SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Ex-sede da Assembleia Legislativa do estado e da Prefeitura de São Paulo, o Palácio das Indústrias completa 100 anos nesta segunda-feira (29).
O espaço fica no parque Dom Pedro 2º, no centro da capital paulista, e atualmente é a casa do Museu Catavento, administrado em parceria entre o governo estadual e uma organização social.
O edifício começou a ser projetado em 1910 pelo arquiteto italiano Domiziano Rossi, parceiro do Escritório de Arquitetura Ramos de Azevedo. As obras duraram de 1911 a 1924, quando foi oficialmente inaugurado em 29 de abril.
Mas antes da abertura, o local já recebia desde 1917 exposições sobre a indústria, o comércio e a agropecuária paulistas, além de mostras artísticas.
O palácio seguiu sendo utilizado para exposições até 1947, quando virou a sede da Assembleia Legislativa -na época, recebeu o nome de Palácio Nove de Julho, em homenagem à Revolução Constitucionalista de 1932.
Com a mudança da Assembleia para o Ibirapuera, em 1968, o espaço recebeu diversos órgãos públicos, como o Corpo de Bombeiros e o 1º Distrito Policial. Com isso, perdeu algumas de suas características arquitetônicas originais, mais voltadas para exposições.
Ricardo Pisanelli, atual curador do Museu Catavento, destaca a importância dos diversos usos que o palácio teve. “Ele se torna representativo da história do último século da metrópole, porque ele foi construído no momento em que São Paulo estava vivendo um boom populacional no início do século 20”, afirma.
Pisanelli conta que São Paulo foi importante em dois momentos. Quando a cidade foi criada, teve uma posição estratégica para interiorizar o Brasil. Depois, ela viveu até um momento de esvaziamento, quando se descobriu ouro em Minas Gerais.
“Quando as fazendas já estavam produzindo café, São Paulo ficou estratégica porque era um ponto perto do escoamento da produção do café. Todos os cafeicultores começaram a construir casarões em São Paulo, a indústria começou a ser implantada aqui”, afirma ele.
“Então, os cafeicultores, a indústria e essa elite também das ferrovias que implantaram, que traziam o escoamento da produção até São Paulo -daqui pra Santos e de Santos pro mundo-, começaram a construir toda a infraestrutura da cidade. Então, aí vem o Palácio, que já era fruto desse planejamento urbano da cidade”, explica Pisanelli.
Em 1982, o edifício foi tombado pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico) como patrimônio que integra a história econômica, política e cultural de São Paulo.
Já em 1989 surgiu o projeto para que o palácio fosse a nova sede da Prefeitura Municipal de São Paulo, sob gestão de Luíza Erundina (então no PT, hoje no PSOL).
Com isso, se iniciou o restauro do espaço, que foi liderado pela arquiteta modernista ítalo-brasileira Lina Bo Bardi. A reforma teve como objetivo preservar a tão característica arquitetura eclética idealizada nos primórdios por Rossi.
O palácio se manteve como sede da prefeitura até 2004, e depois passou alguns anos vazio. Até que em 2007 o então governador José Serra (PSDB) decidiu ceder o espaço ao Museu Catavento. As portas só foram abertas ao público em 2009, após um novo restauro.
“O Catavento devolve ao edifício o seu uso original de pavilhão de exposições. Ele tem uma descaracterização total. Quando vem a prefeitura, a Lina Bo Bardi devolve essa arquitetura original do prédio. Vem depois o uso como museu de ciências, como devolvendo essa função primeira que ele foi construído para exposições sobre ciência e tecnologia”, finaliza o curador.
Nesta segunda (29), o Museu Catavento realizará um evento para comemorar o centenário do local e lançar uma programação cultural dedicada ao assunto. Ao longo do ano haverá oficinas, palestras e workshops. Em setembro, será inaugurada uma exposição sobre a trajetória dos 100 anos do edifício.
PATRÍCIA PASQUINI / Folhapress