FMI eleva projeção para PIB do Brasil em 2024, mas vê desaceleração à frente

WASHINGTON, EUA (FOLHAPRESS) – O FMI (Fundo Monetário Internacional) revisou novamente para cima as projeções para o crescimento da economia brasileira neste ano e no próximo. As novas estimativas do fundo, divulgadas nesta terça-feira (16), são de uma alta de 2,2% e 2,1% –um aumento de 0,5 p.p. e 0,2 p.p, respectivamente, em comparação com a análise feita em janeiro.

Os percentuais, no entanto, permanecem abaixo da projeção de crescimento da economia global, que seguiu praticamente inalterada no relatório desta terça, de alta de 3,2% neste ano e no próximo, de acordo com o relatório World Economic Outlook (panorama da economia global).

Em comparação com a América Latina e o Caribe, o desempenho do Brasil é ligeiramente acima da média prevista para este ano na região, de alta de 2%, mas abaixo da previsão para o próximo, quando deve crescer 2,5%.

Na visão do fundo, o crescimento observado de 2,9% do PIB brasileiro no ano passado deve desacelerar em razão da consolidação fiscal, efeitos tardios do ciclo mais recente de alta de juros pelo Banco Central, encerrado no ano passado, e uma contribuição menor do agro para a atividade econômica.

ENDIVIDAMENTO E AJUSTE FISCAL

O cenário nacional ilustra em certa medida a leitura do fundo para a economia global: conforme os países se aproximam de suas metas de inflação e afrouxam os juros, a tônica passa a ser agora uma política fiscal mais restritiva, com alta de tributos e corte de gastos, desaquecendo o crescimento recente.

“As proporções da dívida em relação ao PIB, que aumentaram acentuadamente durante a pandemia, permanecem elevadas, e grandes déficits orça mentários continuam a aumentar o custo da dívida em muitas economias”, alerta o FMI.

O peso do pagamento dos juros da dívida sobre a receita total dos governos, por sua vez, tem dificultado investimentos necessários para impulsionar o crescimento, afirma o relatório.

“Nos países de baixa renda, estima-se que os pagamentos de juros representem em média 14,3% das receitas totais do governo em 2024, cerca de duas vezes o nível de 15 anos atrás”, completa.

Ao endividamento se somam outros fatores, como custo de crédito ainda alto, sequelas da Covid e tensões geopolíticas, com destaque para o conflito entre Rússia e Ucrânia. Em conjunto, esses problemas justificam a expectativa do fundo de que a economia global mantenha um ritmo de expansão historicamente baixo nos próximos anos.

AUMENTO DA DESIGUALDADE ENTRE PAÍSES

Por trás da estabilidade na estimativa da média global estão variações importantes nas economias nacionais. O principal destaque são os Estados Unidos, cujo crescimento para este ano foi revisado para 2,7% –alta de 0,6 p.p. em comparação a análise feita há três meses.

O FMI atribui a mudança a dois fatores: carregamento estatístico, em função de um crescimento do PIB mais forte do que o esperado no último trimestre do ano passado, e a expectativa de continuidade dessa alta, ao menos em parte, ao longo de 2024.

Já o crescimento chinês deve desacelerar dos 5,2% observados em 2023 para 4,6% neste ano e 4,1% no próximo, reflexo do fim dos estímulos pós-pandemia e da crise no setor imobiliário. A Índia, por outro lado, deve manter um desempenho forte: 6,8% neste ano e 6,5% no próximo, fruto principalmente da demanda doméstica.

Em contrapartida, os prognósticos para países pobres foram revisados para baixo, refletindo a dificuldade de economias menores superarem os choques da pandemia. A recuperação desigual indica uma ampliação das desigualdades globais, uma vez que os mercados desenvolvidos devem manter um desempenho mais forte, alerta o FMI.

INFLAÇÃO E JUROS

A inflação, por exemplo, deve ceder mais nas economias desenvolvidas –uma queda estimada de 2 p.p. neste ano–, o que vai permitir com que esses países retomem mais cedo as taxas de juros praticadas antes da crise sanitária, de 2% na média. No caso dos mercados emergentes e em desenvolvimento, isso deve ocorrer com um ano de atraso, e para um patamar mais alto, de 5%.

