Dinheiro para campeões ‘não vai acabar com o espírito olímpico’, diz presidente do COB

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Paulo Wanderley, presidente do COB (Comitê Olímpico do Brasil), descreve como “quebra de paradigma” a nova diretriz da WA (World Athletics, a federação internacional de atletismo), que decidiu pagar prêmio em dinheiro para os medalhistas de ouro dos Jogos Olímpicos de Paris 2024.

Favorável à decisão, o dirigente não vê nisso uma afronta aos valores do olimpismo, como apontaram os críticos da medida. Para ele, trata-se de uma evolução em relação à tradição que vigora há 128 anos.

Ao defender o pagamento de prêmios aos atletas, Wanderley mencionou o tradicionalismo do esporte que praticava, o judô. Ele recordou que houve inicialmente uma reação adversa quando foi adotado o quimono colorido, como recurso para diferenciar os lutadores em transmissões de TV.

“O judô, antigamente, tinha só quimono branco. Então, um atleta usava faixa vermelha e o outro lutava com faixa branca. Uma faixa branca dentro de um quimono branco. Era difícil de acompanhar”, disse o presidente do COB à reportagem.

Segundo ele, a mudança que permitiu o uso de outras cores de quimonos, como o azul, ocorreu a partir de uma solicitação de emissoras de TV.

“Era preciso saber instantaneamente quem estava em vantagem”, era o argumento usado pelas redes. “A mudança foi um escândalo internacional, principalmente entre os tradicionalistas”, recorda-se Wanderlei. “Mas, bastou-se fazer uma vez e logo foram aceitando. Hoje, não se admite mais dois caras lutando com quimonos iguais, com exceção aos torneios no Japão”, ele acrescenta.

O dirigente entende que o dinheiro oferecido pela WA tem o mesmo princípio de “ruptura” de valores que ele classifica como “conservadorismo” e “que não vão acabar o espírito olímpico”. Sua expectativa é, ainda, de que a nova medida provoque um efeito cascata, com outras federações fazendo o mesmo.

O COB também vai premiar os brasileiros que conquistarem medalhas em Paris. De acordo com o comitê, nas modalidades individuais, os valores serão os seguintes: ouro (R$ 350 mil), prata (R$ 210 mil) e bronze (R$ 140 mil).

Modalidades de grupo (dois ou mais integrantes) terão as seguintes premiações: ouro (R$ 700 mil), prata (R$ 420 mil) e bronze (R$ 280). E as conquistas por equipes (sete ou mais atletas) terão como prêmios os seguintes valores: ouro (R$ 1,05 milhão), prata (R$ 630 mil) e bronze (R$ 420 mil) –nas categorias grupo e equipes os valores acima correspondem ao total que será dividido de forma igualitária entre os atletas.

Essa será apenas a segunda vez que o comitê vai premiar em dinheiro os atletas medalhistas de acordo com a própria entidade. A primeira ocorreu nos Jogos de Tóquio. “E os valores agora são 40% a mais em relação ao que foi pago em Tóquio”, diz o presidente do COB.

A cem dias do início das competições em Paris, Paulo Wanderley já consegue ter um retrato mais próximo do que será a delegação do Brasil. Por enquanto, o país tem 187 vagas, em 32 modalidades, sendo 110 no feminino, 61 no masculino e outras 15 sem gênero definido (hipismo e revezamento da natação).

Até o fim do ano passado, o COB estimava que a delegação final poderia chegar a 330 atleta, superando os 301 que foram a Tóquio, onde o Brasil teve seu maior número de atletas em uma edição fora do país. Com os fracassos recentes das equipes masculinas de futebol, basquete e handebol, que não obtiveram vagas para os Jogos de Paris, Wanderley estima uma delegação com um número entre 270 e 300.

A ausência do time de futebol masculino, atual bicampeão olímpico, foi a que mais surpreendeu o cartola. “Seria muita inocência minha dizer que ela não impactou [na expectativa para o tamanho da delegação”, disse ele. “Foi uma surpresa negativa a não classificação no futebol porque para nós, brasileiros, existe o futebol e os outros esportes”, acrescentou.

Por outro lado, o dirigente valoriza a perspectiva de que o time Brasil tenha uma característica inédita nas Olimpíadas deste ano, com maioria de atletas femininas. Embora acredite que seja “prematuro” dizer que a delegação terá mais mulheres do que homens, já que ainda há algumas seletivas até os Jogos, Wanderley vê a evolução da participação delas como um movimento global.

“É uma política do COB e é também uma política do Comitê Olímpico Internacional incentivar e apoiar não só as atletas como também as treinadoras”, diz.

São nomes como Rebeca Andrade (ginástica artística), Mayra Aguiar (judô), Rayssa Leal (skate), Ana Patrícia e Duda (vôlei de praia) e Beatriz Ferreira (boxe), inclusive, as principais favoritas a conquistarem medalhas pelo Brasil.

Mesmo com a perspectiva de ter uma delegação menor em Paris do que foi em Tóquio, o presidente do COB mantém o objetivo de superar a campanha brasileira no Japão, onde o país conquistou 21 medalhas: sete de ouro, seis de prata e oito de bronze.

Segundo Paulo Wanderley, o comitê analisa, principalmente, três métricas para classificar uma campanha olímpica: total de medalhas, medalhas de ouro e participação em disputa por medalhas.

“Se você evoluir em algum desses parâmetros, você tem lá, tivemos sete medalhas de ouro em Tóquio, se tivermos oito em Paris, pô, melhoramos”, afirma. “Com esses parâmetros todos, eu posso, sim, com certa segurança de que nós teremos resultados melhores em Paris”, finaliza.

LUCIANO TRINDADE / Folhapress

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