RIBEIRÃO PRETO, SP (FOLHAPRESS) – O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) acenou aos seus aliados Tarcísio de Freitas (Republicanos) e Ronaldo Caiado (União Brasil), governadores de São Paulo e Goiás, respectivamente, e disse que, caso não retorne ao cargo, plantou “sementes”.
As afirmações foram feitas nesta segunda-feira (29) em Ribeirão Preto (a 313 km de São Paulo), onde Bolsonaro participou do primeiro dia de visitação pública da Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação).
O ex-presidente voltou a utilizar um evento oficial do Governo de São Paulo na Agrishow para discursar aos presentes ao evento.
“Vamos em frente, nós acreditamos em vocês, nós acreditamos no Brasil e, se eu não voltar um dia, fiquem tranquilos. Nós plantamos sementes ao longo desses nossos quatro anos”, afirmou Bolsonaro ao término do seu discurso de dez minutos. Ele foi o último a discursar.
Em seguida, apontou para Caiado e disse que “tem sementes mais velhas também” […] “com condições de germinar e dar bons frutos ao país”.
Antes, ao abrir o discurso, elogiou Tarcísio pela gestão em São Paulo e a atuação em seu governo.
“Ouso dizer que podemos ter alguém [no futuro, em São Paulo] igual a ele, melhor muito difícil”, disse o ex-presidente.
Fora da abertura oficial, realizada no domingo (28) e restrita a autoridades, expositores e imprensa, Bolsonaro esteve na feira agrícola no primeiro dia aberto aos visitantes e, a exemplo do que fez em 2023 -quando a cerimônia inaugural foi cancelada por conta de um imbróglio que o envolveu.
Ao discursar, enumerou medidas que tomou em seu governo e criticou o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ao perguntar se os participantes se lembravam de cinco nomes de ministros do atual governo. Disse que isso não ocorreria por falta de qualificação ou de moral para ocupar os cargos dos atuais ministros.
Antes dele, Tarcísio discursou e qualificou Bolsonaro como um presidente reformista, visionário e que sempre valorizou e foi parceiro do agronegócio.
No evento, foram entregues chaves de tratores a beneficiados pelo programa Pró-Trator e títulos de regularização fundiária.
Depois do ato, Bolsonaro, com Caiado a sua direita e Tarcísio a esquerda, desfilaram pelas ruas da Agrishow na caçamba de uma camionete.
No ano passado, a abertura oficial foi cancelada pela organização após o ministro Carlos Fávaro (Agricultura) ter se sentido “desconvidado” de participar da cerimônia ao ser informado que Bolsonaro estaria nela.
O episódio gerou um mal-estar entre a feira e o governo Lula, que ameaçou cortar patrocínio do Banco do Brasil ao evento -o que acabou não ocorrendo. A Agrishow é organizada por Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), Anda (Associação Nacional para Difusão de Adubos), Faesp (Federação da Agricultura e da Pecuária de SP) e SRB (Sociedade Rural Brasileira).
Sem o ato inaugural, Bolsonaro -então em sua primeira viagem pelo país após retornar de um período de três meses nos Estados Unidos- disse no palco do auditório do espaço do governo paulista na feira que o agronegócio “precisa de políticos que não atrapalhem” o setor e criticou homologações de terras indígenas assinadas por Lula, a quem chamou de “cidadão que está no Palácio”.
Bolsonaro está em Ribeirão desde domingo (28). No mesmo horário em que discursavam o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), outros três ministros de Lula e representantes de associações ligadas ao agro, o ex-presidente fazia um ato na zona sul da cidade com políticos como o próprio Tarcísio, que subiu ao caminhão de som para discursar.
A ausência do governador foi criticada por dirigentes de entidades presentes no auditório em que ocorreu a cerimônia de abertura da feira.
Para eles, Tarcísio deveria ter respeitado a liturgia do cargo que ocupa e comparecido por ser o governante máximo de São Paulo, num evento que acontece numa fazenda pertencente ao governo paulista. Nos discursos, o governador só foi lembrado por seu secretário da Agricultura, Guilherme Piai.
A Agrishow (Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação) será realizada até sexta-feira (3) em Ribeirão Preto, com 800 marcas expostas em seus mais de 25 quilômetros de ruas e a expectativa de receber cerca de 200 mil visitantes. A previsão é que as intenções de negócios gerados na feira seja equivalente ao recorde obtido no ano passado (R$ 13,7 bilhões, em valor atualizado pela inflação).
MARCELO TOLEDO / Folhapress