Pela primeira vez na história olímpica, Brasil deve ter delegação com maioria feminina

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Quase cem anos depois de a nadadora Maria Lenk (1915-2007) se tornar a primeira brasileira a disputar os Jogos Olímpicos, sendo a única mulher na delegação de 66 atletas do país em Los Angeles-1932, o Brasil deverá ter em Paris, pela primeira vez, uma delegação com maioria feminina.

A cem dias para o início da Olimpíada em solo parisiense, o COB (Comitê Olímpico do Brasil) informa que o país já tem 187 vagas conquistadas, em 32 modalidades, sendo 110 femininas e 61 masculinas, além de outras 15 sem gênero definido (hipismo e revezamentos da natação).

Até o início do megaevento, outros atletas ainda podem conquistar o direito de competir nesta edição dos Jogos, mas é pouco provável que o número de participantes homens supere o de mulheres.

São elas, também, as principais favoritas a conquistarem medalhas pelo país, com destaque para nomes como Rebeca Andrade (ginástica artística), Mayra Aguiar (judô), Rayssa Leal (skate), Ana Patrícia e Duda (vôlei de praia) e Beatriz Ferreira (boxe), mulheres que podem fazer de seu sucesso uma inspiração para outras meninas.

“Quanto mais heroínas tivermos, mais meninas acreditarão que é possível alcançar o sucesso. No esporte, na profissão e na vida. Quanto mais falarmos de mulheres no esporte, mais falaremos de menstruação, de gravidez, de amamentação, de abuso e de assédio. É um ciclo positivo que impactará a vida de homens e mulheres”, diz à reportagem Mariana Mello, gerente de planejamento e desempenho esportivo do COB.

O próximo passo, segundo Mariana, é formar mais treinadoras. “Acredito que seja o grande desafio para o próximo ciclo olímpico”, afirma.

Para a professora da USP (Universidade de São Paulo) Katia Rubio, umas referência do Brasil em estudos sobre o movimento olímpico, a falta de mulheres em cargos de liderança tanto esportiva como de gestão também refletiu nos resultados obtidos por elas ao longo da história.

“As mulheres eram mal treinadas, elas eram sub-treinadas, eu diria. Isso tinha um impacto, obviamente, nos resultados. Então, à medida em que o treinamento se desenvolve de forma competente, assim como era dado para os homens, o resultado é automático”, afirma.

Em Paris, o Brasil terá cinco equipes, sendo quatro femininas (futebol, vôlei, handebol e rugby de 7) e uma masculina (vôlei). As principais ausências no masculino são as equipes de futebol, basquete e handebol.

Ainda que as baixas tenham um peso significativo na delegação brasileira, o crescimento da participação das mulheres já reflete uma conquista de movimentos feministas no mundo e no esporte, que levaram ao aumento gradual das atletas nas competições.

Historicamente, houve momentos de pico nessa busca, como nos Jogos de Los Angeles em 1984, com 23% de participação feminina, seguido por 44% em Londres 2012, e 48% em Tóquio 2020 –melhor marca até então–, até chegar aos 50% nos Jogos Olímpicos de Paris, o primeiro da história com esse equilíbrio.

Dos 10.500 atletas participantes da Olimpíada parisiense, serão 5.250 homens e 5.250 mulheres. Este é um cenário bem diferente de há cem anos atrás, quando Paris também sediou os Jogos. Naquela edição, a maioria dos esportes era exclusivamente praticada por homens.

Além de não haver mulheres brasileiras na delegação, somente algumas modalidades dos Jogos incluíam a participação feminina, como saltos ornamentais, natação, esgrima, florete individual e tênis.

A pequena participação feminina refletia a visão do pai das Olimpíadas da Era Moderna, o Barão Pierre de Coubertin. Para ele, não haveria motivo para incluir as mulheres nos Jogos, salve para aplaudir na entrega dos prêmios.

“A história dos Jogos Olímpicos reflete a sociedade”, diz a gerente de desenvolvimento esportivo e mulher no esporte do COB, Taciana Pinto. “No final do século 19, o esporte não era para toda a sociedade, ele era restrito aos homens brancos das classes privilegiadas. Quando Pierre de Coubertin idealizou os Jogos da Era Moderna, ele entendia que a Olimpíada com mulheres seria impraticável, desinteressante, inestética e imprópria”, ela explica.

Ao longo de décadas, o COI (Comitê Olímpico Internacional) vem tentando superar essa posição, embora o reflexo disso demore a aparecer. Em 1991, a entidade determinou que todos os esportes a serem incluídos nos Jogos precisariam obrigatoriamente ter participação feminina.

Mais de 20 anos após essa determinação, em Londres-2012, todas as 204 federações nacionais levaram mulheres em suas comitivas, algo inédito na história das Olimpíadas e fundamental para que Paris-2024 pudesse alcançar a equidade de gênero.

“Apesar de chegarmos em uma igualdade numérica de atletas nos Jogos de Paris, não teremos, por exemplo, a mesma quantidade de medalhas distribuídas para homens e mulheres”, critica Taciana Pinto.

“Termos atletas mulheres bem-sucedidas pode impactar na mudança do olhar de pessoas que acham que mulheres não são capazes”, finaliza a gerente de desenvolvimento esportivo e mulher no esporte.

