, conta. “Não que eu seja interessante, mas acaba caindo pra mim. Eu tenho uma sorte danada, considero isso uma sorte. Ao menos, para mim; não necessariamente para os outros, entende?”
Para ela, também conta o fato de continuar aberta, curiosa e sempre a fim. “E, na novela, tem uma coisa muito legal que é o seguinte: o elenco não é montado por você. Não é como no teatro, que quase sempre você escolhe seus parceiros. Na TV, você é apresentado a um elenco muito variado. E isso é muito interessante porque, às vezes, você faz uma amizade improvável. Então é um lado fantástico essa mistura de pessoas.”
Beltrão diz estar contente, por exemplo, de contracenar com o elenco jovem da trama. Em seu “rancho”, além dela, do marido, seu Tico Leonel (Alexandre Nero) e de sua irmã, Salete (Mariana Lima), vivem sete filhos, entre biológicos e de coração. E é Zefa quem comanda tudo, apesar de ser uma figura doce e maternal.
“Zefa é uma mulher muito invocada, muito respondona e destemida, mas também segura e sábia”, define. “Ela é uma mulher que o que tem que ser feito, ela faz. Ela é valente, corajosa, meio doida, se joga a fazer umas coisas inesperadas, bate nos homens, de repente. Mas são circunstâncias engraçadas, divertidas.”
A atriz diz que não é parecida com a personagem nesse sentido (“não, eu sou um doce”, brinca), mas sente que há muitas mulheres parecidas com Zefa por aí. “Eu gostaria muito de ser amiga da Zefa, seria uma mulher que eu gostaria muito de ter perto de mim”, avalia.
“Conheço algumas, tanto no Brasil que eu moro, quanto as que vejo nos jornais e revistas, as que encontro quando viajo ou as que vejo representadas nos filmes”, afirma. “São muitas mulheres assim. No Rio de Janeiro, nas comunidades. Na guerra. Em todos os lugares do mundo.”
VITOR MORENO / Folhapress