No geral, porém, a tendência é de queda global da inflação. A média de 6,8% registrada no ano passado deve diminuir para 5,9% neste ano e 4,5% no próximo, estima o fundo. Uma das principais razões para essa desaceleração é a queda dos preços de energia mais rápida do que o esperado, decorrente de um aumento da oferta de petróleo e gás por países fora da Opec (o cartel de países produtores).

A Guerra da Ucrânia, que inicialmente fez o preço da energia disparar, também acabou indiretamente pressionando sua queda agora, diante da ampliação das exportações russas e da frota de navios de seus aliados para transportá-las, contornando as sanções do Ocidente, aponta o fundo.

A projeção é que o preço de combustíveis caia 9,7% em média neste ano. Para outras commodities, a estimativa é de estabilidade, com quedas ligeiramente mais acentuada das metálicas (-1,8%) e alimentos (-2,2%).

Ao mesmo tempo, porém, o FMI alerta que leituras mais recentes de alta de preços, com destaque para os EUA, voltaram a mostrar um repique. Além disso, o relatório foi elaborado antes do ataque do Irã a Israel, intensificando as tensões no Oriente Médio, o que elevou as expectativas de alta de preços de petróleo nos últimos dias.

“Isso pode ser temporário, mas há razões para permanecer vigilante”, diz o economista Pierre-Olivier Gourinchas na apresentação do relatório. Apesar da ressalva, ele afirma que a maior parte dos indicadores aponta para um pouso suave –uma volta aos trilhos da economia global sem tropeços em recessões.

“De modo ainda mais encorajador, estimamos agora que haverá menos danos econômicos da pandemia –a queda projetada na produção em relação às projeções pré-pandemia– para a maioria dos países e regiões, especialmente para as economias emergentes, em parte graças ao robusto crescimento do emprego. Surpreendentemente, a economia dos EUA já ultrapassou sua tendência pré-pandemia”, completa Gourinchas.

Assim, o FMI estima que as taxas de juros dos principais bancos centrais comece a cair no segundo semestre de 2024. O relatório prevê que nos EUA, o percentual estabelecido pelo Fed (Federal Reserve, o BC americano) esteja em 4,6% no quarto trimestre. No caso do Banco Central Europeu, a estimativa é de 3,3% no mesmo período.

FLUXOS COMERCIAIS

Em relação aos fluxos comerciais, a projeção é de alta de 3% neste ano e 3,3% no próximo –percentuais 0,3 p.p. inferiores aos divulgados em janeiro, e abaixo do crescimento médio de 4,9% entre 2000 e 2019.

“Mesmo com as proporções de comércio mundial para o PIB permanecendo relativamente estáveis, estão ocorrendo mudanças significativas nos padrões de comércio, com o aumento de fragmentações ao longo de linhas geopolíticas, especialmente desde o início da Guerra da Ucrânia em fevereiro de 2022. A análise da equipe do FMI indica que o crescimento nos fluxos comerciais entre blocos geopolíticos diminuiu significativamente desde então, em comparação com o crescimento do comércio dentro dos blocos”, diz o relatório.

RISCOS BONS E RUINS

Na visão do fundo, os principais riscos para a economia global nesse momento são uma disparada de preços de commodities em função do conflito entre Israel e Hamas e os ataques em rotas comerciais no mar Vermelho, problemas na recuperação da economia chinesa, persistência da inflação, ajustes fiscais excessivos, fragmentação geoeconômica e perda de confiança em reformas governamentais.

Já do lado das surpresas positivas, o FMI afirma que, em razão do grande número de eleições neste ano, muitos países podem não ser tão duros na consolidação fiscal, mantendo estímulos à economia. Outro fator potencialmente positivo é a incorporação da inteligência artificial, o que pode elevar a produtividade –embora esse feito seja esperado sobretudo nos países desenvolvidos.

“Nas economias avançadas, a inteligência artificial poderia afetar cerca de 60% dos trabalhadores, com aproximadamente metade daqueles expostos alcançando maior produtividade e ganhando renda mais alta, e metade enfrentando uma menor demanda por seu trabalho e salários mais baixos”, analisa o FMI.

“A inteligência artificial poderia afetar cerca de 40% dos empregos em economias de mercado emergentes e 26% dos empregos em países de baixa renda, o que implica em uma perturbação menor no mercado de trabalho no curto prazo e menos espaço para melhorias relacionadas à produtividade nessas duas categorias de economias”, completa.

FERNANDA PERRIN / Folhapress

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