SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Uma conferência internacional sobre o Sudão começou nesta segunda-feira (15) em Paris com o objetivo de tirar do “esquecimento” a guerra que começou há um ano no país. A comunidade internacional prometeu arrecadar mais de US$ 2 bilhões (R$ 10.348.000.000), disse o presidente francês, Emmanuel Macron, e coordenar os esforços de mediação para encerrar o conflito.
“Há um ano que os sudaneses sofrem uma guerra terrível, além de também serem vítimas do esquecimento e da indiferença”, declarou o chanceler francês, Stéphane Séjourné, acrescentando que o objetivo do encontro é “quebrar o silêncio sobre o conflito e mobilizar a comunidade internacional”.
Em Paris, a União Europeia prometeu 350 milhões (R$ 1.913.485.000), enquanto a França e a Alemanha, os co-patrocinadores, comprometeram 110 milhões (R$ 601.381.000) e 244 milhões (R$ 1.333.972.400), respectivamente.
Os Estados Unidos prometeram US$ 147 milhões (R$ 760.578.000) e a Grã-Bretanha, US$ 110 milhões (R$ 601.381.000). As Nações Unidas, no entanto, estimaram o montante da ajuda necessária ao Sudão em US$ 3,8 bilhões (R$ 19,5 bilhões).
No final da conferência, Macron enfatizou a necessidade de coordenar esforços internacionais sobrepostos e até agora mal sucedidos para resolver o conflito e parar o apoio estrangeiro às partes em conflito. “Infelizmente, o montante que mobilizamos hoje ainda é provavelmente menor do que foi mobilizado por várias potências desde o início da guerra para ajudar um ou outro lado a matar-se uns aos outros”, disse ele.
A guerra no Sudão começou em 15 de abril de 2023 entre o Exército do general Abdel Fatah al Burhan e paramilitares das Forças de Apoio Rápido (FAR). O conflito deixou milhares de mortos e causou uma catástrofe humanitária neste país da região do Chifre da África, com quase 25 milhões de pessoas necessitadas por ajuda mais de metade da população.
“Isso é mais do que um conflito entre duas partes. É uma guerra travada contra o povo sudanês”, declarou o secretário-geral da ONU, António Guterres, em Nova York. “Ataques indiscriminados que matam, ferem e aterrorizam civis podem constituir crimes de guerra e crimes contra a humanidade”, acrescentou.
A crise alimentar no Sudão pode ser “a maior da história”, advertiu nesta segunda-feira a diretora-executiva do Programa Mundial de Alimentos (PMA), Cindy McCain, em entrevista à AFP.
A reunião dividiu-se em três aspectos: uma abordagem política com a participação de embaixadores e chanceleres, uma abordagem humanitária para mobilizar doações e uma reunião de cerca de quarenta membros da sociedade civil sudanesa.
Ministros dos países vizinhos do Sudão (Chade, Líbia, Quênia, Djibuti, Sudão do Sul, Egito, Etiópia), do Golfo (Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita) e de potências ocidentais (Estados Unidos, Reino Unido, Noruega) participarão da reunião a portas fechadas.
Organizações regionais como a União Africana, a Liga Árabe e a IGAD bloco de países da África Oriental também estarão presentes, juntamente com agências da ONU.
A ministra alemã das Relações Exteriores, Annalena Baerbock, observou que a conferência é realizada em um contexto de maior atenção ao Oriente Médio, especialmente após o ataque do Irã a Israel no sábado à noite. Mas ela diz que a comunidade internacional não deve desviar a sua atenção do “sofrimento indescritível” causado pela guerra de “dois generais implacáveis”.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, alertou para uma nova escalada da violência já que as partes em conflito estão armando os civis.
“O recrutamento e a utilização de crianças pelas partes em conflito também são motivos de grande preocupação”, afirmou.
A guerra forçou quase 1,8 milhão de pessoas a abandonar o país e causou o deslocamento interno de pelo menos 6,7 milhões de pessoas.
“A população civil sofre com a fome, violência sexual em massa, massacres étnicos em grande escala e execuções. (…) No entanto, o mundo continua olhando para o outro lado”, denunciou Will Carter, diretor para o Sudão do Conselho Norueguês para os Refugiados.
Redação / Folhapress