SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Após meses ameaçando uma ofensiva terrestre em Rafah, Israel ordenou, nesta segunda-feira (6), o esvaziamento de partes dessa cidade lotada de refugiados palestinos ao sul da Faixa de Gaza. A estimativa é que cerca de 100 mil pessoas tenham que se deslocar, segundo um porta-voz militar.
A ordem acontece após um ataque do Hamas na passagem de Kerem Shalom, que dá acesso ao sul de Gaza e por onde passa ajuda humanitária, matar quatro soldados israelenses neste domingo (5). A ofensiva do grupo terrorista colocou mais uma camada de dificuldade nas negociações para um acordo de cessar-fogo, que se arrastam há mais de uma semana.
Qatar, Egito e Estados Unidos mediam há meses negociações entre Tel Aviv e a facção palestina para tentar alcançar uma trégua nos combates. A ideia é que, assim como o cessar-fogo de novembro, o acordo troque palestinos que estão em prisões israelenses por reféns mantidos em Gaza desde o início da guerra, há quase sete meses.
As persistentes diferenças entre as duas partes, porém, têm dificultado a chegada a um consenso –a facção exige que a guerra termine após a libertação dos reféns, enquanto Israel rejeita tal possibilidade. As negociações devem prosseguir nesta segunda, em Doha, com a chegada do diretor dos serviços de inteligência de Washington, William Burns.
Com ou sem trégua, o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, prometeu que invadirá Rafah apesar das preocupações da comunidade internacional com o número de civis na cidade, o último refúgio para mais da metade da população de Gaza atualmente.
Pela rede social X, o Exército de Israel afirmou ter expandido a uma área humanitária em Al Mawasi, cidade localizada na costa a cerca de dez quilômetros de Rafah e que incluiria hospitais de campanha, tendas e estoques de alimentos, água e medicamentos.
“Chamadas para se mudar temporariamente para a área humanitária serão transmitidas por meio de panfletos, SMS, telefonemas e transmissões na mídia em árabe. O Exército continuará perseguindo o Hamas em toda a Faixa de Gaza até que todos os reféns que eles mantêm em cativeiro voltem para casa”, afirmou.
Durante meses, Israel ordenou que a população se retirasse do norte de Gaza, alvo da maior parte dos ataques de Tel Aviv e onde a situação humanitária é especialmente alarmante. Assim, centenas de milhares de pessoas se deslocaram em direção ao sul de Gaza, onde fica Rafah. A OMS (Organização Mundial da Saúde) estima que cerca de 1,5 milhão de pessoas se amontoam atualmente nessa cidade que, antes da guerra, era lar de cerca de 280 mil palestinos.
À agência de notícias AFP, um morador confirmou que algumas pessoas receberam mensagens de voz nos seus telefones convidando-as a sair da região.
Pouco depois do ataque do Hamas ao posto israelense, um bombardeio atingiu uma casa em Rafah, matando ao menos 16 pessoas, de acordo com médicos palestinos. O Exército de Israel confirmou o contra-ataque, dizendo que o alvo atingido foi de onde partiram os projéteis que atingiram Kerem Shalom, além de uma “estrutura militar” próxima.
Após uma noite sob bombardeios, um casal que mora em Rafah disse à AFP que soube da operação de retirada ao acordar. “Minha família e eu, 13 pessoas, não sabemos para onde ir”, declarou à agência Abdul Rahman Abu Jazar, 36, antes de destacar que as zonas humanitárias designadas pelo Exército já estão superlotadas.
Redação / Folhapress