EUA negam que sabiam dos ataques do Irã a Israel com antecedência

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O ataque do Irã contra Israel não pegou de surpresa seus vizinhos no Oriente Médio. O país alertou ao menos a Turquia, a Jordânia e o Iraque antes de disparar centenas de drones e foguetes na noite de sábado (13).

John Kirby, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional dos Estados Unidos, confirmou nesta segunda-feira (15) que houve conversas entre Washington e Teerã. Ele disse, porém, que o Irã não comunicou aos americanos quando, como e onde iria agir. Afirmou ser “ridículo” o boato de que havia uma cooperação próxima entre os países.

Ao que parece, o diálogo entre Washington e Irã ocorreu por canais indiretos. Países como Turquia, Qatar e Suíça teriam facilitado a troca de mensagens, comunicando ao menos a intenção do Irã de atacar Israel sem começar uma guerra, sem dar muitos detalhes.

Essa crise remonta ao início de abril, quando o Irã acusou Israel de ter bombardeado seu consulado em Damasco. A acusação é grave, já que as representações diplomáticas são consideradas símbolos da soberania de um país. Foi também um momento inédito entre esses dois arquirrivais que há mais de uma década recorrem a ataques indiretos e feitos às escondidas.

Por isso houve tanta apreensão nos últimos dias, com o receio de que Irã e Israel passassem a responder um ao outro com ataques diretos, levando a um ciclo de violência. A preocupação era também a de que outros atores regionais se envolvessem, como as facções Hezbollah e Hamas.

Segundo informações colhidas pela agência de notícias Reuters, o Irã alertou os países da região com antecedência suficiente para que eles pudessem se preparar. O chanceler iraniano, Hossein Amir-Abdollahian, disse que o aviso foi dado com 72 horas de antecipação. A afirmação foi confirmada com fontes diplomáticas de Turquia, Iraque e Jordânia.

A decisão iraniana de dizer que avisou todo mundo pode ser uma maneira de deixar claro que não queria escalar o conflito. Isso também explicaria como quase todos os projéteis foram interceptados por uma aliança internacional envolvendo Israel, EUA, França e Jordânia, entre outros. Só houve dano a uma instalação militar israelense, e apenas uma pessoa ficou ferida.

A repórteres, porém, Kirby negou a veracidade da afirmação de que Teerã contava com a interceptação de seus drones suicidas. O porta-voz do governo americano descreveu o ataque iraniano como “um fracasso constrangedor” e sugeriu que o Irã está procurando maneiras de mascarar seu fiasco.

Agora cabe a Israel fazer a próxima jogada. O primeiro-ministro Binyamin Netanyahu tem um evidente interesse político em escalar a situação. Ele enfrenta graves acusações de corrupção e, fora do poder, pode ser preso. Uma guerra com o Irã seria uma maneira de se perpetuar no cargo, uma vez que em momentos de crise a tendência é de unidade contra um inimigo comum.

Ainda nesta segunda, o gabinete de Netanyahu se reuniu e discutiu os próximos passos. Ficou decidido que, sim, haverá retaliação, e a imprensa israelense diz que o governo deve tentar responder sem começar uma guerra -por exemplo, com um ciberataque.

O governo americano, no ínterim, tem enviado uma mensagem clara para Israel: Biden não vai apoiar um contra-ataque que piore a situação. Outros países e entidades globais fizeram alertas parecidos.

Caso consiga conter Netanyahu, Biden terá marcado pontos entre seu eleitorado, em especial entre os jovens. O presidente, afinal, é alvo de dura crítica no país devido à maneira com que vem lidando com Israel.

Tel Aviv trava há mais de seis meses uma guerra contra o Hamas na Faixa de Gaza. Seus bombardeios deixaram quase 34 mil mortos, e o cerco ao território palestino levou também a uma severa crise de fome.

Israel age em resposta ao ataque que em 7 de outubro matou 1.200 pessoas. Grande parte da comunidade internacional, no entanto, considera a reação israelense desproporcional.

A crítica, nesse contexto, é de que Biden foi incapaz de impedir Israel de seguir adiante com os ataques, que os palestinos e parte de seus aliados chamam de genocídio. Isso pode custar valiosos votos nas eleições deste ano, que já não vão ser fáceis. Talvez Biden possa reverter essa tendência negativa ao impedir um conflito com o Irã.

DIOGO BERCITO / Folhapress

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