SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS0 – O fechamento de um aeroporto pelo período de quase um mês, como está prevista a interrupção nas operações do Salgado Filho, em Porto Alegre, é sem precedentes na história da aviação brasileira, segundo especialistas ouvidos pela reportagem.
O aeroporto internacional de Porto Alegre foi fortemente atingido pela inundação que toma conta de boa parte da capital gaúcha desde a semana passada.
A Fraport Brasil, empresa que administra o local, interrompeu por tempo indeterminado todos os pousos e decolagens na última sexta-feira (3), quando a pista ainda não estava tomada pela água, após companhias aéreas suspenderem voos para Porto Alegre.
Não levou muito tempo para a pista sumir no meio da água, que atingiu os terminais. Há imagens das cadeiras na sala de espera para embarque e escadas rolantes no meio da inundação.
No sábado (4), quando a água invadiu o local, o terminal de passageiros foi fechado e o aeroporto acabou evacuado. Um cargueiro e aeronaves executivas ficaram no alagamento.
A Anac (Agência Nacional de Aviação Civil), com ressalva de ter sido criada há 18 anos, diz não ter localizado histórico de caso semelhante no país.
“Sabe-se que eventos dessa natureza e magnitude são mais comuns nos Estados Unidos, em regiões com ocorrência de furacões e tempestades”, afirma a agência, em nota.
Marcus Quintella, diretor do centro de estudos FGV Transporte, lembra que paralisações em aeroportos no país são pontuais, como em casos de greves. Até mesmo no exterior, em regiões sujeitas a catástrofes, não são tão longas, reforça ele.
“Já peguei caso de nevasca em Nova York, mas no outro dia o aeroporto voltou a funcionar, são paralisações intermitentes”, afirma.
Quintella compara o fechamento do Salgado Filho a eventos de guerra -cita, por exemplo, o aeroporto da cidade de Dnipro, no leste da Ucrânia, que em março passado sofreu uma “destruição maciça” após dois bombardeios russos.
O especialista ainda lembra de ventos de até 150 km/h que arrastaram um avião e provocaram a suspensão de mais de cem voos no Aeroparque, em Buenos Aires, no fim do ano passado –horas depois a pista estava liberada novamente.
Questionada sobre se já começou a fazer uma avaliação das áreas atingidas no aeroporto gaúcho, a concessionária Fraport Brasil afirmou nesta terça-feira ainda não ter a dimensão do impacto na infraestrutura do aeroporto.
Em entrevista à TV Globo, o ministro Sílvio Costa Filho, titular da pasta de Portos e Aeroportos, também disse não conseguir dimensionar o dano. “É preciso ver a situação da pista, da torre de controle, da inuminação”, afirmou.
Costa, que participou de uma reunião nesta terça-feira no Palácio do Planalto para tratar da catástrofe em Porto Alegre, publicou em suas redes sociais que, entre outras ações, a estatal Infraero, que administra aeroportos como o Santos Dumont, no Rio de Janeiro, disponibilizará funcionários para trabalhar no Salgado Filho.
REFLEXOS PELO PAÍS
A paralisação na capital gaúcha, explica Quintella, reflete em outros aeroportos do país, principalmente em São Paulo e no Rio de Janeiro.
De acordo com a Aena Brasil, que administra Congonhas, diz que apenas do aeroporto até a semana passada eram realizadas, diariamente, de 45 a 50 operações entre os aeroportos de Congonhas e Porto Alegre, incluindo pousos e decolagens. Todos esses voos estão suspensos até o fim do mês.
Nos planos do governo para o Rio Grande do Sul, sem seu principal aeroporto, é ampliar a malha aérea no estado. A ideia é usar sete aeroportos próximos de Porto Alegre para operar 150 voos semanais.
Luiz Afonso Senna, professor da Escola de Engenharia da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) e doutor na área de transportes, disse à Folha que o impacto da inundação no aeroporto gaúcho é devastador.
“O Salgado Filho é um hub, o último grande aeroporto do país com mais conexões”, afirma Senna, em referência à localização próxima de países como Argentina, Chile e Uruguai.
A concessionária Fraport Brasil, responsável pelo aeroporto, indicou na segunda (6) que ainda não há uma data prevista para a reabertura. Companhias aéreas como Latam e Gol já anunciaram a suspensão de voos até 30 de maio para Porto Alegre.
Sem estimar prazos ou mensurar prejuízos, por “considerar impossível de ser fazer agora”, o diretor do centro de estudos FGV Transporte diz acreditar que o Salgado Filho não ficará muito tempo fora de operação.
“Acredito que a recuperação vai ser feita rapidamente, porque o aeroporto é administrado por uma empresa privada interessada que voltem os voos, inclusive por questões humanitárias”, diz.
Em entrevista a jornalistas na segunda-feira (6), o ministro Costa Filho, mencionou a possibilidade de o governo federal reavaliar o contrato de concessão com a Fraport Brasil e que conversou sobre o tema com o ministro Bruno Dantas, presidente do TCU (Tribunal de Contas da União).
FÁBIO PESCARINI / Folhapress