‘Supertênis’ prometem reduzir tempo nas corridas, mas preço é obstáculo

SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – Tênis cada vez mais tecnológicos e eficientes, com placas de carbono na entressola para aumentar a estabilidade durante a prova, espumas especiais de amortecimento e diferença de altura entre o ponto do calcanhar e a ponta do calçado para impulsionar o corredor à frente.

Bem-vindo ao universo dos “supertênis”, como os novos calçados de provas de rua ficaram popularmente conhecidos pela comunidade do atletismo nos últimos anos. Eles prometem reduzir em até 4% o tempo de corrida de atletas profissionais.

Desde o lançamento do conceito, em 2017, os resultados nas provas melhoraram significativamente, para homens e mulheres, assinala Ricardo D’Angelo, treinador do medalhista olímpico Vanderlei Cordeiro de Lima. “Parece possível e provável associar a melhora do desempenho ao uso da tecnologia do calçado”, afirma.

Ao quebrar o recorde mundial da maratona feminina em Berlim no dia 24 de setembro de 2023, a etíope Tigst Assefa, 27, jogou os holofotes sobre os novos tênis de corrida da patrocinadora Adidas.

O calçado ultraleve da marca alemã, o Adizero Adios Pro Evo 1, tem um peso de apenas 138 gramas –o mais leve da categoria já lançado no mercado, segundo a empresa, que tem vendido o produto como um quebrador de recordes.

“A sensação de correr com o tênis é incrível, como nada que já senti antes. Eles me permitem focar totalmente a corrida, que é exatamente o que você deseja como atleta”, declarou Tigst, que pulverizou o recorde mundial feminino ao cravar o tempo de 2h11min53.

O “supertênis” é composto por uma espuma especial desenvolvida pela Adidas, chamada “Lightstrike Pro”, que promete mais retorno energético a cada passada do corredor e foi desenhado com uma inclinação maior no calcanhar do que na frente, de modo a empurrar o atleta para a frente.

O modelo representa o auge da inovação dos tênis de corrida já produzidos pela marca alemã, unindo as tecnologias mais avançadas que existem no mercado a um calçado ultraleve, diz Bárbara Ikari, gerente sênior de corrida da Adidas Brasil.

“Durante todo o processo de desenvolvimento, foram considerados insights de atletas profissionais em treinos e testes de campo realizados no Quênia e nos laboratórios da Adidas em Herzogenaurach, na Alemanha”, diz Ikari.

O par do novo modelo também chama a atenção pelo preço alto, que chega a R$ 4.000 no site oficial da marca, bem acima dos concorrentes –o similar Alphafly 3, da Nike, sai por cerca de R$ 2.500 mil, enquanto o FuelCell SuperComp Elite v4, da New Balance, custa R$ 2.000.

O modelo da Nike é revestido com uma tecnologia na parte dianteira do pé chamada “air zoom”, que se utiliza de ar pressurizado para proporcionar maior amortecimento e propulsão, com a placa de fibra de carbono na entressola e a espuma especial trazendo conforto e estabilidade nas passadas.

“Quando experimentei o novo Nike Alphafly 3 pela primeira vez, pensei: ‘É isso'”, declarou Kelvin Kiptum, detentor do recorde mundial da maratona, estabelecido com o novo calçado, em Chicago, em outubro de 2023, com o tempo de 2h00min35.

Kiptum morreu em fevereiro, após um acidente de carro no Quênia, deixando mais distante o cenário de um corredor completando a maratona em menos de duas horas.

“Estamos confiantes de que o sistema de velocidade da Nike é nossa vantagem competitiva. Ele combina unidades air zoom, espuma e placas de fibra de carbono. Juntos, todos esses elementos impulsionam o Alphafly e podem contribuir significativamente para melhorar o desempenho dos corredores, reduzindo seus tempos de corrida”, diz Aline Cupido, gerente sênior de marca e líder de corrida da Fisia, distribuidora oficial da Nike no Brasil.

Diretor de produtos da New Balance, Jonas Rocha explica que a entressola do FuelCell SuperComp Elite v4 se valeu da infusão de uma espuma elástica, leve e resistente, chamada Pebax, feita a partir de um material plástico chamado polímero, de modo a gerar maior retorno de energia na passada, com a placa de carbono agregando estabilidade.

“É o calçado mais tecnológico da marca e pensado principalmente para os corredores mais avançados que buscam bater seus recordes pessoais ou querem um calçado mais veloz para o dia da prova”, afirma Leandro Moraes, diretor de marca da New Balance.

De valor mais acessível, a Oympikus lançou em março o Corre Supra, o primeiro “supertênis” fabricado por uma marca brasileira, com preço sugerido de R$ 1.200.

Segundo Márcio Callage, diretor de marketing da Olympikus, a proposta da marca é democratizar o acesso aos “supertênis” na comunidade brasileira do atletismo.

Além da diferença de altura nas extremidades e da espuma especial Pebax, o modelo possui uma placa de fibra de carbono exclusiva, a Carbon G via Toray, revestida com grafeno líquido, o que aumenta a propulsão e resistência do calçado, diz Callage.

Já o solado do tênis contou com uma parceria com a JV International, licenciada mundial da Michelin, que colaborou com a elaboração do design e o material, resultando em uma superfície que adere tanto em solo seco quanto em úmido, dando mais estabilidade ao atleta, afirma o diretor da marca.

“Queremos mostrar que a gente pode competir com as marcas internacionais de igual para igual no desenvolvimento e fabricação dos “supertênis” no Brasil”, afirma Callage.

LUCAS BOMBANA / Folhapress

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