SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – A Bolsa brasileira fechou com leve baixa de 0,03%, aos 128.465,69 pontos, nesta segunda-feira (6), início da semana que guarda definições sobre a taxa Selic.
Já o dólar, em sessão estável, fechou com alta de 0,08%, cotado a R$ 5,0741 na venda.
O mercado segue cauteloso quanto às decisões de política monetária do BC (Banco Central), que se reúne já nesta terça e deve anunciar a definição sobre a taxa básica de juros do país na quarta-feira. A expectativa é que o Copom (Comitê de Política Monetária) comece a desacelerar o ritmo de cortes na Selic em virtude da incerteza elevada no exterior e no cenário doméstico.
Por cinco reuniões seguidas, o entendimento entre o Comitê foi unânime no corte de 0,5 ponto percentual. Hoje, a taxa está em 10,75% ao ano. E, em março, sinalizou que iria repetir a intensidade da redução na reunião de maio, “em se confirmando o cenário esperado”.
Mas a análise é que dificilmente os nove integrantes do colegiado anteviram que a inflação dos Estados Unidos fosse ficar acima do esperado em março, tampouco que o governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fosse mudar a meta fiscal de 2025 no último mês.
O cenário impulsionou o dólar, que bateu R$ 5,27 em abril, o que tende a pressionar a inflação. Além disso, a baixa taxa de desemprego e a alta na geração de vagas formais, em meio ao aumento real de renda, podem impactar os preços.
Agora, investidores se dividem sobre qual será o tamanho do corte na taxa Selic: se 0,50 ponto percentual, se 0,25.
No Boletim Focus desta segunda, economistas ouvidos pelo BC projetam um corte de menor magnitude nesta semana. As estimativas foram elevadas para 10,50% ao final de maio, interrompendo uma sequência de 38 semanas em 10,25%.
Para Alexsandro Nishimura, economista e sócio da Nomos, há ainda a preocupação adicional sobre as chuvas no Rio Grande do Sul, que já deixaram 83 mortos e 111 desaparecidos.
Os desastres naturais podem refletir sobre “a inflação, possíveis quebras de safras agrícolas e até mesmo sobre os gastos do governo para ajudar na reconstrução do estado”.
O cenário trouxe alta aos juros futuros, que inibiram o apetite por risco na Bolsa -cenário oposto do visto no exterior, que teve pregões positivos nos Estados Unidos e na Europa.
As taxas dos DIs para janeiro de 2025 estavam em 10,23% neste final da tarde, ante 10,149% do ajuste anterior. Para janeiro de 2026, foram para 10,44%, ante 10,321%.
No longo prazo, a taxa para janeiro de 2028 foi para 11,035%, ante 10,925%. O contrato para 2031 foi de 11,377% para 11,45%
Entre os destaques do Ibovespa, os papéis da Braskem lideraram as quedas com recuo de 14,53%, após o anúncio de que a Adnoc (Abu Dhabi National Oil Company, estatal de petróleo de Abu Dhabi) desistiu de negociar a compra da fatia da Novonor na empresa.
A Adnoc havia apresentado em novembro uma oferta não vinculante pela participação da Novonor na petroquímica brasileira que implicava um preço por ação de R$ 37,29, totalizando um valor de R$ 10,5 bilhões.
Empresas ligadas ao setor de frigoríferos, como Marfrig, Minerva e BRF, também estiveram entre as maiores quedas, “diante das projeções de alta dos preços do milho, puxado pela quebra na safra do estado e escoamento da produção”, diz Nishimura.
Entre as altas, Petrobras subiu 0,67%, em dia de valorização dos preços do petróleo do exterior, com o barril do Brent cotado a US$ 83. Já a Vale, uma das empresas de maior peso no Ibovespa ao lado da petroleira, avançou 0,30%, endossada pelos futuros do minério de ferro na China.
Itaú também fechou no positivo, com alta de 0,62%, antes da divulgação do balanço do primeiro trimestre.
Olhando para o dólar, a expectativa é que possa haver uma leve correção nos próximos pregões após uma semana que favoreceu o real.
“Tanto o otimismo quanto o pessimismo nos mercados são testados e confrontados com os indicadores econômicos, e é isso que observaremos nos próximos dias”, disse Diego Costa, chefe de câmbio para Norte e Nordeste da B&T Câmbio.
Segundo ele, o foco da semana estará em falas de autoridades do Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), depois que, na semana passada, o presidente da autarquia, Jerome Powell, praticamente descartou a possibilidade de novas altas dos juros este ano.
Além disso, dados de emprego mais fracos do que o esperado de sexta (3) elevaram o otimismo global. Segundo o Departamento do Trabalho dos EUA, a economia do país abriu 175 mil vagas fora do setor agrícola no mês passado. A previsão de economistas consultados pela Reuters era de 243 mil vagas. Os dados de março, no entanto, foram revisados para cima.
Na esteira, operadores elevaram as apostas de que o Fed realizará o primeiro corte na taxa de juros em setembro, com parte dos mercados que via esse movimento apenas a partir de novembro antecipando suas projeções.
Probabilidades implícitas em contratos futuros de juros apontam agora para cerca de 78% de um corte nos juros na reunião do banco central dos EUA em meados de setembro, acima dos 63% registrados antes do relatório.
Os operadores também estão agora projetando dois cortes de 0,25 ponto percentual pelo Fed este ano, em comparação com um esperado antes da divulgação dos dados.
Para a economista Claudia Rodrigues, do C6 Bank, os novos dados ainda mostram pon tos de pressão sobre a inflação, apesar da desaceleração. Ela aponta, como exemplo, que o ritmo de contratações nos últimos 12 meses ainda mostra um mercado de trabalho aquecido.
Em resposta, o dólar registrou mais uma sessão de forte queda na sexta, a 0,83%, cotado a R$ 5,09. Os novos números também impulsionaram a Bolsa, que subiu 1,09% e recuperou os 128 mil pontos.
Na semana passada, a moeda americana acumula recuo de 0,91%, e o Ibovespa, alta de 1,57%, aos 128.516 pontos. Como pano de fundo, otimismo sobre o futuro dos juros americanos e a mudança de perspectiva de crédito do Brasil pela agência de risco Moody’s apoiaram a Bolsa e pressionaram o dólar.
Redação / Folhapress