BRASÍLIA, DF (FOLHAPRESS) – O município de Eldorado do Sul teve praticamente toda a cidade submersa pela água. A estimativa da prefeitura é que 30 mil dos 40 mil habitantes tenham sido afetados pela enchente que assola o Rio Grande do Sul.
Parte dos moradores passou os últimos dias acampada às margens da BR-290, na saída da cidade, à espera de resgate. Eles conseguiram deixar suas casas, mas não puderam buscar abrigo seguro porque a cidade ficou isolada.
Localizado a 12 quilômetros da capital, Porto Alegre, o município ficou sem acesso terrestre após as chuvas intensas terem elevado o nível do rio Jacuí e do lago Guaíba, que cercam a cidade.
De um lado, o trecho da BR-116 e as duas pontes sobre o Guaíba, que conectam o município à capital, estavam bloqueados até a tarde desta segunda-feira (6) -duas embarcações rebocadoras colidiram com as estruturas, que haviam sido interditadas por segurança.
De outro lado, a BR-290, em direção ao município de Guaíba, ficou submersa. A correnteza das águas no local dificultava a passagem de veículos.
A via alternativa, pela chamada Estrada do Conde, também ficou interditada. Um viaduto na zona central de Eldorado foi danificado.
“Até hoje [segunda] de manhã, só tinha resgate via helicóptero. Todas as rodovias ficaram interrompidas”, disse à reportagem o vice-prefeito da cidade, Ricardo Alves.
Na manhã desta segunda, equipes do município de Guaíba conseguiram atravessar o trecho inundado da BR-290 com o uso de caminhões de grande porte e veículos militares.
A liberação das pontes sobre o Guaíba também facilitou o resgate de moradores para abrigos em Porto Alegre.
Segundo o vice-prefeito, a situação do município é dramática. Muitas pessoas escolheram ficar no segundo andar de suas casas, ainda que sem luz, água, sinal de telefone ou internet. Nesta segunda, as Forças Armadas ajudaram a levar de helicóptero suprimentos como alimentos, água e medicamentos para os moradores.
“Minha casa desapareceu”, conta Alves. Ele se abrigou na casa de familiares em Porto Alegre -segundo ele, uma decisão estratégica para manter contato com autoridades do governo do estado.
No domingo (5), o prefeito de Eldorado do Sul, Ernani de Freitas Gonçalves, que continua na cidade, afirmou em entrevista à Rádio Gaúcha que a situação é de “extrema calamidade”. “Acabou o nosso município”, disse na ocasião.
Na entrevista, ele descreveu um cenário de guerra na cidade, com carros submersos, saques a mercados e farmácias e estoques de mercadorias perdidos na enchente.
A prefeitura de Guaíba informou que o município e outros da região, como Sertão Santana e Sentinela do Sul, já abriram quase 40 alojamentos emergenciais e receberam mais de 8.000 pessoas -incluindo moradores de Eldorado do Sul e de bairros inundados em Guaíba.
No município, escolas, igrejas e o campus da Ulbra (Universidade Luterana do Brasil) foram transformados em abrigos. A comunidade local tem organizado doação de alimentos, roupas, colchões, medicamentos e kits de higiene.
Na manhã de sábado (4), quando o Guaíba já recebia desabrigados de outras localidades, o transbordamento das águas do Jacuí e de lavouras de arroz próximas provocaram pânico e correria nos bairros Santa Rita e Cohab, entre os mais populosos do município.
Moradores relataram em redes sociais que o nível da água subiu rapidamente. Alguns conseguiram deixar o local a pé, com a água já na cintura. Outros foram resgatados de barco ou helicóptero.
Segundo a prefeitura, as equipes da Defesa Civil, da Brigada Militar, do Corpo de Bombeiros e voluntários seguem fazendo resgates dos moradores desses bairros. “As autoridades fazem apelo para que todos os moradores das áreas de risco saiam de suas residências, pois, infelizmente, há aqueles que negam o resgate”, diz o município, em nota.
O número de mortos por causa das enchentes chegou à marca de 85 mortes neste domingo e pode aumentar ainda mais nos próximos dias, pois há um total de 111 desaparecidos, além de 276 feridos.
Do total de 497 municípios do estado gaúcho, 345 foram afetados pelas fortes chuvas da região. O governo federal reconheceu estado de calamidade pública em 336 deles.
No domingo (5), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve no Rio Grande do Sul pela segunda vez em uma semana.
Ele foi acompanhado por uma comitiva de ministros, pelos presidentes do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), do TCU (Tribunal de Contas da União), Bruno Dantas, e pelo vice-presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Edson Fachin.
Lula sobrevoou a capital, Porto Alegre, e localidades da Região Metropolitana afetadas pela enchente recorde. Em seguida, ele prometeu ajuda federal ao estado.
IDIANA TOMAZELLI / Folhapress