SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Entre todas as TIs (terras indígenas) do país, Kulina do Médio Juruá, no Amazonas, e Wajãpi, no Amapá, são as que tem a maior população de pessoas com até 14 anos, de acordo com o Censo Demográfico 2022, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).
Uma nova atualização do levantamento, divulgada nesta sexta (3), apresentou dados detalhados sobre sexo e idade nesses territórios.
Segundo o censo, Kulina do Médio Juruá possui 1.579 indígenas de 0 a 14 anos, o que representa 56,1% de toda a população que vive no território com 730 mil de hectares. A TI ocupa os municípios de Eirunepé, Envira, Ipixuna e Tarauacá -este último no Acre.
Ainda conforme o levantamento do IBGE, a TI concentra 571 pessoas de 15 a 29 anos, 563 indígenas de 30 a 59 anos, e 101 anciões com mais de 60 anos.
A TI Waiãpi, no oeste do Amapá, possui 958 pessoas de 0 a 14 anos, o que representa 57,5% do total da população desta etnia. Com 607 mil hectares, o território fica localizado dentro da maior unidade de conservação do país, o parque Nacional Montanhas do Tumucumaque, e ocupa os municípios de Pedra Branca do Amapari, Laranjal do Jari e Mazagão.
O censo aponta, ainda, que a TI tem 408 pessoas de 15 até 29 anos, 259 indígenas de 30 a 59 anos, e 40 anciões com mais de 60 anos.
O cacique Aikyry Wajãpi, 50, presidente da Associação Indígena Wajãpi (AIW), conta que ter mais filhos foi uma estratégia adotada no território para manter as futuras gerações. O líder afirma que quando o sarampo chegou na região, os indígenas quase foram dizimados.
“O número de jovens está aumentando porque no passado, antes do contato com o não indígena, teve epidemia de sarampo. Não tinha remédio, então a doença matou nossos pais. Depois disso, sobraram só 153 wajãpis. Aos poucos fomos recuperando, há uns 10 ou 15 anos. Então, nesse período, aumentou a reprodução de mais crianças. E agora tem mais jovens”, afirmou.
Atualmente, no território com cerca de 100 aldeias do povo wajãpi, os indígenas são organizados em quatro associações (AIW, Apiwa-tá, Awatac e Apina), que promovem seminários e formações aos jovens, para que, no futuro, se tornem lideranças e mantenham a cultura.
“Se a gente não repassa nossa força, a nossa luta, a gente vai levar tudo quando morrer, e os jovens ficam sem a luta, sem a arma. Então, nós também nos preocupamos com nossa cultura. Nós repassamos a nossa cultura material e imaterial. O papel dos jovens, hoje em dia, é aprender o conhecimento ancestral e o conhecimento do não indígena, como a tecnologia”, disse o cacique.
Redação / Folhapress