RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) – Um mototaxista que ajudou a retirar Paulo Roberto Braga, 68, de casa e colocá-lo no carro de aplicativo para ir à agência bancária em Bangu, na zona oeste do Rio de Janeiro, na tarde da última terça-feira (16), afirmou à polícia que ele estava debilitado, mas “respirava e tinha força nas mãos”.
Braga foi levado pela parente Erika Nunes, 43, ao banco para sacar um empréstimo de R$ 17 mil e, ao ser constatado que ele estava morto, ela foi presa em flagrante por suspeita de vilipêndio de cadáver e fraude. A defesa de Erika nega que ela tenha levado o idoso já morto à agência.
Essa é a segunda testemunha ouvida pela polícia que afirma que o idoso estava vivo momentos antes de ser filmado já sem reação na agência bancária, ao lado de Erika. O motorista de aplicativo que levou Braga e a parente ao shopping próximo ao banco também disse que ele chegou a segurar na porta do carro.
O mototaxista afirmou que trabalha na rua onde Erika mora, na Vila Aliança, também em Bangu. Ele relatou que Braga sempre foi um homem ativo e que soube da internação dele por pneumonia, pois levava Erika até a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) para visitá-lo ele foi hospitalizado dia 8 e teve alta no dia 15, véspera de sua morte.
Erika, que se identifica como sobrinha de Braga, seria prima dele segundo registros apresentados à polícia.
Na terça (16), por volta de 12h20, ele contou que estava no ponto de mototáxi quando foi chamado por Erika para ajudá-la a retirar Braga da cama e colocá-lo dentro de um carro de aplicativo.
Ele relatou que “pegou Paulo pelos braços, com a ajuda de Erika, e o levou para dentro do carro, que já estava aguardando”. O idoso foi colocado no banco do carona.
O mototaxista também disse que “quando pegou Paulo, conseguiu perceber que ele ainda respirava e tinha forças nas mãos; que até percebeu quando ele segurou na porta do carro quando entrou”. Depois disso, ele soube da morte dele pelas redes sociais.
MOTORISTA DE APLICATIVO DIZ QUE BRAGA CHEGOU A SEGURAR NA PORTA DO CARRO
O motorista de aplicativo que levou Braga e Erika ao shopping onde fica a agência bancária disse à polícia que a corrida foi aceita às 12h26. Ao chegar no local, viu um homem retirando o idoso de casa, com a ajuda da parente.
“Erika, junto com esse homem, entrou na residência e voltou com Paulo; que Paulo não andava; que Erika o segurava em um braço e o homem em outro; que quando chegaram próximo ao veículo do declarante, Erika pediu ajuda para as suas filhas que estavam no portão; que uma das meninas, pegou as pernas de Paulo enquanto Erika e o homem o seguravam pelos braços”, diz trecho do documento.
Ainda de acordo com o motorista, ele perguntou a Erika como ela faria quando chegasse ao destino. Ela, então, pediu para ele estacionar no Shopping Real. Erika desceu e foi buscar uma cadeira de rodas e ele ficou com o Braga no carro.
Ao voltar, após sete minutos, ele ajudou Erika a colocar o homem na cadeira de rodas. “Que quando Erika estava tirando Paulo do carro, ele chegou a segurar na porta do carro”, disse o motorista, em depoimento.
Após colocar Braga na cadeira de rodas, Erika circulou pelo shopping. Em imagens de câmeras de segurança, o homem aparece com a cabeça tombada. A parente, então, saiu do shopping com a cadeira de rodas e foi para uma agência bancária, localizada em um calçadão a cerca de dois minutos de distância a pé do centro de compras.
Ao ser atendida, por volta das 15h, a gerente percebeu que o homem estava apático e acionou o Samu, que constatou a morte de Braga. Às 15h20, a Polícia Militar foi chamada à agência, pela suspeita de crime.
O laudo do IML (Instituto Médico Legal) aponta que Paulo morreu entre 11h30 e 14h de terça. Assim, não é possível afirmar se ele morreu antes de entrar na agência bancária para onde foi levado ou se faleceu quando já estava no local.
“É indiferente se ele morreu dentro ou fora do banco. O fato é que ela, vendo que ele já não respondia estímulos, insistia no empréstimo, segurava a caneta para ele assinar. Isso caracteriza a fraude”, disse o delegado Fábio Souza, que investiga o caso.
Em seu depoimento, Erika afirmou que ao chegar na delegacia estava sob efeitos de remédios e, por isso, “com seus reflexos desestabilizados e sem controle normal de seus sentidos devido aos efeitos da medicação.”
BRUNA FANTTI / Folhapress