Terminal de gás deve triplicar oferta do produto no Sul

FLORIANÓPOLIS, SC (FOLHAPRESS) – A operação de um terminal de gás em Santa Catarina deve ampliar a oferta de gás natural para as regiões Sul e Sudeste. A empresa norte-americana NFE (New Fortress Energy) pretende iniciar ainda no primeiro semestre deste ano a operação do Terminal Gás Sul na baía da Babitonga, em São Francisco do Sul.

O espaço armazenará GNL (Gás Natural Liquefeito) para atender, principalmente, setores como fábricas de cerâmica em Santa Catarina, responsáveis pelo consumo de mais da metade do volume total distribuído no estado, e as metalúrgicas, que demandam 20% da oferta atual.

O terminal inteiro funcionará no navio FSRU (Floating Storage Regasification Unit), o Energos Winter, ancorado a 300 metros da costa e adaptado para receber gás natural liquefeito —que chegará na unidade a uma temperatura de -163ºC para facilitar o transporte— e restaurá-lo à forma gasosa.

Com capacidade para armazenar 160 mil m³ de GNL e regaseificar até 15 milhões de m³ por dia, o TGS vai triplicar a oferta diária para a região sul do Brasil, que é limitada a 5 milhões de m³ diários.

A transferência do GNL ocorrerá via uma configuração ship-to-ship (navio para navio, em tradução livre), manobra de transferência de carga entre dois navios em mar aberto ou em áreas portuárias.

Após o processamento, o gás será transportado por um gasoduto submarino a ser instalado na Baía Babitonga por 31 km até se conectar ao gasoduto Bolívia-Brasil (GASBOL), de onde será distribuído para os clientes.

A oferta vai atender uma demanda histórica de setores da indústria catarinense que atualmente esbarra na limitação do GASBOL, segundo Mario Cezar de Aguiar, presidente da Fiesc (Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina).

“O novo terminal representa importante avanço para superar esse gargalo de fornecimento. Além disso, o projeto tem a capacidade de suprir eventual futura termelétrica, permitindo a geração de energia de maneira muito menos agressiva ao meio ambiente do que outros combustíveis fósseis.”

Para Edson Real, diretor comercial da NFE, a demanda na região deve contemplar, principalmente, “companhias distribuidoras estaduais, consumidores industriais e usinas de geração termelétrica que estejam conectadas ou venham a se conectar ao Sistema Brasileiro de Transporte de Gás Natural”.

A região Sul, diz Real, tem uma alta concentração de indústrias no percurso do Gasoduto Bolívia Brasil (Gasbol), com grande potencial de crescimento de demanda.

Atualmente, a região enfrenta gargalos nessa distribuição, principalmente devido à redução do diâmetro da estrutura a medida em que avança para o sul, o que, segundo ele, “acaba por restringir o volume de gás disponível, freando a implantação de novos empreendimentos com potencial consumo do energético”.

Por ser uma commodity transportada por meio marítimo, o GNL processado na Baía da Babitonga terá origem de vários Terminais de Liquefação de Gás Natural, em diversos países, que será importado diretamente pela NFE.

Real ressalta que a escolha da baía Babitonga para a instalação do TGS foi fruto de estudos que consideraram aspectos técnicos e ambientais. A localização não apenas facilita a conexão ao Gasbol, mas também minimiza impactos ambientais, segundo ele. Como a estrutura em terra utilizará a faixa de servidão do Oleoduto Ospar, da Petrobras, não será preciso desmatar.

A ampliação da oferta também deve diminuir a dependência da indústria catarinense de um único fornecedor, a Bolívia, e viabilizar uma futura termelétrica na região, segundo o presidente da Fiesc. “O terminal tem relevância estratégica para o desenvolvimento industrial catarinense e surge como uma solução vital, capaz de suprir não apenas as necessidades atuais mas também de apoiar projetos futuros”, emenda Aguiar.

Paralelamente às operações em Santa Catarina, a NFE também inaugurou um terminal de regaseificação em Barcarena, no Pará, isolado da malha de gasodutos do país, que já conta com contratos significativos de clientes regionais, como a refinaria de alumina da Hydro Alunorte; e o complexo termelétrico.

TERMINAL PODE IMPULSIONAR TERMELÉTRICA

Segundo a New Fortress Energy, o GNL processado em seu terminal pode ter origem de diversos países que exploram o combustível fóssil. Assim como no Pará, o projeto em Santa Catarina também deve abastecer uma termelétrica, prevista para o município de Garuva, no norte do estado.

A obra será realizada pela Diamante Geração de Energia e o grupo Nebras Power e contará com um investimento de R$ 5,5 bilhões.

Apesar de ser uma fonte de energia menos poluente comparado ao carvão e ao óleo (derivados do petróleo), o gás natural é considerado um combustível sujo por ser fóssil e, portanto, não renovável. Ele contribui para as emissões de gases de efeito estufa e o agravamento do aquecimento global.

No entanto, o gás natural é frequentemente visto como uma alternativa intermediária para a redução de emissões, principalmente porque permite uma transição mais fácil e econômica para empresas que ainda não têm acesso a fontes de energia limpa.

O uso do gás para manutenção de termelétricas tem uma distribuição maior nas regiões norte e nordeste do Brasil, onde a oferta por energia mais limpa é menor.

O uso dessa fonte para geração de energia é visto com ressalvas por ambientalistas devido às emissões de gases do efeito estufa (GEE). Em 2020, as termelétricas a gás natural representaram 76% da geração fóssil no Brasil, segundo dados do Iema (Instituto de Energia e Meio Ambiente).

FÁBIO BISPO / Folhapress

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