Inundação em Arena e Beira-Rio torna retorno imprevisível e ameaça campos

PORTO ALEGRE, RS (UOL/FOLHAPRESS) – A situação dos gramados do Beira-Rio e da Arena do Grêmio é imprevisível. Os campos de Inter e Grêmio podem ser destruídos e o estrago chegar até a drenagem, ocasionando um processo lento de retomada.

Tanto a Arena do Grêmio quanto o Beira-Rio foram atingidos em cheio pelas enchentes dos últimos dias em Porto Alegre e na região metropolitana da capital. Os gramados dos dois estádios estão debaixo d’água há dias.

Além disso, os dois Centros de Treinamentos também foram impactados. No caso do Inter, além dos campos, foram perdidas salas, equipamentos, estruturas de escritório e área social. No CT gremista, somente os gramados.

Para ter a dimensão de quando os times poderão recuperar seus locais de trabalho, o UOL consultou Gilmar Schafer, que é Professor de Floricultura da Faculdade de Agronomia, Departamento de Horticultura e Silvicultura da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

A grande dúvida sobre os gramados de Arena e Beira-Rio se deve ao nível da água. Só será possível medir o dano causado pela enchente depois que o volume diminuir. A previsão do Instituto de Pesquisas Hidráulicas (IPH) da UFRGS é que a cota de inundação, estipulada em 3 metros, demore aproximadamente 30 dias para ser atingida, contando que o volume de chuva não seja significativo durante o período.

“É importante se pensar em quanta água tem lá. Uma coisa é estar debaixo de 15 centímetros de água, outra é 60 centímetros. O calor também influencia bastante, porque a temperatura alta, mesmo que debaixo d’água, faz a grama crescer, querer sair da água. Isso acaba sendo um problema porque o excesso de água cria estresse na planta e ela vai sintetizando compostos que podem a matar”, diz Schafer.

“Outra coisa importante é o quanto de silte (fragmentos de rocha) e argila está junto com a água. Isso, além de danificar a grama, em campos de futebol também danifica a drenagem. Não sabemos tudo que contaminou este lodo, há muitos fungos e bactérias, ainda mais por se tratar de regiões urbanas. Tudo isso precisará ser tratado para depois atender a grama. Quando a água baixar, o sistema de máquinas estará operante? Poderá retirar o excesso? Não temos ideia”, completou.

“A grama dos estádios é extremamente resistente à submersão. Eu busquei uma referência bibliográfica e encontrei um trabalho feito nos Estados Unidos em que testaram 55 dias de submersão, que é um tempo muito grande, e após isso 73% da grama estava viva. Isso é uma ótima notícia. Num cenário bem otimista, após a água baixar, limpar o campo, falamos em uns 15 dias de recuperação. Contando que a grama sobreviva. Numa análise mais conservadora, de 25 a 35 dias.”

Se o gramado não resistir ao período submerso, o problema é maior. Então, será necessário trocar os gramados, criando alternativas que demandam mais tempo e dinheiro.

Existe um modelo de recolocação de grama que demora poucos dias para dar condições de jogo ao campo, mas é bem mais caro do que os demais. Neste modelo, adotado eventualmente na Neo Química Arena em partes afetadas por shows, se coloca uma camada grande de solo junto da grama, o que tende a dar problemas para drenagem. “Estamos chegando numa época de mais chuvas, este modelo poderia dar problema”, explicou Schafer.

A segunda possibilidade é a colocação de um gramado que já esteja sendo cultivado por produtores de grama, num processo que é adotado regularmente pelos clubes em partes do campo afetadas pela repetição de jogos. Normalmente, é um processo feito no verão e leva de 30 a 40 dias para dar condições de jogo, isso se o produtor tiver a quantidade de grama com solo de cultivo compatível à pronta entrega.

O que mais ele disse:

O pior cenário. “O pior cenário é se o depósito de silte e argila tenha comprometido o perfil do solo. Daí teriam que reconstruir o solo, levando de três a quatro meses para isso, tendo que retirar tudo e formar novas camadas. Mas creio que não é para tudo isso, a água que está ali deve ter vindo mais de sistema de abastecimento, não é uma água que circula por ali, ela se elevou pela cota de inundação. Acho que não chega a ser algo tão significativo, mas isso seria mutio pior.”

No CT é mais fácil. “No CT, os campos trabalham com uma grama bem mais tranquila e resistente. Ela tem um desenvolvimento impressionante e em questão de dias já se regenera. O problema ali será a compactação do solo. O mais importante nos CTs é a limpeza. Depois da água baixar e da limpeza feita, não foge de 15 a 30 dias para recuperar os gramados.”

Perigo com fungos e bactérias. “O solo é um reservatório de fungos e bactérias. Onde tem temperatura e água livre, se torna um prato cheio para eles. Quando baixar a água, o trabalho de recuperação tem que ser intenso com produtos que tratem o piso e evitem qualquer tipo de infecção.”

MARINHO SALDANHA / Folhapress

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