SÃO PAULO, SP (UOL/FOLHAPRESS) – Bruno Mezenga jogou seis anos em três times diferentes na Turquia, país que se divide entre Europa e Ásia. Aos 35 anos, de volta ao Brasil, ele conta que a experiência tão longe de casa o surpreendeu em muitos sentidos. “Ao contrário do que muitos poderiam pensar, nunca sofri racismo na Turquia”.
A frase tem explicação. Os recentes casos de Vini Jr, mais todo o histórico de ataques sofridos por negros na Europa, mostram um ambiente de perseguição.
“Quando cheguei, éramos apenas dois estrangeiros na cidade de Ordu, eu e um ganês. Éramos os únicos negros, e as pessoas, ao invés de discriminar, nos olhavam com curiosidade e admiração.”
Mesmo sem dominar o idioma turco, Bruno sentia que os gestos eram de admiração por sua aparência. “As pessoas sempre queriam tocar meu cabelo, admiravam minha cor de pele. Era uma situação inusitada, meu tradutor sempre explicava que era um gesto de carinho e admiração.”
“Graças a Deus, nunca vi nenhum problema de racismo na Turquia. Eu e minha família fomos sempre tratados com respeito, os meus filhos… O Romeu, meu mais velho, nasceu lá e nunca enfrentamos nenhum tipo de discriminação.”
UM PAÍS PARA TODA A VIDA
Vinicius Junior vive um terror na Espanha por causa do racismo. O brasileiro disse na última entrevista com a seleção que é ofendido ‘até por crianças’ e chorou ao dizer que só queria jogar futebol, mas teve de comprar a briga que deveria ser de todos.
Mezenga não ignora o racismo. Ele toma cuidado e enfatiza que se refere exclusivamente à experiência pessoal que teve nos sete anos que viveu na Turquia.
Atuando pelo Santos, Mezenga passou por uma situação bem diferente do que viveu na Turquia. “Já tive um episódio de racismo, ano passado, no Santos. Fiquei sabendo através de uma pessoa que fazia parte de um grupo de WhatsApp que alguém teria me chamado de ‘desgraça de macaco’ após eu ter perdido um pênalti”.
A surpresa foi grande também pra ele. Como negro, ele sabe que a qualquer momento pode ser vítima da ignorância, em especial na Europa. Por isso lembra que a Turquia o surpreendeu e se tornou mais que um destino profissional.
“A Turquia é um país maravilhoso, e tanto eu quanto minha família nos apaixonamos por lá. Se tiver oportunidade, volto sem hesitar. Vivi momentos maravilhosos lá. O país é bem parecido com o Brasil, e o calor da torcida turca é algo incrível. Eles são apaixonados e fanáticos por futebol, e isso me marcou bastante.”
QUEM É BRUNO MEZENGA
O atacante foi revelado pelo Flamengo e jogou em 3 países no exterior: Turquia, Polônia e Sérvia. No ano passado, foi vice-campeão paulista pelo Água Santa e ainda não vê a aposentadoria próxima. “Se não tiver nenhuma lesão séria, quero estender o máximo possível. Amo jogar futebol e se puder quero ir até aos 39 anos”.
VANDERLEI LIMA / Folhapress