VEJA OS BRASILEIROS CLASSIFICADOS PARA OS JOGOS DE PARIS

Atletismo (12 atletas)

Alison dos Santos (400m rasos e 400m com barreiras)

Darlan Romani (arremesso do peso)

Érica Sena (marcha atlética 20km)

Caio Bonfim (marcha atlética 20km)

Daniel Nascimento (maratona)

Rafael Pereira (110m com barreiras)

Erik Cardoso (100m rasos)

Felipe Bardi (100m rasos)

Almir Júnior (salto triplo)

Lucas Carvalho (400m rasos)

Viviane Lyra (marcha atlética 20km)

Matheus Lima (400m rasos e 400m com barreiras)

Boxe (10)

Até 50kg – Caroline Almeida

Até 54kg – Tatiana Chagas

Até 57kg – Jucielen Romeu

Até 57kg – Luiz Oliveira

Até 60kg – Bia Ferreira

Até 66kg – Bárbara Santos

Até 51kg – Michael Douglas

Até 80kg- Wanderley Pereira

Até 92kg – Keno Marley

Acima de 92kg – Abner Teixeira

Canoagem slalom (3)

C1 feminino e cross – Ana Sátila

K1 feminino – Nome a definir

K1 masculino – Pepê Gonçalves (também vai competir na prova do extremo)

Canoagem de velocidade (1)

C1 1.000m masculino – nome a definir

Ciclismo BMX feminino (1)

Nome a definir

Ciclismo de Estrada (2)

Nomes a definir (Brasil conquistou vagas no feminino e no masculino via ranking)

Esgrima (3)

Espada feminina – Nathalie Moellhausen

Florete masculino – Guilherme Toldo

Florete feminino – Mariana Pistoia

Futebol Feminino (18)

Nomes ainda serão confirmados em convocação

Ginástica artística feminina (5)

Cinco ginastas a serem definidas

Ginástica artística masculina (2)

Diogo Soares

Uma vaga para o Brasil – nome a definir

Ginástica de trampolim (2)

Uma vaga no feminino – nome a definir

Uma vaga no masculino – nome a definir

Ginástica rítmica feminina (6)

Uma vaga no individual geral – nome a definir

Cinco vagas no conjunto – nomes a definir

Handebol (14)

Seleção feminina

Hipismo (7)

Equipe de saltos – três nomes a definir (vagas podem ser preenchidas por homens ou mulheres)

Equipe de CCE – três nomes a definir

Adestramento – um nome a definir

Judô (10)

Larissa Pimenta (52kg)

Rafaela Silva (57kg)

Mayra Aguiar (78kg)

Beatriz Souza (+78kg)

William Lima (66kg)

Daniel Cargnin (73kg)

Guilherme Schimidt (81 kg)

Rafael Macedo (90kg)

Leonardo Gonçalves (100kg)

Rafael Silva (+100kg)

Levantamento de Pesos (1)

Laura Amaro (81kg)

Maratona Aquática (2)

10km – Ana Marcela Cunha

10km – Viviane Jungblut

Natação (16 no total)

200m livre – Maria Fernanda Costa fez o índice

400m livre – Gabi Roncatto fez o índice

400m livre – Maria Fernanda Costa fez o índice

1500m livre – Beatriz Dizotti fez o índice

4x100m livre – equipe feminina

4x200m livre – equipe feminina

100m livre – Guilherme Caribé fez o índice

400m livre – Guilherme Costa fez o índice

100m borboleta – Kayky Mota fez o índice

200m livre – Guilherme Costa fez o índice

4x100m livre – equipe masculina

4x200m livre – equipe masculina

4x100m medley misto

Pentatlo moderno (1)

Isabela Abreu

Remo (2)

Skiff simples masculino – Lucas Verthein

Skiff simples feminino – Beatriz Tavares

Rúgbi de sete feminino (12)

Nomes ainda serão confirmados em convocação

Saltos ornamentais (2)

Plataforma de 10m feminina – nome a definir

Plataforma de 10m masculina – nome a definir

Surfe (6)

Tatiana Weston-Webb

Tainá Hinckel

Luana Silva

Filipe Toledo

João Chianca

Gabriel Medina

Taekwondo (4)

Maria Clara Pacheco (até 57kg)

Caroline Gomes (até 67kg)

Edival Pontes (até 68kg)

Henrique Marques (até 80kg)

Tênis (1)

Simples feminino – Laura Pigossi

Tênis de mesa (6)

Equipe masculina – 3

Equipe feminina – 3

Vitor Ishiy e Bruna Takahashi se classificaram nas duplas mistas (vão competir por equipes também)

Tiro com arco (2)

Individual masculino – nome a definir

Individual feminino- nome a definir

Tiro esportivo (3)

Skeet – nome a definir

Pistola de ar 10m masculina – nome a definir

Carabina 50m 3 Posições – nome a definir

Triatlo (1)

Masculino

Vela (4)

Iqfoil masculina – nome a definir

Fórmula Kite – nome a definir

49erFX – nomes a definir

Vôlei (24)

Seleção feminina

Seleção masculina

Vôlei de praia (2)

Ana Patrícia e Duda

Fonte: COB (Comitê Olímpico do Brasil)

LUCIANO TRINDADE / Folhapress

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